Jornal Estado de Minas

BIOGRAFIA

Cris do Morro lança 'Favela e sociedade: Um muro a ser derrubado'


Morador do Morro do Papagaio, onde nasceu há 47 anos, Cris do Morro descobriu há 30 que poderia fazer a diferença. Tinha 17 quando começou a promover pequenas festas de rua. Mais tarde, como locutor da Rádio União, também naquele aglomerado da Região Centro-Sul de BH, viu que poderia ajudar. “Tinha ouvinte que me ligava e pedia cadeira de rodas, por exemplo”, relembra. Alguns desses pedidos viravam realidade depois de ir ao ar.





As festas pequenas se tornaram maiores e ele passou a se envolver ainda mais com os moradores do Papagaio. Favela x sociedade – Um muro a ser derrubado (editora Getsêmani), primeiro livro de Cris do Morro, acompanha a trajetória do autor como líder comunitário e apresenta questões que interessam à sociedade como um todo. O lançamento será nesta segunda-feira (21), na academia Body Energy, no Carlos Prates.

“O desafio do livro é mostrar para o morador de favela e para o dos bairros que todos estamos no mesmo barco. Existe tanto o preconceito meu, como morador de favela, quanto o da pessoa que vive no asfalto. O livro mostra que essa divisão tem que ser quebrada”, comenta ele.

PRADO LOPES

Belo Horizonte acabou de completar 123 anos. “Mas ninguém sabe a idade que tem uma favela da cidade”, afirma Cris. “Pois a Pedreira Prado Lopes, na região Noroeste, a mais velha de BH, foi o lugar onde as pessoas – carpinteiros, pedreiros, pintores – que construíram os prédios da capital foram morar. Ou seja, a favela tem uma história antes de BH.”





No livro, ele busca esclarecer questões ligadas aos morros. “Quando falam em liderança comunitária, muitas vezes as pessoas pensam que é o líder de favela. Mas é tanto o da favela quanto dos bairros, cada um no seu espaço.”

Cris é bastante crítico aos políticos. “Eles trabalham para atingir a favela com o voto, mas não nos incluem em suas políticas públicas”, afirma.

O autor destaca termos que, em sua opinião, são utilizados geralmente de forma errônea. “Sou contra a expressão comunidade carente, pois quando se fala assim você joga no colo do terceiro setor uma responsabilidade que é do Estado. O que existe são as comunidades sem acesso – sem acesso à educação, à moradia.”

A cultura da favela, de acordo com Cris, vai muito além do senso comum. “As pessoas acham que só tem samba e hip-hop, que eles vêm do morro. Não. A música original da favela é raiz, da moda de viola, da folia de reis”, garante.





E para tirar dúvidas sobre terminologias ligadas a essas regiões urbanas, Cris é o mais didático possível. “Favela é uma só. Por exemplo, o Morro das Pedras. Aglomerado reúne mais de uma favela – são três em BH: o Morro do Papagaio, a Serra e Cabana do Pai Tomás. Já comunidade é onde você vive, seja a favela ou o asfalto”, conclui.

FAVELA X SOCIEDADE – UM MURO A SER DERRUBADO
• De Cris do Morro
• Editora Getsêmani
• 140 páginas
• R$ 35
• Lançamento nesta segunda-feira (21), das 16h às 18h, na academia Body Energy, Rua Padre Eustáquio, 920, Carlos Prates. Transmissão pelo Instagram (@cris_do_morro). 
• Informações: (31) 98657-4221.

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