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Estado de Minas TELEVISÃO

Noveleiros aderem à maratona e dão ibope para antigos sucessos da TV

'Tieta'', 'Top model' e 'Roque Santeiro' voltam às telas, por meio de plataformas de streaming


16/01/2021 04:00

Fãs foram ao YouTube maratonar O sorriso do lagarto, com Tony Ramos, Maitê Proença e Raul Cortez(foto: Globo/reprodução)
Fãs foram ao YouTube maratonar O sorriso do lagarto, com Tony Ramos, Maitê Proença e Raul Cortez (foto: Globo/reprodução)
Quando reserva um tempo para rever Top model (1989), novela de Walther Negrão e Antônio Calmon, a dona de casa Ana Gabriela Necchi, de 36 anos, emenda até seis capítulos seguidos. É a terceira vez que ela assiste à trama estrelada por Malu Mader e Nuno Leal Maia – além da exibição original, já viu pelo YouTube e, agora, segue pela plataforma de streaming Globoplay, que há cerca de seis meses colocou em seu catálogo, além de séries e documentários, novelas antigas do acervo da TV Globo, tão cobiçadas pelos amantes de telenovelas.

Com tantas opções ao alcance do controle remoto – Netflix e Amazon Prime Video exibem tramas contemporâneas –, maratonar um folhetim, algo tão habitual para os aficionados por séries, tem se tornado cada vez mais comum aos noveleiros de plantão. Mas o que isso muda na relação deles com o gênero, além de não ter mais que esperar o Vale a pena ver de novo ou o Canal Viva reprisar aquela trama tão desejada?

CARROSSEL

A primeira novela que Ana Gabriela acompanhou foi a mexicana Carrossel, exibida pelo SBT/Alterosa entre 1991 e 1992. Virou fã dos folhetins. Mas “a coisa piorou”, como ela diz, quando o Canal Viva entrou no ar, há pouco mais de 10 anos. 
     
“Quando gosto, paro para ver mesmo. Além de Top model, Por amor, Felicidade e História de amor estão entre as minhas outras preferidas, já assisti duas, três vezes cada”, diz. No streaming, ela também acompanha a série As Five, derivada da temporada de Malhação: Viva a diferença (2017).

O próprio Viva já exibe, desde 2017, maratona de capítulos no sábado e domingo para atender à demanda de quem não pode acompanhá-los durante a semana.

Para o mestre em teledramaturgia Mauro Alencar, também autor do livro A Holllywood brasileira – Panorama da telenovela no Brasil, era inevitável que as novelas fossem parar no streaming. Segundo Alencar, o hábito de maratonar um produto cultural é mais antigo do que se possa imaginar, e vem se moldando ao longo dos anos. Portanto, não foi algo criado pelos fãs de séries e, a partir de agora, seguido pelos apreciadores de telenovelas.

“É uma nova roupagem para assistir a um seriado, novela ou ler um livro de forma ininterrupta. Isso já ocorria em 1830 com Os mistérios de Paris (folhetim de Eugène Sue). Depois, no Brasil, com sucessos como A escrava Isaura (romance de Bernardo Guimarães, lançado em 1875). Os leitores acompanhavam as histórias em capítulos publicados nos jornais e, mais adiante, com o lançamento do romance, poderiam ler de uma só vez a história antes parcelada. O que vale é a maneira como esse produto está disponibilizado no mercado. Você pode ler a série literária de romances históricos que compõem O tempo e o vento de uma só vez ou pode ler um capítulo por dia, respeitando as partes do todo: O continente, O retrato e O arquipélago. Maratonar, tendo o produto em mãos, é do gosto do freguês”, diz.

Eduardo Conceição, de 36, criador do perfil Memória Teledramatúrgica no Instagram e no YouTube, somando mais de 200 mil seguidores, acompanha novelas desde a infância. O interesse nasceu por meio de folhetins de Antonio Calmon – autor, entre outras, de Top model, Vamp e O beijo do vampiro. “Ele mexia com o universo infantojuvenil. Meus amigos da época assistiam também. Fui fisgado”, conta.

Atualmente, Eduardo maratona Amor à vida (2013), novela de Walcyr Carrasco que consagrou o ator Mateus Solano no papel de Félix Guerreiro. Solano e Thiago Fragoso protagonizaram o primeiro beijo gay em novelas da Globo.

“Cliquei para ver o primeiro capítulo e não parei mais. Gosto de assistir com calma, sem pressa, sem devorar os capítulos”, diz Eduardo, que, antes, maratonou Fera radical.

