Jornal Estado de Minas

AUDIOVISUAL

CineBH leva para a internet mostra gratuita com 54 filmes


Com o tema “Arte viva: Redes em expansão”, começa nesta quinta-feira (29) a 14ª CineBHMostra de Cinema de Belo Horizonte, em versão totalmente on-line. A proposta da organização é ressaltar a diversidade de possibilidades de que a produção audiovisual desfruta atualmente, com a exibição gratuita de 54 filmes nacionais e estrangeiros. 





Paralelamente, o futuro da cadeia de produção do setor é tema de discussão no 11º Brasil CineMundi – International Coproduction Meeting.

A abertura, às 20h de hoje, será com uma performance artística de Josy Anne (atriz, cantora, e compositora), Nath Rodrigues (cantora, compositora e instrumentista), Ricardo Aleixo (poeta) e Marcelo Dai (cantor e multi-instrumentista), com trilha sonora do Barulhista. A transmissão será ao vivo.

Também participam do evento integrantes do Pandêmica Coletivo Temporário de Criação, iniciativa de uma rede de artistas espalhada pelo país para promover a criação cultural em tempos de quarentena. 

Em seguida, às 21h30, tem lugar a encenação de 12 pessoas com raiva, dirigida por Juracy de Oliveira e que adapta o texto 12 angry men, do dramaturgo e roteirista norte-americano Reginald Rose (1920-2002). 

O público poderá assistir pela plataforma oficial do evento, no site www.cinebh.com.br, onde também serão exibidos os filmes, debates e outros eventos paralelos à programação, a partir desta sexta-feira (30).





PRESENÇA

“No cotidiano, vivemos regimes de presença diversos há muito tempo. A internet radicalizou algo que já vem desde o telefone. Hoje falamos com pessoas em outros continentes, são graus a mais. Então, também podemos pensar que as artes da cena podem usar internet, as pessoas estão reparando quanto é possível”, afirma a pesquisadora de artes cênicas Daniele Ávila Small, convidada para integrar o time de curadores neste ano, ao lado dos críticos Pedro Butcher, Francis Vogner dos Reis e Marcelo Miranda, que afirma que “a temática não define os filmes, mas direciona olhos”.

De acordo com Miranda, “a escolha por essa relação entre artes visuais e audiovisual, por causa da da pandemia, possibilitou a descoberta de vários filmes com esse hibridismo de linguagem, mais impuro, com linguagens cinematográficas atravessadas pela performance, por imagens de arquivo, pintura, artes cênicas. Linguagens que vêm de fora do que é o cinema para dar uma nova carga”. 

Sendo assim, segundo ele, “todos os filmes que estão na mostra, em maior ou menor medida, têm esse encontro em suas feituras”. O crítico aponta ainda o caráter diverso, embora enxuto, da programação, dividida entre as mostras Contemporânea, com 10 longas e cinco curtas-metragens; A Cidade em Movimento, composta por trabalhos realizados em bairros e comunidades de Belo Horizonte; Diálogos Históricos, com objetivo de apresentar obras importantes na história do cinema, além da Mostra Temática, mais especificamente focada no tema principal e da Sessão Welket Bungué, dedicada aos curtas do artista nascido na Guiné Bissau.





“Optamos por um recorte conciso, tanto nos curtas, quanto nos longas. Na Mostra Contemporânea agregamos filmes muito diferentes, que para mais ou para menos dialogam com a própria história brasileira. Ou melhor, com a desconstrução da história brasileira e latino-americana, através de olhares alegóricos, poéticos, desiludidos para o que formou o Brasil ao longo dos séculos”, diz o crítico. 

Apesar das adversidades trazidas pela COVID-19, que segue impedindo aglomerações como as que costumavam acontecer nas edições anteriores da CineBH, com sessões e debates abertos ao público da capital mineira, a direção do evento comemora a possibilidade de não passar o ano em branco. 

