Em Belo estão canções consagradas, como Durango Kid, Saguin e Beijo partido. Horizonte, por sua vez, concentra nove faixas inéditas. As duas partes juntas tornam o disco duplo Belo Horizonte simbólico para os 50 anos de carreira de Toninho Horta.
Além de relembrar os sucessos do passado, destacar a criatividade do presente e homenagear a cidade natal, o trabalho gravado com a Orquestra Fantasma foi escolhido na noite da última quinta-feira (19) como Melhor Álbum de MPB em Língua Portuguesa, na edição 2020 do Grammy Latino. Prêmio inédito para o artista de 71 anos e longa trajetória internacional.
Lançado em maio do ano passado, Belo Horizonte venceu uma concorrência de peso. Estavam indicados O amor no caos - Volume 2, de Zeca Baleiro, Bloco na rua , de Ney Matrogrosso, Planeta fome, de Elza Soares, e Caetano Veloso & Ivan Sacerdote.
Para o instrumentista e compositor mineiro, o reconhecimento nessa que é uma das maiores premiações da música pop mundial, "retrata a batalha de 50 anos de carreira e uma vida dedicada à música". Na opinião dele, "premiaram por duas coisas, pelo conjunto da minha obra e pela qualidade do disco, que tem um ótimo trabalho de concepção, de gravação, conteúdo e performance da Orquestra Fantasma, que é minha banda oficial há 40 anos. É o resultado de tudo".
Como a cerimônia foi realizada a distância, com transmissão pela internet, em virtude da pandemia do novo coronavírus, Horta acompanhou a premiação em seu apartamento, na Região Centro-Sul de BH, e festejou bastante. "Já estávamos muito felizes com a indicação, há alguns meses. Muita gente me falava que eu ia ganhar e isso me gerou uma ansiedade, um frio na barriga. Nós nos vestimos como se estivéssemos em um teatro chique, em Los Angeles, e acompanhamos. Quando ouvimos Belo Horizonte já começamos a gritar", conta o músico, que estava acompanhado pelas irmãs, que trabalham com ele.
"(Belo Horizonte) É um disco legal, alegre, interativo, nada de complicado, tudo do coração. É muito influenciado pelas melodias montanhosas de Minas, com intervalos distantes, notas altas e baixas, que fazem o contorno das montanhas"
Toninho Horta, compositor e instrumentista
INSTRUMENTAL
Para Toninho Horta, o reconhecimento no Grammy Latino premia também suas raízes mineiras. "Essa categoria era sempre entregue a um cantor ou intérprete. Eu sou mais instrumentista e guitarrista, então escolheram um representante da música instrumental”, comenta.
A característica do álbum premiado é outro motivo de alegria para ele. “Isso teve uma validade muito especial para mim, pois é um disco legal, alegre, interativo, nada de complicado, tudo do coração.”
Trata-se de um álbum, segundo seu autor, “muito influenciado pelas melodias montanhosas de Minas, com intervalos distantes, notas altas e baixas, que fazem o contorno das montanhas. Temos essa característica aqui, cada um com sua influência”.
E ele enumera as influências que marcaram o Clube da Esquina, movimento musical ao qual pertence: “O Beto Guedes tem o chorinho; o Lô tem a Bossa Nova; o Milton, o canto gregoriano; e eu tenho a minha (influência), que é o jazz. Rodei o mundo tocando e chegou a hora de o prêmio ser meu. Só tenho a agradecer".
No embalo do Grammy Latino, Toninho Horta promete novidades para o público em breve. Está previsto para dezembro o lançamento de um livro, uma espécie de encarte ampliado, sobre o disco Belo Horizonte, contando a história da Orquestra Fantasma e detalhando a produção.
O próximo álbum também está delineado. Mas Toninho Horta aguarda um momento mais favorável no controle da crise sanitária para ir aos Estados Unidos finalizar Standards and stories, com repertório de canções populares.
"Foi uma confusão na hora. Estava dando tudo certo no computador, mas, na hora em que anunciaram os indicados a Melhor Álbum Sertanejo, deu apagão no meu laptop e fiquei meio anestesiada. Quando reconectamos, já estavam falando o nome do vencedor, e eu fiquei em estado de choque e uma lágrima escorreu"
Paula Fernandes, cantora
OUTROS PRÊMIOS
A música mineira ainda foi vitoriosa em outras duas categorias dedicadas à língua portuguesa no Grammy Latino. A sete-lagoana Paula Fernandes venceu em Melhor Álbum de Música Sertaneja, com Origens (Ao vivo em Sete Lagoas), enquanto João Bosco, natural de Ponte Nova, levou Melhor Canção em Língua Portuguesa, com Abricó-de-Macaco, cantada com o filho Francisco Bosco. A música dá nome ao álbum lançado por Bosco em maio deste ano. Ela é uma das duas inéditas do disco que traz ainda 14 regravações.
No caso de Paula, de 36 anos, foi o seu segundo Grammy Latino. Em 2016, a sertaneja venceu na mesma categoria, com Amanhecer. Em 2011, quando vivia um momento de grande popularidade no Brasil, chegou ser indicada a Melhor Artista Revelação, mas o prêmio foi para o porto-riquenho Sie7e.