“Você pode assistir na hora em que quiser, sem comerciais, pode pausar. Não ter um horário exato de uma novela, como no canal aberto, já é ótimo. Além disso, há muitas opções. Acredito que essa forma de ver novela vai crescer muito ainda.”
Betty Faria conquistou o Brasil ao protagonizar a novela Tieta, a reprise mais acessada na plataforma Globoplay em 2020 (foto: Globo/divulgação)
Betty Faria conquistou o Brasil ao protagonizar a novela Tieta, a reprise mais acessada na plataforma Globoplay em 2020 (foto: Globo/divulgação)

RESGATE

O Globoplay – que tem em catálogo quase 100 novelas para os assinantes, um novo lançamento é feito a cada 15 dias – informa, via assessoria de imprensa, que o plano de resgate das telenovelas, que começou em maio, é um dos mais bem-sucedidos da plataforma.

De janeiro a outubro de 2020, a plataforma registrou, na categoria novelas, aumento de 150% de horas consumidas em comparação com o mesmo período de 2019.

No primeiro semestre de 2020, houve aumento de mais de 145% na base de assinantes, comparado com o ano anterior. “A novela, produto importante do nosso catálogo, tem influência nesses resultados”, diz a assessoria de imprensa da plataforma.

Entre os títulos à disposição estão os clássicos Roque Santeiro (1985), Brega & chique (1987), Meu bem, meu mal (1990) e Avenida Brasil (2012).

A mais vista em 2020 foi Tieta (1989), adaptação do romance Tieta do agreste, de Jorge Amado, escrita por Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares, com direção-geral de Paulo Ubiratan e Betty Faria como protagonista.


Só tinha no YouTube...

Antes de encontrar um refúgio oficial, amantes das novelas recorriam ao YouTube ou a grupos nas redes sociais que publicavam capítulos, resumos e novelas inteiras. Em um deles, com cerca de 9 mil participantes, era possível assistir à minissérie O sorriso do lagarto, que ainda não está nos canais oficiais. Ou maratonar os capítulos de tramas que vinham sendo exibidas na Globo e no Viva.

De acordo com um dos moderadores desse grupo, que prefere não se identificar, eles começaram a receber notificações de que estavam infringindo a lei de direitos autorais. Isso começou depois que um blogueiro fez postagem dizendo que era possível encontrar na internet novelas com qualidade de imagem superior às disponíveis no Globoplay. Por isso, o grupo foi encerrado.

A plataforma reconhece o problema e diz que já tem calendário, que vai até abril, para que as tramas que ainda não estejam em HD tenham a imagem atualizada.

100 días para enamorarnos está entre as comédias românticas mais assistidas na Netflix(foto: Netflix/divulgação)
100 días para enamorarnos está entre as comédias românticas mais assistidas na Netflix (foto: Netflix/divulgação)

Plataformas apostam 
no sotaque latino

Nem só de produções antigas vivem os noveleiros. Na Netflix, a comédia romântica 100 días para enamorarnos, produzida pela rede americana de língua espanhola Telemundo, entrou em catálogo em setembro e ficou no ranking das atrações mais vistas na plataforma.

Protagonizada pelos atores mexicanos Erick Elias (de Betty em NY) e Ilse Salas, a trama aborda temas como relacionamentos, bullying e homossexualidade. São 57 capítulos disponíveis – as gravações, paralisadas devido à pandemia, já foram retomadas.

Na Amazon Prime Vídeo, é possível assistir, desde novembro, aos 125 capítulos de 100 días para enamorarse, produção argentina escrita por Sebastián Ortega na qual 100 días para enamorarnos foi inspirada. A versão estreou em 2018 pela Telefe.

Na Globoplay, a expectativa é para a continuação de Verdades secretas, prometida para estrear primeiro no streaming. Escrita por Walcyr Carrasco e Maria Elisa Berredo, a trama, de 2015, contou a história de Angel (Camila Queiroz), aspirante a modelo que, ao entrar para o mundo da prostituição, conhece o ambicioso empresário Alex (Rodrigo Lombardi).
Verdades secretas 2 ainda não tem data para estrear, mas, além de Camila Queiroz, foram confirmados no elenco Romulo Estrela, Sergio Guizé e Reynaldo Gianecchini.

original Para os “noveleiros raiz”, a novidade já anunciada (mas sem data prevista) é a inclusão no Globoplay da primeira versão de Pecado capital, sucesso de Janete Clair de 1975, reexibida pela última vez na TV aberta em 1982.

“A expectativa é imensa, pois é uma das novelas mais brilhantes não apenas de Janete Clair, mas da história da telenovela brasileira”, diz Mauro Alencar, autor de A Hollywood brasileira – Panorama da telenovela no Brasil. (Estadão Conteúdo)


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