A cantora carioca Ilessi tem três álbuns lançados, sendo que os dois últimos foram divulgados neste ano. Com os pés no futuro – Ilessi e Diogo Sili interpretam Manduka chegou ao público em janeiro passado. Dez meses depois, a artista apresenta Dama de espadas, no qual grava pela primeira vez um repertório autoral. Ilessi canta as músicas do disco em live nesta quinta-feira (22), às 22h, no YouTube da gravadora Rocinante.
O álbum é derivado de um show homônimo de 2017. ''Esse é um disco que tinha que acontecer. Numa das apresentações, Sylvio Fraga assistiu e me convidou para gravar. É o primeiro disco com as minhas composições, construído coletivamente nos ensaios e em estúdio com uma banda genial que me entendeu muito profundamente'', conta ela.
Composto por 11 faixas, o trabalho abarca o jazz e o blues de forma contemporânea, e as letras não deixam de lado temas da ordem do dia, como o racismo e outros tipos de preconceito. O repertório inclui músicas compostas por Ilessi com parceiros como Iara Ferreira, Jorge Andrade, Simone Guimarães e Thiago Amud.
''Nesse trabalho, eu me lanço ao risco no meu canto, catártico e revelador. Somos eu, minha criação e meu olhar sobre o mundo, com minhas dores, meus afetos e minhas vitórias''
Ilessi, cantora e compositora
FOGO
''Nesse trabalho, eu me lanço ao risco no meu canto, catártico e revelador. Somos eu, minha criação e meu olhar sobre o mundo, com minhas dores, meus afetos e minhas vitórias. Minha espada de justiça libriana Atena, minha lua escorpiana apaixonada, meu fogo marciano transformador'', explica.Primeiro single do trabalho, Oração pro Gil foi composta por Ilessi em 2016 com a intenção de emanar vibrações de cura para o cantor e compositor baiano Gilberto Gil, então internado com graves problemas de saúde. A gravação foi feita três anos depois, em setembro de 2019, com os músicos baianos Gabi Guedes e Kainan do Jêje.
''Essa música tem uma característica muito forte, que é a silabação. Para fazer isso, eu me inspirei nos discos que o Gil gravou durante a década de 70. É uma forma livre de expressão que não se prende ao resultado final. O segredo dessa música é que eu a fiz pensando como se fosse ele cantando, inspirada na própria forma de ele compor'', conta ela, que não sabe dizer se o músico ouviu a canção.
O repertório também conta com Ilê de luz, composta por Suka e Carlos Lima e gravada por Caetano Veloso no disco Black chant (2001) do bloco de afoxé Ilê Aiyê. ''Negro sempre é vilão'', diz um dos versos da canção, que vai ao encontro da faixa Eu não sou seu negro, inspirada pelo documentário de mesmo nome dirigido por Raoul Peck e lançado em 2016.
''Essas músicas foram ganhando uma importância que eu nem imaginava. O assassinato de Ge- orge Floyd, do menino João Pedro e a morte dos pretos brasileiros que acontece todos os dias. Neste ano, parece que aconteceu uma explosão que ninguém aguenta mais isso'', diz Ilessi.
Ainda que seja um trabalho dedicado a apresentá-la como compositora, Dama de espadas reitera a força de Ilessi como cantora. Ela explora diferentes versões da mesma voz, que vai da calmaria (Desperto de você e Brejeira flor) ao enérgico (Ladra do lugar de fala).
Todas as faces dessa mesma moeda estarão presentes no show pré-gravado. Ilessi adianta que a apresentação será bastante fiel à que deu origem ao disco. ''Assim como foi para mim, acredito que esse show pode ser redentor para algumas pessoas. A gente que faz arte quer comunicar e, nesse período, todo mundo está necessitadodisso'', diz ela.
DAMA DE ESPADAS
• Ilessi
• Rocinante
• Disponível nas plataformas digitais
• Live nesta quinta (22), às 22h, no canal do Youtube da gravadora Rocinante (youtube.com/rocinanteoficial)