O primeiro longa-metragem de Kleber Mendonça Filho nasceu em Belo Horizonte. Mais precisamente, na Avenida Afonso Pena, em um dos quartos do finado Othon Palace, onde o cineasta se hospedou em 2007 durante uma edição do Festival Internacional de Curtas.
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Diretor de 'Bacurau' prepara novos filmes durante a pandemia'Bacurau' é o maior vencedor do GP do Cinema BrasileiroBacurau em Tela Quente: ''Muito feliz com a ocupação de espaço'', diz um dos diretoresDiretor brasileiro Kleber Mendonça Filho estreia novo filme em Cannes"Bacurau" não é indicado e Brasil está fora do Oscar 2021'Bacurau' é confirmado na lista de filmes elegíveis ao OscarO livro inclui um alentado prefácio do professor e pesquisador Ismail Xavier, com análises pormenorizadas dos três longas e do trabalho de criação. “Os três roteiros são muito claros em sua exposição de cada fase da trama”, observa Ismail, destacando também a habilidade na construção dos diálogos, “sempre ajustados ao teor dramático da cena”, e a liberdade do autor nas indicações técnicas e outras orientações. “Acredito que é preciso ser claro e objetivo, mas refletindo o seu estilo de escrever e de ver as coisas”, afirma Kleber Mendonça. Entusiasmado com a liberdade do uso de palavras para criação de personagens e conflitos, o cineasta cogita escrever um romance. “É uma ideia cada vez mais atraente.”
Produzidos e lançados nos últimos dez anos, os três longas de Kleber Mendonça espelham as tensões, impasses e conflitos – alguns velados, outros explícitos – cada vez mais presentes na sociedade brasileira. Ele admite que “subiu o tom” de O som ao redor, no qual “as coisas não são ditas, são mostradas”, para Aquarius. “Veio naturalmente, não dá para se fingir de mouco e ignorar o que está se passando no país”, diz o cineasta, que se manifestou contra o impeachment de Dilma Rousseff na estreia de Aquarius, em 2016, no Festival de Cannes.
“Quando a gente estava filmando uma externa com a Sonia (Braga), passou um cara e xingou a equipe de ‘vagabundos, filhos da puta’ e mandou a gente trabalhar. Não consegui ignorar, por isso o filme tem discussões com dedo na cara e confronto forte no final”, lembra.
A elevação de tom prosseguiu com Bacurau, o filme mais bem sucedido do diretor de 52 anos. Prêmio Especial do Júri em Cannes, o longa-metragem foi visto por mais de 700 mil espectadores no país no ano passado. O roteiro nascido da “vontade de misturar energias distintas” (western, drama, suspense, ficção científica) foi escrito ao longo de oito anos.
“Eu e Juliano construímos Bacurau em cima de erros, agressões e violências históricas que têm marcado a sociedade brasileira e o mundo”, detalha o cineasta pernambucano.
“Apesar de se passar num futuro próximo, não tem nada de novo. São os conflitos históricos: ignorância, racismo, falta de respeito com o Nordeste, com o passado, com as minorias e a capacidade das pequenas comunidades de se unir para enfrentar essas injustiças”, destaca Kleber. “E, como estamos no cinema de gênero, isso nos libera para a catarse e para usar as ferramentas do cinema de ação, como a violência gráfica.” Ele externa os sentimentos que o moveram nas três criações: “Tem compaixão em todos eles, e, às vezes, tem também alguma raiva: porque às vezes é preciso reagir.”