Investigar a relação da arte com o universo científico é o lema central do Núcleo Arte Ciência no Palco (ACP), da Cooperativa Paulista de Teatro, criado em 1998. Ao longo dessa trajetória, os integrantes do grupo, principalmente as atrizes, vêm questionando a falta de montagens sobre a participação feminina no setor. Foi assim que nasceu a peça Insubmissas – Mulheres na ciência, que estreia em formato on-line nesta quarta-feira (13/1), às 17h, via YouTube e Facebook.
O texto, assinado pelo dramaturgo Oswaldo Mendes e dirigido por Carlos Palma, mostra o improvável encontro entre quatro cientistas que, apesar de terem vivido em diferentes momentos da história, compartilham as angústias de ser mulheres numa área dominada pelos homens.
NOBEL
Uma dessas figuras é a polonesa Marie Curie (1867-1934), pioneira no ramo da radioatividade, ganhadora de dois prêmios Nobel – de física, em 1903, e de química, em 1911 – e a primeira mulher admitida como professora na Universidade de Paris. Outra cientista destacada pela peça é a filósofa Hipácia de Alexandria (351- 415), considerada a primeira matemática.Por sua vez, a química britânica Rosalind Franklin (1920-1958) conduziu importante pesquisa sobre o entendimento das estruturas moleculares do DNA e do RNA. Quem completa o quarteto é a bióloga brasileira Bertha Lutz (1894-1976), que atuou como pesquisadora do Museu Nacional do Rio de Janeiro e dedicou sua vida à luta pelos direitos da mulher.
O elenco é composto pelas atrizes Adriana Dham, Leticia Olivares, Monika Plöger, Selma Luchesi e Vera Kowalska.
“Estamos vivendo um momento muito legal de resgate e valorização da presença feminina. Isso se reflete no nosso trabalho como grupo. Para produzir esse texto, Oswaldo Mendes se debruçou sobre a questão da mulher na ciência e foi percebendo as angústias e dores vividas por elas dentro de seus universos”, explica o diretor Carlos Palma.
Para trazer a história delas à tona, uma voz masculina – do ator Rogério Romera – provoca as personagens a falarem sobre si. Segundo Palma, a peça pode ser dividida em duas partes. Na primeira, “mais didática”, as cientistas são devidamente apresentadas. Na segunda, “mais brechtiana”, a quinta personagem entra em cena e promove uma espécie de insurgência contra o patriarcado.
“Esta não é uma mulher da ciência. Ela representa todas as mulheres, surpreende as quatro que já estão no palco e ocupa o papel de provocadora, assim como o homem. Só que aparece ali para mudar o tom das provocações, torná-las menos um conflito de gênero e mais o reconhecimento das opressões”, observa Palma.
Segundo ele, Insubmissas não tece críticas ao negacionismo científico que se popularizou no mundo. “É uma peça séria. Para lidar com negacionismo é preciso humor. Não há como negar o valor que a ciência tem em nossa vida. Tudo o que o ser humano conquistou foi graças a ela. Então, o que precisamos fazer é entusiasmar nossos jovens pela busca do conhecimento”, afirma o diretor.
Originalmente apresentado em 2015, o espetáculo cumpre dupla temporada e será encenado em dois espaços. A primeira, que começa hoje e vai até terça-feira (19/1) – com exceção de amanhã (14/1) –, se dará no Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso.
A segunda, no palco do Teatro Cacilda Becker, começa em 22 de janeiro e segue nos dias 23, 24, 29, 30 e 31 deste mês.
EM CASA
Para viabilizar a versão digital da montagem, foram feitas algumas adaptações, como a gravação de algumas passagens de cada atriz em casa. A duração foi reduzida de 80 para 60 minutos.“O trabalho de adaptação foi feito com muito cuidado e angústia. Tivemos de ficar atentos a todos os detalhes e, principalmente, à iluminação das cenas pré-gravadas. Também tiramos um pouco da teatralidade, do exagero, para tornar a interpretação mais visceral”, conta Carlos Palma.
A versão virtual apresenta, antes do início do espetáculo, as trajetórias da socióloga Ruth Cardoso (1930-2008) e da atriz Cacilda Becker (1921-1969), que emprestam seus nomes aos teatros onde o trabalho é encenado.
INSUBMISSAS: MULHERES NA CIÊNCIA
Espetáculo dirigido por Carlos Palma. Com Adriana Dham, Leticia Olivares, Monika Plöger, Selma Luchesi, Vera Kowalska e Rogério Romera. Hoje (13/1), às 17h, no canal do YouTube do núcleo ACP e na página do Facebook do Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso. A peça segue em cartaz nos dias 15 (às 17h), 16 (às 15h e 17h), 17 (às 17h) e 19 de janeiro (às 19h). Entre 22 e 31 de janeiro, transmissões a partir do Teatro Cacilda Becker às sextas e sábados, às 21h, e aos domingos, às 19h.