Em virtude da pandemia da COVID-19, 2020 tem sido um ano marcado pela interação em ambientes virtuais. Lives, encontros e comemorações via internet se tornaram comuns, na tentativa de amenizar o distanciamento social. Nesse cenário, a banda Gorillaz, formada no final dos anos 1990, ganha uma atualidade inédita: sua natureza virtual corresponde tanto às expectativas da segunda década do século 21 que a banda parece ter nascido ontem.
Na verdade, o projeto é tão multifacetado que até o termo banda não o define totalmente. Desde o álbum de estreia, lançado em 2001, o Gorillaz é apresentado como um grupo animado de jovens estranhos desenhados pelo cartunista Jamie Hawlett. Seus integrantes são: 2D, Noodle, Russel Hobbs e Murdoc Niccals. As músicas ficam a cargo de Damon Albarn, vocalista e líder do Blur, banda britânica de britpop.
Às vésperas de completar duas décadas de estrada, a dupla de artistas ingleses decidiu apostar num novo jeito de lançar músicas. Intitulado Song machine, o projeto dentro do projeto consiste em vídeos e músicas lançados como episódios de uma série. Os lançamentos culminaram no disco Song machine, season one: Strange timez, disponível nas plataformas digitais desde a última sexta-feira (23).
O primeiro episódio, lançado no final de janeiro passado, foi marcado pelo single Momentary bliss, parceria com o rapper Slowthai e o grupo de hardcore Slaves. Naturalmente, a faixa é uma mistura de estilos como hip-hop, punk, indie e rock psicodélico.
Um mês depois, o Gorillaz liberou o segundo episódio, contendo a música Désolé, que conta com os vocais da cantora Fatoumata Diawara, do Mali. O terceiro chegou em abril, com o lançamento de Aries, do qual participam Peter Hook, ex-Joy Division e New Order, e a cantora e produtora Georgia, nova voz da house music britânica.
Para o quarto episódio, lançado em junho, após uma pausa no projeto, Albarn e Hawllet tiveram a colaboração do rapper franco-britânico Octavian na faixa Friday 13th. No quinto, liberado em julho, com a música Pac-Man, quem aparece é o também rapper Schoolboy Q.
O sexto episódio, a faixa-título Strange timez, saiu no início de setembro e traz Robert Smith, do The Cure. Já o sétimo e último, liberado no início deste mês, contém o single The pink phantom, em parceria com Elton John e o rapper 6BLACK.
CONVIDADOS
Ao todo, o disco conta com 17 faixas e 24 convidados, entre músicos consagrados e outros em ascensão. Além dos já citados, aparecem nomes importantes como Beck (The valley of the pagans), St. Vincent (Chalk tablet towers) e Unknown Mortal Orchestra (Severed head).O trabalho carece de unidade e isso não é um defeito. Ao reunir convidados de diferentes campos da música, a primeira temporada do Song machine combina estilos – como hip-hop e reggae, soul e música eletrônica. O resultado é uma renovação do proposta do próprio Gorillaz, que nasceu como banda de trip hop.
Terceiro disco de estúdio do Gorillaz num intervalo de três anos, o projeto expande o que a banda fez em Humanz (2017), álbum que pôs fim a um jejum de sete anos sem lançamentos inéditos e é também repleto de participações especiais.
Por mais que o Gorillaz, quando surgiu, tenha confundido o público, nunca houve muita dúvida quanto à qualidade musical de seus trabalhos. O projeto de Damon Albarn e Jamie Hawlett segue atento ao que o mundo tem a oferecer e tem todo o potencial para redefinir o pop dessa nova década. Mas essas são cenas dos próximos capítulos.
SONG MACHINE, SEASON ONE: STRANGE TIMEZ
• Gorillaz
• Parlophone Records
• Disponível nas plataformas digitais
Róisín machine capricha no pop
Resultado de um processo de composição iniciado em 2019, o novo disco de estúdio da cantora, compositora e produtora irlandesa Róisín Murphy, Róisín machine, resgata o pop eletrônico dos anos 1970, 1980 e 1990 por meio de uma linguagem dançante e autoral. Produzido em parceria com Richard Barratt, o registro de 10 faixas concentra o que há de melhor na carreira da cantora, que começou como integrante da banda Moloko. É o caso dos singles Something more, Murphy’s law e Narcissus. Pensado para as pistas, esse é primeiro álbum da irlandesa desde Take her up to Monto (2016). Em sua discografia, a cantora conta ainda com os álbuns Ruby blue (2005), o elogiado Overpowered (2007) e Hairless toys (2015).