Antes da pandemia, Roberta Campos planejava gravar o quinto álbum da carreira, sucessor de Todo caminho é sorte (2015). O repertório estava pronto e a cantora, compositora e violonista mineira pretendia gravá-lo em março. Diante das restrições impostas pela COVID-19, o cronograma foi alterado e ela entrou em estúdio somente em ou- tubro. No tempo em que passou em casa, outras músicas foram surgindo e Roberta decidiu agrupá-las num EP inspirado por reflexões surgidas durante o isolamento social.
Assim nasceu Só conheço o mar, trabalho recém-chegado às plataformas digitais que funciona como um aceno para o que a artista irá apresentar no novo disco, agora programado para 2021.
“São canções sobre sentimentos que invadiram o meu peito durante os momentos de completa incerteza que vivemos este ano. É um compilado de emoções de um isolamento a dois e um isolamento em mim mesma. Mas também é a forma que encontrei de falar sobre a retomada do mundo e a certeza que carrego de que tudo vai ficar bem”, explica.
ESTREIA Com produção musical orquestrada por Roberta Campos, estreante na função, e Sergio Fouad, o trabalho traz quatro músicas que a artista compôs sozinha, além de Cada acorde é seu, assinada em parceria com Marina Campos, sua esposa, empresária e sócia na produtora RoMa.
“Convidei Marina para essa parceria porque ela foi a minha grande companheira desses dias em casa. Não tinha como ser diferente. Minha quarentena teve início nessa união, algo que manteve a minha sanidade, me ajudou a compreender o caos que estávamos enfrentando”, conta.
"É um compilado de emoções de um isolamento a dois e um isolamento em mim mesma. Mas também é a forma que encontrei de falar sobre a retomada do mundo"
Roberta Campos, cantora e compositora
Igualmente romântica, Meu amor é seu foi escolhida para anunciar a chegada do trabalho. A música ganhou clipe que mostra a artista em cenários bucólicos.
Boa letrista, Roberta Campos cria uma verdadeira saga em Sentinela, canção de instrumental simples e versos elaborados. Em Me leve pra voar, ela descreve a falta de autoidentificação, ainda que sem perder o olhar positivo da situação.
Por fim, Tudo vai ficar bem é uma mensagem na garrafa. Cheia de metáforas, a letra aponta para os dias que ainda virão.
Ainda que composto durante a quarentena, Só conheço o mar converge para uma calmaria quase paradoxal. Não fosse pela carreira já consolidada de Roberta Campos, as letras soariam deslocadas para um ano como 2020. Ela explica que foi a válvula de escape possível para os dias em casa, mas que também enfrentou dias tenebrosos.
“Chegou um momento em que parecia que a gente não ia encontrar luz no fim disso tudo. Na verdade, a gente ainda não encontrou. Mas a música tem sido a minha luz. Por isso me agarrei tanto a ela. Além disso, foi um momento importante para me concentrar em outras partes importantes do meu trabalho, como a relação com os fãs nas redes sociais”, afirma.
OUTRA COISA Roberta esclarece que o EP não tem relação com o álbum que sai em 2021. Tanto é que o disco, já gravado, conta com produção musical de Paul Ralphes, além da presença de Alberto Continentino (baixo), Rodrigo Tavares (teclados), Guilherme Schwab (guitarra, dobro, lap steel e weissenborn) e Pedro Mamede (bateria).
Apesar de mais enxuto, o EP contou com equipe maior: Abrahão Saraiva (viola), André Lima (piano, hammond e teclados), Camila Hessel (violoncelo), Conrado Goys (guitarra), Cuca Teixeira (bateria), Fernando Nunes (baixo elétrico), Francisco Krug (violino), Heitor Fujinami (violino), Josué B dos Santos (saxofone), Otávio Gali (baixo acústico e elétrico), Paulo Malheiros (trombone) e Rubinho Antunes (flugelhorn).
Aliás, o próprio repertório do EP estava pronto antes da pandemia. Segundo ela, são dois universos diferentes. “Optei por um trabalho que tivesse essas cinco músicas separadamente porque elas não combinam conceitualmente com o ál- bum. São canções que falam de outro momento, ambientadas no meu sentir durante o isolamento. O que preparei para o disco é muito diferente disso”, conclui.