Tão logo a pandemia começou, ainda em março, o teatro suspendeu sua programação. A proibição de aglomerações impediu apresentações com a presença do público, obrigando as companhias a se desdobrar para continuarem vivas. Em abril, o Galpão Cine Horto planejava promover o reencontro das artes cênicas em BH – naquele momento, o plano era receber a plateia em dezembro. O último mês do ano chegou e a COVID-19 não foi controlada no Brasil, que vê o aumento de casos nas últimas semanas. Porém, a ideia do evento coletivo não ficará para depois.
Dentro das possibilidades do momento, começa, nesta terça-feira (1º/12), a Reencontro Mostra de Teatro, em versão on-line. Até dia 13, serão exibidos, no YouTube, vídeos de espetáculos de 16 companhias.
A proposta era transferir parte dos recursos de patrocínio do Cine Horto para as companhias selecionadas em edital. Um cachê foi pago em maio, quando saiu o resultado, como forma de apoio aos grupos. “Queríamos que fosse uma contribuição para os artistas enfrentarem a crise”, afirma Pelúcio.
Chico Pelúcio destaca que a sobrevivência de muitas trupes teatrais de BH se deve ao espírito de cooperação. “Nós nos juntamos no Movimento de Espaços de Teatro Dança e Circo (Meta BH) e esse evento colocou os grupos dialogando, com reuniões generosas, propositivas, afetuosas, oferecendo apoio, ajuda. Esse espírito tem que ser fortalecido”, defende.
Pelúcio destaca que a seleção contemplou coletivos de BH, Nova Lima, Sabará, Contagem e Betim. “É uma oportunidade de acompanhar o que era assistido antes da pandemia e diz respeito à cidade e sua região metropolitana. São produções afetivas, próximas do público de BH.”
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CACHÊ
A proposta era transferir parte dos recursos de patrocínio do Cine Horto para as companhias selecionadas em edital. Um cachê foi pago em maio, quando saiu o resultado, como forma de apoio aos grupos. “Queríamos que fosse uma contribuição para os artistas enfrentarem a crise”, afirma Pelúcio.
No entanto, o reencontro presencial ficará para 2021, na melhor das hipóteses. Por enquanto, o público poderá se conectar com o trabalho das companhias por meio de vídeos de espetáculos já apresentados.
“Achamos importante não deixar de fazer neste momento. Até porque o público também precisa de atenção. Por isso, decidimos por um festival on-line com os grupos selecionados”, explica Pelúcio. Na cerimônia de abertura desta terça-feira, às 20h, no YouTube, o ator vai falar sobre os desafios enfrentados pelo teatro em BH, ao lado de representantes das trupes participantes.
Chico Pelúcio adianta o tema desta noite: “O abandono do teatro em BH. Especificamente, o abandono do teatro profissional, dos grupos, das companhias independentes por parte do município e do estado.Vamos falar o que esperamos para 2021. Tivemos a reeleição do prefeito (Alexandre Kalil), mas queremos que muitas coisas sejam revistas pelo poder público. Vamos conversar sobre tudo isso, o público poderá ter contato com os grupos e seus artistas.”
O ator e diretor do Galpão critica o cancelamento, em 2020, da Virada Cultural e do FIT – Festival Internacional de Teatro Palco e Rua pelo governo municipal. “A decisão faz-se necessária diante das medidas sanitárias e esforços para o combate ao coronavírus, determinados pela Secretaria Municipal de Saúde, que inclui a manutenção do isolamento social e a flexibilização gradativa, o que impede a realização de atividades do porte do FIT-BH, que promove grandes aglomerações de público”, afirmou a nota da Prefeitura de Belo Horizonte, em outubro.
De acordo com o coordenador do Galpão Cine Horto, seria possível “reinventar o formato, como o mundo inteiro tem feito”. Ele também criticou o anúncio tardio da decisão.
COOPERAÇÃO
Chico Pelúcio destaca que a sobrevivência de muitas trupes teatrais de BH se deve ao espírito de cooperação. “Nós nos juntamos no Movimento de Espaços de Teatro Dança e Circo (Meta BH) e esse evento colocou os grupos dialogando, com reuniões generosas, propositivas, afetuosas, oferecendo apoio, ajuda. Esse espírito tem que ser fortalecido”, defende.
Dagmar Bedê, integrante da Cia. Circunstância, que apresentará o espetáculo Cabaré das Divinas Tetas no domingo (6), concorda. “Foi incrível quando o Cine Horto fez esse chamamento – uma tentativa de aliviar, de alguma forma, para grupos e artistas de Minas. Tanto por pagar cachê, no início da pandemia, quando não havia nenhuma receita, quanto pela expectativa de apoiar os grupos nessa irmandade, nesse companheirismo dentro da arte. Estamos ferrados, mas juntos”, diz ela.
O Galpão Cine Horto, com sua projeção nacional, fortalece as companhias, acredita Dagmar Bedê. Segundo ela, a vontade de rever novamente as plateias é grande, mas enquanto isso não é totalmente seguro, as iniciativas virtuais ganham importância. “Não é o que queremos, mas conseguimos estar juntos de outra maneira, resistindo. O teatro sempre foi uma grande resistência, agora tem sido ainda mais”, diz.
A versão do Cabaré das Divinas Tetas foi gravada no fim do ano passado, no Teatro Francisco Nunes. “Tem toda a nossa magia ali, toda a onda das palhaças, das drag queens e a linguagem de cabaré, tão característica do espetáculo. Claro que não é como assistir presencialmente, mas é um registro importante, uma experiência diferente”, argumenta Dagmar.
A peça reúne artistas que têm em comum a pesquisa de comicidade e a discussão sobre gênero. O “grupo-espetáculo”, criado há dois anos, conta também com Adriana Morales e Poliana Tuchia, palhaças, produtoras e integrantes do Grupo Trampulim; Daniela Rosa e Luciene Souza, palhaças atuantes em hospitais (Instituto Hahaha); Sarabicha, mestre de cerimônias interpretada por Rafael Bacelar, do Coletivo Toda Deseo; e Eli Nunes.
A programação do festival traz espetáculos de Teatro Negro e Atitude, Grupo Contracena, Abre Alas Breve Cia, Grupo Kabana, Pigmalião Escultura que Mexe, Minha Companhia, Quartatela, Núcleo de Atuação e Pesquisa, Pigmentar Companhia, Trupe Estrela, Fabiano Persi, Anômala Stúdia/Anômala Teatro/Casa Anômala, Juliana Pautilla, Priscila Rezende e Grupo de Teatro Armatrux.
AFETO
Pelúcio destaca que a seleção contemplou coletivos de BH, Nova Lima, Sabará, Contagem e Betim. “É uma oportunidade de acompanhar o que era assistido antes da pandemia e diz respeito à cidade e sua região metropolitana. São produções afetivas, próximas do público de BH.”
A exibição de espetáculos não inéditos, previamente gravados, foi uma forma de facilitar o trabalho das companhias. “Não havia condições de exigir que elas produzissem para mostrar. Estaríamos, de certa forma, botando corda no pescoço dos grupos. O cachê que pagamos foi para manutenção, não faria sentido a obrigação de produzir nas condições da pandemia”, explica Pelúcio.
Outro critério da curadoria foi a diversificação dos perfis dos artistas. “Em primeiro lugar, observamos a qualidade dos espetáculos, mas procuramos incluir tanto grupos consolidados como os mais novos. Também mesclamos espetáculos para adultos e infantis”, diz Chico Pelúcio. Os vídeos serão disponibilizados apenas no horário de exibição determinado na programação.
REENCONTRO MOSTRA DE TEATRO DE BH
De 1º a 13 de dezembro, no canal do Galpão Cine Horto no YouTube. Gratuito. Programação completa: www.galpaocinehorto.com.br
PROGRAMAÇÃO
HOJE (1º/12)
20h – Live de reencontro
» Com todos os grupos da mostra e Chico Pelúcio
22h – A toque de caixa – Pessoa invisibilizada negra. Guardiã de ancestralidades.
» Com Grupo Teatro Negro e Atitude (12 anos)
QUARTA (2)
22h – Heitor (espetáculo em processo)
» Com Grupo Contracena (14 anos)
QUINTA (3)
22h – Abre alas.
» Com Grupo Abre Alas (10 anos)
SEXTA (4)
22h – E se todas se chamassem Carmem?
» Com Breve Cia (16 anos)
SÁBADO (5)
16h – Os olhos do Surubim Rei
» Com Grupo Kabana (livre)
23h – Filosofia na alcova
» Com Pigmalião Escultura que Mexe (18 anos)
DOMINGO (6)
16h – Showzaças: Show de palhaças
» Com Minha Companhia (livre)
20h – Cabaré das Divinas Tetas
» Com Grupo Cabaré das Divinas Tetas (12 anos)