O objetivo é manter a produção teatral ativa neste caótico 2020. Assim, a Mostra de Artes Cênicas Tiradentes em Cena abre nesta quarta-feira (18) as cortinas em espaços virtuais e físicos para a apresentação de espetáculos até o próximo sábado (21).
A oitava edição da mostra estava agendada para maio passado e foi replanejada devido à pandemia de COVID-19. Aline Garcia, idealizadora e diretora-geral do festival, afirma que tentou tirar proveito do modelo on-line para expandir a programação. “Esse formato híbrido acaba quebrando fronteiras e possibilitando que mais pessoas possam assisti-lo. A gente consegue contemplar pessoas mais distantes, justamente por ser virtual”, diz.
A organização incentivou os artistas selecionados a adaptar suas apresentações ou criar novas propostas para o modelo on-line, buscando viabilizar a realização do evento. Entre as 596 propostas inscritas no primeiro edital do Tiradentes em Cena 2020, 145 migraram para o modelo virtual.
“A gente canalizou a maioria da audiência para as plataformas digitais, mas vamos fazer o que o Cena sempre teve no seu DNA: diversificar as expressões artísticas”, diz Aline. Segundo ela, cada artista adotou uma linha para adequar o teatro ao formato on-line. Alguns acolheram o ambiente doméstico como palco, outros apostaram em apresentações ao vivo (via Zoom ou Instagram) ou em processos de edição de vídeo para contracenar.
A atriz Teuda Bara, do Grupo Galpão, que em seus 79 anos é a homenageada desta edição do evento, também teve que adaptar seu espetáculo Luta para o ambiente digital. No monólogo, ela visita suas memórias e ficcionaliza sua trajetória, elegendo a luta como alegoria para o teatro e a própria vida. A peça estreou em 2019 e será transmitida via YouTube nesta quarta (18), às 14h. Teuda também vai participar de um bate-papo com o escritor João Santos sobre sua biografia Comunista demais para ser chacrete.
Outra atração do “teatro-web” no Tiradentes em Cena é a peça Pandas ou era uma vez em Frankfurt, em que Mauro Schames e Nicole Cordery contracenam a distância, via Zoom. Já O tempo, solo de Monique Vaillé, conta a história de uma mulher em crise existencial que reflete sobre a vida e suas escolhas, tentando priorizar seus desejos e se conectar ao tempo presente.
O amor faz-me fome é um trabalho da Cia Mineira de Teatro inspirado no livro Jóquei, da poeta portuguesa Matilde Campilho, e produzido durante o período de quarentena, com direção de Diego Matos.
Abrigado na programação, o Festival de Cenas Curtas selecionou 10 vídeos, de 10 minutos de duração cada um, que já estão disponíveis no Canal do YouTube do Tiradentes em Cena, para voto popular. O resultado final será publicado na plataforma no sábado (21), às 16h, e os três mais votados serão premiados.
PRESENÇA
As apresentações presenciais serão realizadas nas ruas, pontos turísticos e no estúdio Sobrado Cultural Aimorés, em Tiradentes, com transmissão via internet. A atriz belo-horizontina Carolina Correa preparou uma apresentação misturando a linguagem do teatro dos sentidos e a performance, que será realizada no SesiMinas Tiradentes Yves Alves.“A gente vai trabalhar muito a escuridão, o silêncio, o olfato e o caminhar, passando por experiências sensoriais até chegar na atriz. E dessa atuação vai ter outros gatilhos sensoriais”, diz ela. Respeitando protocolos sanitários, será permitida a entrada de uma pessoa de cada vez, que assistirá a uma performance de Carolina durante aproximadamente dois minutos. A transmissão não mostrará a atuação da artista, mas sim a reação do público.
“Não é um público normal que vai estar sentado na plateia assistindo ao ator em cena. Ele vai participar, mas não da forma que somos acostumados a ver”, diz a atriz. Ela adaptou alguns conceitos do teatro dos sentidos – que aposta na curiosidade e no contato – para o contexto da pandemia e as medidas de distanciamento. “A gente tem que trabalhar outros sentidos neste momento para amenizar a falta do toque”, comenta Carolina.
Ela define a performance como dadaísta. “Expressa uma ideia, um acontecimento, uma urgência, mas ela não tem uma história com início, meio e fim. É uma experiência sensorial junto com os códigos do teatro dos sentidos”, explica.
Apesar das restrições impostas pelos protocolos sanitários, Carolina se diz privilegiada por ter a oportunidade de subir ao palco novamente. “O teatro não para. Persiste o desejo de realizar, expressar, fazer, não importa o meio. Fazer o espetáculo para uma pessoa de cada vez é uma experiência também fantástica. Olhar no olho desse público e falar: nós estamos aqui.” A performance 999 ocorre nesta quinta-feira (19), às 18h. A transmissão será disponibilizada no YouTube na sexta-feira (20).
Ainda entre as atrações no modelo presencial, o Tiradentes em Cena apresenta, no Largo do Museu de Santana, um espetáculo sobre a vida e obra de Solano Trindade, poeta e fundador do Teatro Popular Brasileiro. O sobrado Aimorés recebe a comédia Prazer é todo nosso, com Juliana Martins. O Tiradentes em Cena também abrigará a estreia oficial do monólogo Parece que foi ontem, da Trupe Ventania, realizado em casarão na Rua Direita.
Além dos espetáculos, uma série de rodas de conversas, exposições e oficinas complementam a programação. Destaque para o debate “Teatro em tempos de cólera”, com o dramaturgo Pedro Paulo Cava, sobre formas de enfrentar os desafios impostos à arte pela pandemia, que será nesta quinta-feira (19), às 10h, no Sobral Aimorés, com transmissão via YouTube.
Mostra de Artes Cênicas Tiradentes em Cena
Desta quarta (18) a sábado (21), com transmissões no
youtube.com/tiradentesemcena, @tiradentesemcena. Programação em www.tiradentesemcena.com.br
*Estagiário sob supervisão da editora Silvana Arantes