“Um ponto importante é não deixar a lacuna, manter eventos anuais contínuos, com calendário, como um evento da cidade. Sobretudo um evento que tem conexão com mercado internacional, idealizado para trazer a indústria audiovisual para Minas. Neste momento da pandemia, é mais importante do que nunca trazer questões sobre mercado, exibição, possibilidade de coprodução, quando está havendo uma revolução em todos os setores da cultura”, afirma Raquel Hallak, diretora da Universo Produção e coordenadora-geral da Mostra CineBH e do Brasil CineMundi.





Estão programados 222 encontros (a distância) que apresentarão 23 projetos audiovisuais nacionais a profissionais da indústria audiovisual de 15 países. Para a coordenadora do evento, as dificuldades que o setor enfrenta atualmente no país tornam o Brasil CineMundi ainda mais importante neste ano. 

“Houve dúvida se realizaríamos o encontro, diante da ausência de políticas públicas para o audiovisual, com uma censura velada e a falta de condições como um todo para a modalidade atualmente. Mas, quanto mais deficiente, mais precisamos aumentar as parcerias e cooperações com outros países. Temos 30 convidados internacionais confirmados. São representantes de fundos de investimento, agentes de venda, distribuidores, produtores, que querem conhecer esses projetos em desenvolvimento para fazer negócios”, diz Hallak.

REPERCUSSÃO

Ela destaca o histórico do encontro de coprodução de encampar projetos que tiveram grande projeção posterior, citando Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, selecionado e premiado no Festival de Cannes, no ano passado, e Benzinho, de Gustavo Pizzi, vencedor do Festival de Gramado em 2018. 





Um dos destaques da programação da edição 2020 da CineBH dentro da Mostra Contemporânea é o longa Meu nome é Bagdá, de Caru Alves de Souza. Vencedor do prêmio do júri na mostra Generation do Festival de Berlim deste ano, o filme aborda questões de gênero atuais, ao mostrar a história de Bagdá (Grace Orsato), uma skatista de 17 anos que vive na Freguesia do Ó, bairro da periferia de São Paulo. 

Quando estava em fase de desenvolvimento, o projeto passou pelo Brasil Cinemundi, há três anos. “É um filme que estreou em Berlim, foi premiado e tinha toda uma carreira programada para 2020, que foi alterada pela pandemia, e fará sua estreia no Brasil aqui”, comenta Hallak.

O longa será um estudo de caso nos debates do evento e encerrará a programação, na segunda (2), com exibição on-line entre 21h30 e 23h59. Os demais filmes poderão ser vistos em qualquer horário, entre sexta-feira (30) e segunda-feira (2/11). 





A programação completa de filmes, debates, laboratórios, oficinas e masterclasses está disponível no site oficial do evento (www.cinebh.com.br). 

14ª CINEBH - MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE BELO HORIZONTE 
E 11º BRASIL CINEMUNDI - INTERNATIONAL COPRODUCTION MEETING 
Desta quinta-feira (29) a segunda-feira (2/11). Gratuito. Em www.cinebh.com.br.



PALAVRA DA CURADORIA

Confira destaques na edição 2020 da CineBH, apontados pelo crítico e curador Marcelo Miranda

Luz nos trópicos, de Paula Gaitán
“Um mega épico intimista, de quatro horas de duração, que olha para o passado da América e como ela se formou por opressões, acompanhando a trajetória afetiva de um indígena que atravessa um caminho. O filme esteve no Festival de Berlim e é enorme, mas certamente menor que muitas maratonas que as pessoas fazem na Netflix” 

(foto: Fábulas Negras Produções/Divulgação)


Cemitério das almas perdidas, de Rodrigo Aragão
“Rodrigo Aragão olha para essa história a partir de um livro amaldiçoado, que teria sido escrito pelo demônio na Europa e vem parar aqui por acaso, depois do naufrágio de uma caravela. Uma história que usa do horror e do fantástico para falar sobre muitas maldições que estão aí até hoje, em termos institucionais e sociais”

(foto: CINEBH/Divulgação)


Do pó ao pó, de Beatriz Saldanha
“Foi todo filmado em casa, no começo da pandemia, quase um ensaio alegórico sobre como a pandemia mexeu com a existência das pessoas. Um filme muito curtinho, muito direto, sobre como o efeito do que vivemos entre março e junho tem forte poder de enlouquecimento”

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