Intenso e sinistro, 2020 caminha para o final como um dos anos mais marcantes do século 21. Crises econômica e política, ameaça de guerra entre potências bélicas, violência contra a população negra e aceleramento do desmatamento de áreas verdes são alguns dos acontecimentos que marcaram os últimos meses. Nenhum deles, no entanto, foi tão determinante quanto a pandemia do novo coronavírus, responsável por mudar hábitos de comportamento e isolar, em casa, grande parte do mundo.
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“Defendo que o melhor jeito de lidar com situações desse tipo, por mais dolorosas que elas sejam, é por meio da literatura. Sobretudo aquilo de que outras áreas não dão conta. Então, esse projeto nasce da vontade de ressignificar a realidade e investigar novos mundos”, acrescenta.
CALOR
Para ele, o fato de os contos terem sido escritos no “calor do momento” empresta a eles atualidade única, proporcionando compreensão futura sobre o que acontece hoje.“São histórias muito interessantes para o leitor de agora, mas também funcionam como testemunho histórico. Creio que será um livro pesquisado no futuro, trata-se de um documento histórico-literário produzido no calor dos acontecimentos”, afirma.
A lista de autores é composta por Frei Betto, Ivan Angelo, Cidinha da Silva, Jacques Fux, Carlos de Brito e Mello, Eliana Cardoso, Stella Maris Rezende, Ana Cecília Carvalho, Luís Giffoni, Jacyntho Lins Brandão, Paula Pimenta, Cris Guerra, Carla Madeira, Ana Elisa Ribeiro, Laura Cohen, Cristina Agostinho, Carlos Herculano Lopes, Francisco de Morais Mendes, Olavo Romano e Afonso Henriques Neto. Esse conjunto representa diferentes vozes literárias, celebrando a diversidade com seu caráter democrático, afirma Rogério Faria Tavares.
Ao contrário de outras áreas do mundo das artes, que precisaram se reinventar durante a pandemia, a literatura permaneceu como sempre foi. “O distanciamento acabou gerando inúmeras consequências. No campo da arte, como as pessoas se viram obrigadas a ficar em casa, sem sair, sem se ver, muitos escritores acabaram se reencontrando por meio do texto. Ou seja, por meio da sua arte. O número de leitores aumentou, assim como o de escritores. Ainda que a realidade seja muito dura, com milhões de vidas em risco e milhares de mortos, é reconfortante saber que os livros e a literatura ainda resistem”, comenta o presidente da AML.
SÉRGIO E RUBEM
Como forma de homenagear dois mestres do conto brasileiro, o livro é dedicado a Rubem Fonseca (1925-2020) e Sérgio Sant'Anna (1941-2020). O primeiro, nascido em Juiz de Fora, morreu em 15 de abril, aos 94 anos, vítima de infarto. Nascido no Rio de Janeiro, mas com fortes ligações com Minas Gerais, Sant'Anna faleceu em 10 de maio por complicações causadas pela COVID-19.“Trata-se de uma homenagem singela. Por ser de contos, o livro já os reverencia de alguma forma. Mas ter o nome dos dois impresso, como dedicatória, é um lamento e uma reverência. 2020 levou muitos artistas que deixaram um legado inestimável”, diz Rogério Faria Tavares.
Para ele, Rubem Fonseca “renovou a linguagem do conto, marcou época e criou um estilo próprio, o brutalismo, tratando de temas como a violência de forma seca, sem floreios”. Já Sérgio Sant'Anna foi um escritor “sofisticado e complexo, com uma capacidade incrível de síntese”, observa o presidente da AML.
Neste sábado, o lançamento, com a presença do público e de alguns autores da coletânea, todos os protocolos de segurança serão seguidos, o que dispensa a realização dos tradicionais coquetéis, por exemplo.
“Só será permitida a entrada de pessoas que estiverem de máscara. Também providenciamos marcas no chão para estabelecer o distanciamento. Estamos fazendo um evento completamente subordinado a esses protocolos, até porque, caso contrário, não seria possível realizá-lo”, pontua.
ISENÇÃO
Feliz em lançar um livro inédito em meio à pandemia, Rogério Faria Tavares acredita que a reforma tributária do governo federal, que prevê o fim da isenção de impostos para livros, “não é digna de qualquer comentário”.“Creio que o contrário é o que deva ser discutido: a ampliação dessa imunidade. O contrário disso vai contra e desconhece toda a importância que o livro tem para a educação e para a cultura”, diz.
Enviada para análise do Congresso em julho passado, a primeira parte da reforma propõe a unificação da cobrança do PIS/Pasep e do Cofins em um novo imposto sobre valor agregado, com o nome de Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços (CBS).
A alíquota desse novo tributo seria de 12%, segundo o Ministério da Economia. Em agosto, a hashtag #defendaolivro tomou conta das redes sociais em reação à proposta.
“Esse é um projeto que precisa ser esquecido. O livro é um instrumento de ampliação pessoal e educacional”, adverte o presidente da Academia Mineira de Letras.
AUTORES
» Afonso Henriques Neto
» Ana Cecília Carvalho
» Ana Elisa Ribeiro
» Carla Madeira
» Carlos de Brito e Mello
» Carlos Herculano Lopes
» Cidinha da Silva
» Cris Guerra
» Cristina Agostinho
» Eliana Cardoso
» Francisco de Morais Mendes
» Frei Betto
» Ivan Angelo
» Jacques Fux
» Jacyntho Lins Brandão
» Laura Cohen
» Luís Giffoni
» Olavo Romano
» Paula Pimenta
» Stella Maris Rezende
20 CONTOS SOBRE
A PANDEMIA DE 2020
• Organização: Rogério Faria Tavares
• Vinte autores
• Autêntica Editora
• 280 páginas
• R$ 49,80 (livro)
• R$ 34,90 (e-book)
• Lançamento neste sábado (28), das 10h às 14h, na Academia Mineira de Letras (Rua da Bahia, 1.466, Centro). Entrada franca.