Após decretar o encerramento das atividades devido às consequências da pandemia da COVID-19, o café & coworking Guaja reformulou seu modelo de negócio para viabilizar a retomada. O espaço, fundado pelos irmãos Lucas e Bruno Durães, fechou parceria com duas empresas e prepara a reabertura prevista para janeiro de 2021.
O estabelecimento abriu em 2013 com a proposta de ser um dos primeiros coworkings do país, apostando na potência das conexões. Levando o nome Guajajaras Coworking, em homenagem à rua onde os irmãos nasceram no Centro de Belo Horizonte, o espaço de 120m2 contava somente com a estrutura do escritório compartilhado e as salas de reuniões.
Lucas, de 31 anos, relata as dificuldades de vencer a desconfiança dos mineiros nos primeiros anos. “A indústria do coworking ainda era muito incipiente. Era algo muito desconhecido da grande maioria das pessoas. Então, o nosso principal desafio foi o de educar o público sobre essa nova possibilidade”, comenta o arquiteto e co-fundador do Guaja. Anos antes da pandemia do novo coronavírus, os proprietários já apostavam no dinamismo digital e o trabalho a distância, atraindo freelancers, funcionários de pequenas empresas e trabalhadores de companhias com a sede fora de Belo Horizonte.
Aos poucos, o modelo de negócio foi se expandido e a sede, então na Rua dos Guajajaras, se tornou pequena para a demanda. No final de 2015, o Guaja se mudou para um espaço quatro vezes maior, no alto da Avenida Afonso Pena, combinando a estrutura de coworking, cafeteria e bar. A reformulação tinha o objetivo de possibilitar novas formas de interação.
“No coworking tradicional, por mais que as pessoas estivessem fisicamente juntas no mesmo espaço, isso não propiciava tantas conexões. Quando a gente fazia um happy hour, por exemplo, era o momento que as pessoas mais se conectavam. Então, a gente começou a perceber que a comida e a bebida são ferramentas muito importantes para suscitar essa interação entre as pessoas”, justifica Lucas.
A aposta surtiu efeito. Em 2019, cerca de 150 pessoas já haviam adotado o Guaja como local de trabalho diário. O bar fez sucesso a partir de um cardápio inovador com hambúrgueres e drinks, atraindo, em média, 250 clientes por dia. Ao longo dos anos, o espaço foi palco de novos projetos, workshops, palestras, eventos corporativos, lançamentos de livros, casamentos, aniversários e sessões de filmes, entre outros.
Entretanto, a pandemia da COVID-19 e as recomendações de distanciamento social pegaram os proprietários desprevenidos e o modelo de negócio – que implicava em aglomeração e cooperação – ficou inviabilizado. Em março deste ano, a atividade do Guaja se restringiu ao delivery, o que nunca havia sido sua prioridade. “Fizemos os cálculos e percebeu que, mesmo que fizesse muito sucesso no delivery, a conta não fechava. Foi muito por isso que a gente teve que tomar essa triste decisão de encerrar. Era necessário a gente diminuir nosso custo ao máximo”, revela Lucas.
Em maio, todos os 35 funcionários foram dispensados e o espaço anunciou o fechamento das portas (em nota publicada no site guaja.cc). “Foi muito triste porque ficamos durante sete anos levantando essa bandeira da aglomeração. A gente vendia a ideia que era legal estar num espaço cheio de gente para poder encontrar com pessoas novas e, de repente, tudo isso que era proibido de fazer”, lamente Lucas.
SUSTENTABILIDADE
A partir do comunicado, algumas empresas fizeram contato para viabilizar a retomada do funcionamento e, seis meses após o encerramento, o Guaja fechou parceria com a cervejaria belo-horizontina Sátira e a Casa Baanko, reformulando seu modelo de negócio neste tripé.
A Sátira assume a operação de restaurante e entretenimento, enquanto a Casa Baanko – organização que utiliza os objetivos do desenvolvimento sustentável para fomentar negócios de impacto – se muda para o mesmo endereço, deixando o terreno ainda mais fértil para o ecossistema empreendedor.
Desde novembro de 2019, Lucas Durães buscava a presença e a expertise de um grande operador do setor de bares e restaurantes para otimizar os serviços da casa. “A gente queria ter um parceiro justamente para poder tocar aquilo que a gente faz de melhor, que é a parte do coworking, educação, conteúdo, eventos e tudo mais, que era nosso principal objetivo desde sempre”, aponta Lucas.
Na última semana, teve início as reformas para adaptar a estrutura do espaço à nova demanda. Ao lado da Sátira e da Casa Banko, o Guaja cuida dos detalhes para reabrir o casarão na Avenida Afonso Pena em busca de novos encontros, projetos, aprendizados e happy hours. Cada parte vai contribuir para a construção de um “espaço único para Belo Horizonte”, que mantém toda sua essência: espaços de coworking, salas de reuniões, cursos, workshops e novos cardápios.
CARDÁPIO
A reabertura está prevista para janeiro de 2021, podendo ocorrer antes. O cardápio do restaurante será alterado pela Sátira, mas uma seleção de hambúrgueres e drinks remanescentes do antigo bar vão continuar sendo ofertados. O coworking vai seguir funcionando adotando protocolos de higienização, segurança e distanciamento.
Lucas Durães se diz confiante na retomada em meio à pandemia da COVID-19 e espera maior atenção dos clientes com as normas de segurança para evitar danos ao negócio. “A gente está tentando manter a cabeça erguida, sempre acreditando no futuro, porque é o jeito de a gente sair dessa. O importante nesse momento é equilibrar as coisas da melhor forma possível, atendendo às questões científicas e sanitárias, mas também tentando não deixar de lado aquilo que é importante para a cidade continuar sendo o que ela é”, conclui.
* Estagiário sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro
GUAJA
Avenida Afonso Pena, 2881, Funcionários
E-mail: coworking@guaja.cc Facebook e Instagram: @guaja.cc
Site: guaja.cc/