Jornal Estado de Minas

CINEMA

Longa alemão sobre trauma de infância estreia nesta quinta (5) em BH


A performance da atriz Helena Zengel – intensa, libertária, absolutamente sem qualquer barreira – é o ponto central de Transtorno explosivo, primeiro longa de ficção da cineasta alemã Nora Fingscheidt. O filme estreia nesta quinta-feira (5) em Belo Horizonte, com sessões às 16h20 e 18h50 na sala 4 do Cine Ponteio.  

Vencedor de vários prêmios – entre eles o Urso de Prata de contribuição artística no Festival de Berlim e o do júri da seção Novos Diretores da Mostra Internacional de São Paulo, ambos em 2019 – o longa foi ainda o representante da Alemanha para tentar uma vaga na categoria filme internacional do Oscar.





É uma narrativa incômoda, que deixa, até o final, o espectador dividido. Afinal, como se posicionar diante do impossível? Benni (Helena Zengel, que coprotagoniza, com Tom Hanks, News of the world, filme de Paul Greengrass previsto para estrear nos próximos meses), de 9 anos, é uma criança absolutamente fora do comum. É inteligente, irônica, amorosa com quem consegue se aproximar dela. E linda, mas seu ar angelical desaparece rapidamente, dando origem a uma figura insuportável.

Em decorrência de abusos sofridos na primeira infância, Benni tem explosões brutais de violência. Quando isso   acontece, o que é bastante comum, ela emite gritos agudos sem parar, ataca quem vê pela frente, deixa de respeitar qualquer barreira. São dois os gatilhos que transformam a menina: quando ela fica sabendo que não pode fazer o que quer e quando alguém toca seu rosto. Frequentemente, tem que ser amarrada e medicada.

É basicamente insuportável, ainda mais porque oferece riscos para os que estão perto. Praticamente está sozinha no mundo, pois todos desistiram dela. Inclusive sua mãe, uma mulher solteira e inepta que mal dá conta dos dois filhos mais novos. 





NEGATIVA

A única a lutar por Benni é a assistente social Maria Bafané (Gabriela Maria Schmeide). Determinada a encontrar um lugar para ela, se defrotna com inúmeras dificuldades. Dezenas de famílias e instituições para crianças já se negaram a acolher a menina, que mal frequenta a escola (“para retardados”, ela diz). Porém, ela é muito nova para ir para uma instituição de jovens. Enfim, não há o que fazer com Benni.

A chegada de Misha (Albrecht Schuch), seu conselheiro escolar, parece ter potencial para mudar as coisas. Com um passado aparentemente problemático, Misha se dedica a ajudar jovens. Em uma decisão que não encontra opositores (afinal, médicos, professores e assistentes sociais querem se livrar dela), ele decide passar uma temporada de três semanas com Benni em uma cabana sem luz e água potável, no meio de uma floresta.

A cineasta, cujos trabalhos anteriores são do gênero documental, mantém a câmera livre, assim como sua protagonista. São várias sequências que acompanham a correria da garota, que parece estar sempre à procura de liberdade e de quem a ame. Os planos-sequência de quando ela está em contato com a natureza são um contraponto aos primeiros planos, que exploram a personagem em meio aos ataques – a si própria e ao

Transtorno explosivo deixa o campo aberto para que o espectador faça o seu próprio juízo, ainda que pela maneira como  filme a história Nora Fingscheidt defenda um tratamento individualizado em detrimento da internação. Não há resposta fácil, e a recusa em seguir modelos é a afirmação de Benni até o final. Uma luz vem logo quando o filme termina, com os créditos acompanhados pela canção Ain't got no, I got life (Eu não tenho, eu tenho vida, em tradução livre), de Nina Simone. 




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