Enfrentando os notórios trancos e barrancos do recém-terminado 2020, a rapper mineira Iza Sabino encerrou o ano com balanço positivo. A escalada começou em abril, com o lançamento do álbum Best duo, em parceria com o rapper FBC. Depois disso, ela investiu no grupo Fenda. Por fim, em novembro passado, ela colocou na praça seu primeiro álbum solo, Glória.
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O que tomou mais tempo foi a parte visual do trabalho. “Foi a forma que eu encontrei de mostrar que a mulher negra pode ser desse jeito. Quis criar uma estética suave e bonita para empoderar as pessoas que me acompanham. A glória também é uma questão estética.”
CALMA
Para ela, o título dado ao trabalho significa um estado de espírito que se alcança com inteligência, calma e bondade. “Atingir a glória é você se conhecer e entender que as pessoas racistas ou abusivas são ignorantes. Atingir a glória é acreditar na lei do retorno e deixar o tempo agir por si”, aponta.
Aliás, os dois grandes temas do álbum são justamente o racismo e os relacionamentos tóxicos. As faixas Glória - Intro e Pretas na rua, essa com a participação da dupla Tasha & Tracie, trazem trechos da entrevista que Elza Soares concedeu ao programa Roda viva em 2002.
“O que me impressiona é como ela fala de maneira tão sentimental e sincera sobre temas tão íntimos e difíceis. Para mim, ela atingiu a glória porque perdoou uma série de pessoas que a prejudicaram no passado. E ela fala com uma simplicidade, mesmo sendo uma mulher gigante”, comenta.
Para Iza, a importância de abordar temas espinhosos como esse está em estabelecer uma conexão com o público. “Muita gente me manda mensagem elogiando as letras, dizendo o quanto se identificou com as histórias e com os temas. E é importante jogar luz sobre esses temas, porque existem por aí mulheres que passam por isso e não conseguem distinguir. Principalmente em se tratando de relacionamentos que não são saudáveis.”
A artista também comemora o reconhecimento que vem recebendo desde a estreia. Segundo ela, nomes de peso do rap brasileiro, como Djonga, Emicida, Rashid e Sant divulgaram Glória em suas redes sociais.
Aos 21 anos, ela encara com seriedade a questão da visibilidade feminina no rap. “Procurei trazer as minas junto comigo, porque isso é o mínimo que eu quero fazer. As três são minas com quem eu tive uma visão muito forte de somar com elas. Acho que elas fizeram toda a diferença nesse meu trabalho. Fiquei muito feliz por elas terem aceitado, acreditado e botado fé”, comemora.
Segundo Iza, a visibilidade que o rap mineiro alcançou nos últimos anos é devida à versatilidade dos artistas da cena. “Todo mundo por aqui não se prende. Tem gente fazendo tudo quanto é tipo de música. Temos essa originalidade.”Ao lado de Mayi?, Paige, Laura Sette e DJ Kingdom, Iza Sabino integra o grupo Fenda. Formado no final de 2019 para a abertura do show de Criolo em BH, o encontro deu certo e rendeu frutos. Em 2020, o quinteto lançou quatro singles: Não se ofenda, Girlgang, Casa das prima e Manda foto de agora. Para este 2021 elas preparam um álbum que deve ser lançado até julho.
Da mesma forma, Iza faz planos para dar continuidade à carreira solo. “Tenho várias parcerias com outros artistas programadas e também quero lançar um outro álbum, no final do ano que vem.”
Uma das parcerias é com o próprio Coyote, que no último dia 18 lançou Glória: Instrumentals, álbum que reúne as versões instrumentais das músicas que compõem o disco de Iza Sabino.
GLÓRIA
De Iza Sabino
9 faixas
Macacolab
Disponível nas plataformas digitais