Desde 2005, dezenas de mulheres – escritoras, ativistas, jornalistas – participaram, em Ouro Preto, do Fórum das Letras. Na edição de número 15 do evento, que mulher senão Clarice Lispector (1920-1977) poderia ser o centro do debate? Com versão exclusivamente on-line, com início nesta segunda-feira (7), semana do centenário de nascimento da escritora, comemorado em 10 de dezembro, o evento será realizado até 18 deste mês. Mas até sexta-feira (11), todos os encontros ao vivo, em ambiente digital, serão dedicados à autora de A hora da estrela.
Na semana de 14 a 18 de dezembro, a programação se diversifica, com debates sobre poesia em época de pandemia e jornalismo e literatura, mas Clarice ainda ganha destaque em outros dois encontros (ambos no dia 15). O programa que celebra uma das maiores autoras da língua portuguesa está sendo realizado em parceria com a 1ª Bienal Virtual do Livro de São Paulo, que também começa hoje.
Coordenadora e curadora do Fórum das Letras, realizado pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Guiomar de Grammont confirma a dificuldade de promover esta edição. “O evento esteve ameaçado, chegamos a hesitar muito se faríamos ou não. O período está muito complicado para as universidades brasileiras, as públicas vêm sendo muito atacadas e depauperadas.”
Com alguns apoios – além da Bienal, ela destaca a presença da embaixada da França –, o evento analisa não só o impacto da obra de Clarice no Brasil, como também no exterior. A mesa de abertura vai destacar o diálogo entre a obra dela com a de duas escritoras francesas, Marguerite Duras e Nathalie Sarraute.
“O primeiro país que acolheu Clarice depois do Brasil foi a França. Tanto que Perto do coração selvagem (1943, romance de estreia da autora) foi publicado naquele país pouco depois de sair no Brasil”, continua Guiomar. Para falar desse aspecto, haverá mesas sobre a edição de seus livros nos dois países, como também sobre a tradução de sua obra para o francês.
RESISTÊNCIA
Uma das grandes amigas de Clarice, a escritora Nélida Piñon, que a acompanhou até a morte, em decorrência de câncer, em 9 de dezembro de 1977, conversa com o público na quarta-feira (9). O título da conversa, que será conduzida por Guiomar, é “O livro das horas: A hora das estrelas”.
“Quis fazer referência ao livro (a novela chegou às livrarias um mês e meio antes de sua morte), inicialmente porque Clarice é uma estrela. Mas também pensei no viés de resistência do Fórum das Letras, que sempre defendeu a liberdade de expressão, a diversidade social. E A hora da estrela, a partir da história de Macabéa, nordestina migrante, mostra os apagamentos das classes desfavorecidas”, continua Guiomar. Biógrafa de Clarice, a professora e pesquisadora Nádia Battella Gotlib ministra um minicurso (duas horas) no fim desta semana.
Para além da imersão na obra da escritora, há mesas que debaterão outras questões literárias. O pensador francês Roger Chartier participa do último dia do evento, tentando responder à seguinte provocação: É possível um mundo sem livros e sem livrarias?. Em sua fala, o historiador discute como as mudanças digitais afetaram a leitura e a literatura.
A ESCRITORA EM FOCO
>> Hoje, 11h – “Clarice Lispector, Marguerite Duras, Nathalie Sarraute: Mulheres à procura de um novo romance”. Com Teresa Montero, Germana Henriques Pereira e Ana Lúcia Lutterbach Holk
>> Terça (8), 12h – “Editar Clarice Lispector, na França e no Brasil”. Com Christine Villeneuve, Pedro Vasquez e Victor Burton
>> Quarta (9), 18h – “A tradução e o indizível: Clarice Lispector em francês”. Com Didier la Maison e Izabella Borges
>> Quinta (10), 15h – “O livro das horas: A hora das estrelas” Com Nélida Piñon
>> Sexta (11), 14h – “Clarice: uma vida que se conta”. Minicurso com Nádia Battella Gotlib
>> Dia 15, 11h – “Em torno das perguntas de Clarice”. Com Júlia Panadés e Juliano Garcia Pessanha
>> Dia 15, 17h – “Clarice, hoje”. Com Claire Varin e Simone Paulino
FÓRUM DAS LETRAS
O evento, on-line, será realizado desta segunda a 18 de dezembro. Programação disponível no site www.forumdasletras.com. Gratuito.