O recém-premiado Origens foi lançado no ano passado, como CD e DVD, gravado em um show ao vivo na cidade natal da cantora. A produção inclui 22 músicas, sendo sete inéditas e 15 sucessos anteriores, como a declaração de amor ao estado Seio de Minas, e Sensações, que ocupou paradas de sucesso há nove anos.
"Motivo de muito orgulho para mim, por tudo que representa. Tenho muito orgulho de ser mineira, de voltar para minha terra com algo que retrata bem minha história, depois de tudo que passei desde que saí de lá. Foram muitos duetos, muitas canções em novela, tantas experiências e momentos vividos que poder regressar com essa bagagem dá a sensação de missão cumprida. Foi um momento mágico", afirma Paula Fernandes.
A felicidade pela nova conquista veio com um acontecimento inusitado, típico dos eventos virtuais, que se tornaram comuns atualmente. Na hora em que foi declarada vencedora, Paula Fernandes ficou sem conexão com a internet.
"Foi uma confusão na hora. Estava dando tudo certo no computador, mas, na hora em que anunciaram os indicados a Melhor Álbum Sertanejo, deu apagão no meu laptop e fiquei meio anestesiada. Quando reconectamos, já estavam falando o nome do vencedor, e eu fiquei em estado de choque e uma lágrima escorreu", relata a artista, que acompanhou a cerimônia na casa de seu empresário.
Ela diz que a premiação foi uma chance de rememorar a gravação do álbum e todas as emoções vivenciadas no processo. "Depois da premiação, dirigi por uma hora na estrada, ouvindo o disco. Voltei em cada música, desde a hora em que cantei Seio de Minas, uma música que fiz para nosso estado. Foi uma sensação muito maravilhosa. Foi uma entrega tão profunda de mim, dei meu melhor sorriso, meu melhor contato, doei tudo de bom, com o lugar que escolhi, com meu público. Esse projeto tem a cara do que eu queria dizer. Veio para marcar minha história e ganhar (o Grammy Latino) foi outro marco."
A sertaneja define o público como seu "melhor dueto", sobretudo pela participação na música Juntos, versão de Shallow, de Lady Gaga e Bradley Cooper. Originalmente, ela seria cantada com Luan Santana, que não compareceu à gravação, gerando uma situação "constrangedora", segundo Paula, mas contornada pela força dos fãs.
As demais premiações para a música brasileira na 21ª edição do Grammy Latino foram para a cantora Céu, com APKÁ!, em Álbum de Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa; Claudio Jorge, com Samba jazz, em Melhor Álbum de Samba/Pagode; Mariana Aydar, com Veia nordestina, em Melhor Álbum de Música de Raiz; Aline Barros, com Reino, em Melhor Álbum de Música Cristã; e Emicida, com AmarElo, em Melhor álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa.
Nas categorias principais, nas quais artistas de todos os países de línguas latinas concorrem, o Brasil não levou nenhum gramofone. Anitta viu o prêmio de Melhor Música Urbana ir para Yo X ti,tu X mi, da espanhola Rosalía, em parceria com o porto-riquenho Ozuna. A cantora carioca concorreu com Rave de favela, cantada com MC Lan, BEAM e Major Lazer. Anitta foi uma das atrações da cerimônia e se apresentou diretamente do Rio de Janeiro, nos Arcos da Lapa. Ela cantou Mas que nada, de Jorge Ben Jor, e seu recente single Me gusta, lançado em parceria com Cardi B e Myke Towers.
A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, que concorria a Melhor Álbum de Música Clássica (Almeida Prado – Obras para piano e orquestra), e o saxofonista mineiro Caetano Brasil, que disputou Melhor Álbum Instrumental (Cartografias), também saíram sem prêmio. Eternal gratitude, de Domingo Pagliuca (trombone) e Paulina Leisring (piano), e Terra, do violonista espanhol Daniel Minimalia, foram os respectivos vencedores nessas categorias.
Nas categorias principais, o espanhol Alejandro Sanz foi premiado pela Melhor Gravação do Ano, com a música Contigo. A mexicana Natalia Lafourcade levou o troféu na categoria Álbum de Ano, por Un canto por México - Vol. 1, enquanto o rapper porto-riquenho Residente, do grupo Calle 13, ficou com o prêmio de Música do Ano, por René. O colombiano Mike Bahía foi escolhido o Melhor Artista Revelação. A lista completa pode está disponível em www.latingrammy.com.
VERDE E AMARELO
Confira os vencedores nas categorias exclusivas da música brasileira:
» Melhor álbum de rock ou de música alternativa em língua portuguesa
AmarElo – Emicida
» Melhor álbum de música sertaneja
Origens (Ao Vivo em Sete Lagoas 2019) – Paula Fernandes
» Melhor álbum de samba/pagode
Samba jazz de raiz – Cláudio Jorge
» Melhor álbum pop contemporâneo em língua portuguesa
APKÁ! – Céu
» Melhor canção em língua portuguesa
Abricó-de-Macaco – João Bosco
» Álbum de música cristã em língua portuguesa
Reino – Aline Barros – VENCEDORA
» Melhor álbum de música de raízes em língua portuguesa
Veia nordestina – Mariana Aydar
» Melhor álbum de música popular brasileira
Belo Horizonte – Toninho Horta e Orquestra Fantasma