“Esta mostra quer incentivar as mulheres negras. Então, já vamos na contramão do racismo e do machismo, ainda tão presentes. Ela já nasce como uma forma de resistência”, afirma a cantora e compositora Elisa de Sena, uma das criadoras e organizadoras da Mostra Negras Autoras, que será realizada neste domingo (29) e na segunda-feira (30), em Belo Horizonte.
O projeto é parceria do Coletivo Negras Autoras, do qual fazem parte Elisa de Sena, Julia Tizumba, Manu Ranilla e Vi Coelho, com o Teatro Espanca!. A segunda edição do evento, que ganhou formato on-line, busca incentivar a arte criada por mulheres. Dez trabalhos foram selecionados entre os 70 inscritos no edital lançado em outubro.
“Não foi fácil escolher. Tentamos trazer alguns critérios não muito comuns no meio. Como queríamos a diversidade, olhamos onde a mulher mora, se ela é autora ou coautora, o tom de pele. Temos mulheres mais claras, com mais de 30, lésbicas, trans, de BH e de fora da cidade”, explica Elisa.
A agenda reúne teatro, circo, audiovisual e música. A programação poderá ser acompanhada gratuitamente pelo canal do Coletivo Negras Autoras no YouTube. “É um modo de o material ficar salvo na rede. De alguma forma, é o registro histórico do que está acontecendo hoje”, observa Elisa de Sena.
''São mulheres negras contando a história de seu lugar de fala''
Elisa de Sena, cantora e compositora
A Mostra Negras Autoras, segundo ela, destaca artistas que geralmente não conseguem se apresentar em outros festivais. “As mulheres têm gratidão por estarmos abrindo um espaço, elas se sentem acolhidas. Teoricamente, o espaço artístico é democrático, mas se você der uma olhada, a maioria (dos contemplados) é branca e masculina”, aponta.
O formato on-line foi a saída para viabilizar o evento nestes tempos de pandemia. “É bem diferente de quando fizemos a mostra presencial. Foi tão bom o encontro com as mulheres, aquela troca... Mas o on-line é um superdesafio, pois não temos aquele calor do encontro. Achamos melhor não adiar, porque as mulheres precisam trabalhar”, observa Elisa.
Durante a mostra, será lançado livro sobre a trajetória do coletivo. “É mais um registro histórico. São mulheres negras contando a história de seu lugar de fala. Ter o registro físico é bastante importante para a transformação. O livro traz os nossos textos e, em alguma medida, também representa outras pessoas”, comemora Elisa de Sena.
Neste domingo, vão se apresentar NáLù Pimenta (música), Vita Pereira (fotografia e curta-metragem), Jeiza da Pele Preta (cena circense), Pâmela Bernardo (artes visuais) e Amorina (música). Amanhã, as atrações serão Lu Mosqueira (música), Priscila Rezende (artes integradas), Renata Paz (teatro), Júnia Bertolino (dança), e a dupla Nívea Sabino/Luiza da Iola (poesia e música).
MOSTRA NEGRAS AUTORAS
Neste domingo (29) e amanhã (30), a partir das 20h, no canal do Coletivo Negras Autoras no YouTube
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria