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Estado de Minas TEATRO

Cacá Carvalho estreia peça inspirada em Odisseia de Homero

Apartamento do ator foi modificado para virar cenário da montagem Ítaca, 365, apto 23, que abre nesta segunda o CenaWeb, do Teatro EmMov Digital


07/12/2020 04:00 - atualizado 07/12/2020 07:35

Com Ítaca, 365, apto 23, Cacá Carvalho abre o CenaWeb, do Teatro EmMov Digital. Peça retrata retorno ao lar de um homem do passado em um mundo novo e arrasado(foto: Junea Andreazza/DIVULGAÇÃO)
Com Ítaca, 365, apto 23, Cacá Carvalho abre o CenaWeb, do Teatro EmMov Digital. Peça retrata retorno ao lar de um homem do passado em um mundo novo e arrasado (foto: Junea Andreazza/DIVULGAÇÃO)

"A pandemia nos fez perceber pequenos, assim como nós realmente somos. A 'odisseia' é muito grande, mas nós somos muito pequenos"

Cacá Carvalho, ator


Tendo como ponto de partida a Odisseia de Homero, Ítaca, 365, apto 23 é uma peça que une o texto clássico a elementos da trajetória e da intimidade de Cacá Carvalho. O ator, aliás, é o morador real do apartamento 23, localizado no prédio de número 365, em São Paulo, que foi inteiramente modificado para servir de cenário para a montagem.

A estreia, nesta segunda-feira (07/12), às 20h, marca o início do CenaWeb, etapa final do Teatro EmMov Digital, versão adaptada do projeto Teatro em Movimento. Ajustado às restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus, o evento promove três montagens teatrais inéditas, pensadas especialmente para o ambiente digital.

Idealizada em parceria com o dramaturgo Vinicius Calderoni e o pesquisador Guilherme Gontijo, a peça protagonizada por Cacá flagra o retorno ao lar de um homem após um longo período, tal qual Ulisses no clássico de Homero. É um personagem do passado em um mundo novo e arrasado. O cenário encontrado gera uma grande decepção, pois nada está do jeito que ele imaginava ter deixado.

“O isolamento social nos proporcionou voltar para a casa, voltar para dentro, ver coisas que não víamos mais e repensar”, afirma Cacá, que durante a pandemia foi afetado de tal maneira que considerou retornar para Belém, no Pará, sua cidade natal.
 
Escrito por Vinicius, o texto nasceu a partir do espaço cênico e faz uma espécie de viagem pelo apartamento, cuja cenografia foi desenvolvida em parceria com Marcio Me- dina.

Para receber a montagem, o apartamento recebeu camadas e texturas que o fazem parecer envelhecido e tomado pelo mofo. Para tanto, móveis foram cobertos por panos brancos e cômodos estão cheios de água.

Seguindo o formato híbrido que ficou popular na pandemia, a montagem será transmitida ao vivo durante toda a temporada, que vai até domingo (13), e contará com algumas inserções gravadas. Outros personagens aparecerão por meio de vídeos, objetos e figurinos. Somente um cachorro estará em cena presencialmente com o ator.

Além disso, fragmentos do original grego serão lidos na íntegra, com a tradução de Guilherme Gontijo, professor e especialista na área. Entre trechos da seminal obra e cenas originais desenvolvidas a partir de memórias de Cacá, a dramaturgia terá ainda citações de diversos pensadores sobre como a Odisseia reverberou em suas escritas.

“Foi da fricção entre esses três eixos que nasceu o texto final, um trabalho de natureza híbrida que almeja provocar uma investigação permanente”, indica o ator.

Músico e letrista de diversas canções em carreira solo ou no grupo 5 a Seco, Vinicius aponta que a linguagem poética foi encontrada pelos criadores como uma bússola que os guiou para o resultado final. “O trabalho tem uma confluência de questões. Partimos de uma obra fundadora e identificamos logo de início que ela precisava estar no corpo do texto o tempo todo”, analisa.

Guilherme Gontijo, que prestaria assessoria teórica inicial para a equipe da peça, assina o texto com Vinícius, em seu primeiro trabalho teatral.

DRAMATURGIA INÉDITA 

Do alto de uma trajetória marcada por muitos êxitos nos palcos e vitoriosos monólogos, Cacá Carvalho também experimenta a estreia em um formato novo. “É uma oportunidade rara poder trabalhar em um contexto inédito aos 67 anos e com tanto tempo de carreira”, comemora.

“Fomos todos atravessados e atingidos por este momento difícil e tivemos a chance raríssima de repensar o mundo e as nossas vidas. A pandemia nos fez perceber pequenos, assim como nós realmente somos. A 'odisseia' é muito grande, mas nós somos muito pequenos”, acrescenta o ator.

Responsável pela circulação de espetáculos teatrais por cidades brasileiras, o festival Teatro em Movimento chega em novo formato ao seu 19º ano. Diante da pandemia, a idealizadora do evento, Tatyana Rubim, o transformou em Teatro EmMov Digital, iniciativa dividida em três etapas: curso de formação em teatro digital, websérie produzida por artistas e três montagens teatrais inéditas, que chegam ao ambiente digital entre dezembro e janeiro.

Batizada de CenaWeb e coordenada por Rubim em parceria com Mariana Lima Muniz, a etapa final foi assumida por Cacá Carvalho, Bárbara Paz e Yara de Novaes. A partir da imersão com o artista multimídia Matías Umpierrez, os três definiram os temas com os quais gostariam de trabalhar e desenvolveram uma dramaturgia inédita.

INTERAÇÃO

Além de Ítaca, 365, apto 23, foram produzidas as montagens Ato, de Bárbara Paz, que estreia nesta terça-feira (8), e (Des)memória, de Yara de Novaes, que será disponibilizada a partir de 10 de janeiro.

Diferentemente da peça de Cacá, Ato é uma produção gravada que ficará disponível no site do festival por 30 dias. Eduardo Moreira e Alessandra Maestrini compõem o elenco.

“Estamos fazendo o teatro do possível. É teatro porque são pessoas do teatro e, ao mesmo tempo, exploramos as diversas teatralidades existentes no universo digital e sua capacidade de manipulação e transformação, permitindo uma interação diferenciada com o espectador. Não é só colocar uma peça na web, mas explorar a web como linguagem em suas especificidades”, afirma Mariana Lima Muniz, professora da UFMG com pós-doutorado em teatro e internet.

“Foi preciso entender este novo ambiente, trazer os profissionais certos e produzir algo novo para um público que também deve ser considerado um 'novo espectador', por se comportar de modo diferente do presencial. É o desafio de construir o novo para o 'novo normal'”, explica Tatyana Rubim.

ÍTACA, 365, APTO 23
Estreia nesta segunda-feira (7), às 20h. Apresentações ao vivo até 13 de dezembro, sempre às 20h, pelo site do Teatro em Movimento (www.teatroemmovimento.com.br). Gratuito.


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