Maior e mais tradicional evento cultural realizado no início do ano em Belo Horizonte, a Campanha de Popularização do Teatro e da Dança terá edição em 2021, apesar da pandemia da COVID-19. Só não se sabe em que formato. Prevista para ter início nesta quarta-feira (6/1), a 47ª. edição do evento será definida somente na manhã desta segunda (4/1).
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Alzheimer é tema da nova peça de Ilvio Amaral e Maurício CanguçuComédia dirigida por Ilvio Amaral ironiza a burocracia brasileiraMesmo com temporais de janeiro, Campanha de Popularização não fez águaMorre Gerry Marsden, de Gery and the Pacemakers, que rivalizou com BeatlesBráulio Tavares diz que ficção científica é melhor em livros do que na tela“Estamos de pés e mãos atados, e essa é uma questão no mundo inteiro, que está com teatros fechados. Não posso tomar a decisão sozinho, precisamos dos filiados do Sinparc para definir. Porque, de repente, podemos começar a Campanha, e o prefeito (Alexandre Kalil) pode, por exemplo, fechar a cidade no dia 15”, afirma Dilson Mayron, coordenador do evento.
O produtor informa que, caso na reunião desta segunda seja decidido que a Campanha terá o formato digital, sua data de início será prorrogada. “Ou é uma coisa ou outra, não temos dinheiro para fazer os dois formatos, tudo é muito caro”, diz Mayron, referindo-se à tecnologia necessária para transmissões on-line.
TEMPORADA
Se o formato on-line prevalecer, deverá haver um novo edital para definir quais espetáculos serão apresentados. Até o momento, a Campanha está prevista para ser realizada entre 6 de janeiro e 7 de fevereiro. Um dos quesitos necessários para que um espetáculo participe do evento é que ele tenha cumprido temporada no ano anterior.
No entanto, em decorrência da pandemia do novo coronavírus, que fez com que os teatros ficassem fechados por sete meses e meio, o edital para a edição 2021 foi modificado. Deixou de existir a obrigatoriedade da temporada no ano anterior e foi aberta a participação para espetáculos estreantes. Encerrado no início de novembro, o edital teve 80 montagens inscritas, entre adultas e infantis.
“Com o passar do tempo, muitos produtores ficaram com medo e nos mandaram carta pedindo para sair”, conta Mayron. Daí o número atual de 55 espetáculos, que ainda poderá mudar, caso o formato presencial seja substituído pelo virtual.
Às vésperas da data de início prevista, o coordenador afirma que todos os teatros já estão agendados, inclusive espaços públicos, como as salas Juvenal Dias e João Ceschiatti (estaduais, do Palácio das Artes) e os teatros Marília e Francisco Nunes (municipais).
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Alzheimer é tema da nova peça de Ilvio Amaral e Maurício CanguçuComédia dirigida por Ilvio Amaral ironiza a burocracia brasileiraMesmo com temporais de janeiro, Campanha de Popularização não fez águaMorre Gerry Marsden, de Gery and the Pacemakers, que rivalizou com BeatlesBráulio Tavares diz que ficção científica é melhor em livros do que na telaDos espetáculos previstos para a Campanha, somente dois estrearam, em curtíssima temporada, em 2020. São eles o drama Maio, antes que você me esqueça, texto e direção de Jair Raso para a Cangaral Produções, de Maurício Canguçu e Ílvio Amaral (teve duas sessões no início de dezembro no Teatro Feluma) e a comédia Como vencer a burocracia sem ter um infarto, texto de Ed Vasconcellos, direção de Ílvio Amaral, com os atores Fernando Veríssimo e Lucas Barbosa (três apresentações no Teatro de Câmara do Cine Theatro Brasil Vallourec, em novembro).
Maio, que estreou em 21 de novembro passado, com apresentação única em Fortaleza, foi escrita há 12 anos por Jair Raso, a pedido de Canguçu e Amaral. O texto acompanha a relação de um filho e seu pai, que sofre de Alzheimer.
