Pedro Galvão
Inevitavelmente, o nome do norte-americano Pete Docter, associado aos estúdios Disney e Pixar, transforma qualquer animação em potencial sucesso de bilheteria, além de candidata a grandes prêmios. Não é para menos. Aos 52 anos, o cineasta, argumentista e produtor coleciona dezenas de troféus em sua carreira desde que assinou a cocriação do roteiro de Toy story, lançado em 1995.
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Anunciado oficialmente ainda em 2019, com direito a título e sinopse – embora já se soubesse que Docter trabalhava “em um novo projeto” após Divertida mente –, o filme tinha previsão de chegar aos cinemas em junho deste ano. Porém, foi mais um candidato a blockbuster que a pandemia atrapalhou.
Reprogramado para novembro e posteriormente adiado para este dia de Natal, Soul teria destaque no Festival de Cannes, previsto para maio. O evento francês acabou cancelado, oferecendo apenas o “selo de aprovação” a 56 filmes.
Patamar
Com grande contribuição de Pete Docter, Disney e Pixar, as animações norte-americanas ganharam novo patamar na última década. Mais que histórias divertidas para a criançada ou “para toda família”, elas passaram a abordar temas de relevância social e comportamental.Divertida mente, por exemplo, trazia aventura, cores, efeitos especiais, personagens carismáticos e humor, mas a trama tratava essencialmente da complexidade da mente humana. Tanto que no Oscar 2016, recebeu indicações não apenas na categoria dedicada a desenhos animados, mas de Melhor roteiro original, estatueta que acabou ficando com Spotlight: Segredos revelados.
Codirigido por Kemp Powers, Soul vai na mesma toada. Como o título em inglês evidencia, é um filme centrado na alma. A trama nada tem a ver com espiritualidade, religião e vida após a morte, mas com aquilo que nos torna o que somos.
Pela primeira vez, um filme da Disney/Pixar tem protagonista negro: Joe Gardner, professor de música apaixonado por jazz, o que dá ainda mais notoriedade à trilha sonora.
Quando surge a grande oportunidade na vida profissional de Joe, que, finalmente, tem a chance de se apresentar num palco importante, ele se acidenta. O músico “acorda” sem o seu corpo, em outro plano existencial.
Dublado pelo ator Jamie Foxx na versão original, o protagonista é apresentado ao lugar onde as almas surgem e desaparecem. Como supostamente já teria encerrado sua passagem pela Terra, Joe está ali para ser enviado ao chamado Grande Além.
Mesmo sem entender a dinâmica dessa nova realidade, aquilo não soa nada bem ao professor. Joe, então, tenta reverter a situação, dando início à aventura de Soul. Ansioso por retomar seu corpo e seguir a vida, que finalmente lhe sorriu com uma grande oportunidade, ele tenta compreender onde foi parar, o que não parece simples.
Joe descobre que se encontra em um local metafísico chamado Seminário Você. Por lá, enquanto almas desaparecem, como seria o caso dele, outras surgem e são preparadas para assumir corpos recém-nascidos na Terra. A estrutura é complexa, com vários funcionários e funcionárias intensamente dedicados a organizar o empreendimento metafísico.
Nesse contexto, Joe conhece 22, alma que nunca encarnou. Embora divertida e carismática, a personagem (dublada por Tina Fey) tem uma visão obscura do que seria a vida. Ela passa sua existência preparando outras almas para virem ao mundo, debochando de tudo o que acontece por aqui.
Porém, a ambientação nesse “outro lado da vida” é apenas o ponto de partida para o que a história realmente vai entregar ao espectador. Acompanhado por 22, Joe volta à velha rotina – não exatamente como planejava –, enquanto ela, finalmente, ganha um corpo.
A história, então, se transfere para as ruas de Nova York, deslumbrantemente recriadas por computação gráfica. A sequência de acontecimentos vai apresentando à dupla sutilezas e belezas da vida, remetendo ao ponto principal da trama: o entendimento sobre o que move nossas paixões e faz cada um ser quem é, com suas características e vontades.
“Podemos colocar tudo em nosso trabalho. Ainda assim, é realmente o melhor uso do que temos? Quer dizer, para que estamos aqui?”, afirmou Pete Docter numa entrevista sobre Soul ao portal norte-americano IGN.
Pandemia
Em outras conversas com jornalistas, Pete revelou que o questionamento feito pessoalmente por ele sobre a própria vida orientou a concepção do filme. O resultado foi construído com mensagem positiva e otimista que, oportunamente, chega às telas neste momento angustiante de um mundo às voltas com a COVID-19.Entretanto, o acesso a Soul será exclusivo para assinantes da Disney , que chegou ao Brasil em novembro. Escolha semelhante à adotada pela Disney para o longa Mulan, que, ao ter seu caminho para as salas de cinema prejudicado pela pandemia, foi lançado diretamente na plataforma de streaming.
SOUL
. Animação
. Disney/Pixar
. Direção: Pete Docter e Kemp Powers
. 100 min.
. Disponível na plataforma Disney