“Quando o Jair escreveu, o pai do Ílvio tinha falecido e a minha mãe tinha sido diagnosticada com Alzheimer. Na época, não tínhamos maturidade para montá-la. Na pandemia, começamos a ler de novo e, quando o fizemos, começamos a chorar e a rir. Ligamos para o Jair e ele só nos perguntou quando queríamos fazer”, relembra Canguçu.
Os ensaios começaram no final de setembro. “Também havia a necessidade de trabalhar, atuar. Nunca fiquei tanto tempo sem fazer teatro”, comenta ele. Nos ensaios, Jair Raso, que é neurocirurgião, acompanhou de máscara a dupla de atores. Nas duas apresentações, a casa estava cheia. “O ‘novo lotado’, que é meia casa”, acrescenta Canguçu.
Para ele, reencontrar o público foi especial. “Foi maravilhoso para a gente, que está muito carente de família, amigos.” Ílvio Amaral concorda: “Tive medo, pois não sabia como iria acontecer (a peça). Mas o teatro, cheio de protocolos, foi muito seguro, e isto nos tranquilizou na volta ao palco, que não é a mesma coisa que fazer on-line. A respiração, a energia do público, isto falta.”
Amaral fez toda a direção de Como vencer a burocracia sem ter um infarto de máscara. “Foi um processo cheio de cuidados e as três apresentações foram bem-sucedidas. Teve um público espontâneo de pagantes. Não demos convite, já que a produção precisava ter o retorno (de bilheteria) para pagar a peça e o aluguel do teatro.”
A dupla é responsável pelo sucesso mais longevo da Campanha de Popularização, a comédia Acredite, um espírito baixou em mim, que desde que estreou, 23 anos atrás, nunca deixou de participar do evento. Já há 15 datas agendadas no Cine Theatro Brasil Vallourec para o espetáculo criado por Ronaldo Ciambroni. Mas, caso seja definido que a Campanha seja digital, nem esta comédia nem tampouco Maio serão apresentados.
“Nós, artistas, temos um compromisso com a sociedade. Foram os artistas – através dos filmes, séries, peças – que mantivemos as pessoas no prumo durante a pandemia. Então, se os órgãos sanitários indicarem que estamos em perigo, não podemos dizer para as pessoas ‘vá para a rua, vá ao teatro’. Mas, se tiver um caminho (de fazer apresentações presenciais), nós faremos. O que não quero é fazer on-line”, afirma Canguçu.
Em setembro, Acredite, um espírito baixou em mim foi apresentada no Cine Theatro Brasil em uma transmissão digital, que teve um público de 10 mil pessoas. “Eu queria passar por esta experiência e passei. Mas não quero mais. A linguagem é outra. Tentei, mas não consegui ver nenhuma peça filmada. Faço teatro porque acredito, gosto, me completa”, diz Canguçu.
Amaral, que também é vice-presidente do Sinparc, tampouco vai levar Acredite, um espírito... e Maio para os palcos, caso o formato definido seja o virtual. “A decisão (de manter os teatros abertos ou não) é do prefeito, do secretário de saúde. O Espírito... on-line ficou muito aquém do trabalho. E Maio, que é novo, prefiro esperar, quando houver licença das autoridades responsáveis”, conclui.
VAC SÓ EM 2022
Outro evento já tradicional deste período, o Verão Arte Contemporânea (VAC), promovido há 14 anos entre janeiro e fevereiro, não terá edição em 2021. “Não vamos fazer, primeiramente porque sempre trabalhamos com a produção recente dos grupos, não repetimos espetáculos (da edição anterior) e a produção artística ficou muito comprometida (com a pandemia)”, afirma Ione de Medeiros, organizadora do VAC. O evento que apresenta espetáculos, shows, exposições e exibições de filmes teria sua 15ª. edição neste ano. “Vamos realizá-la em 2022, espero que com mais tranquilidade. Não quis fazer uma produção mista com vídeo, pois ainda acredito no teatro presencial”, acrescenta.