Jornal Estado de Minas

CINEMA

Primeiro festival do ano, Mostra de Tiradentes será só on-line

Realizada há 24 anos na charmosa cidade histórica no Campo das Vertentes, a Mostra de Cinema de Tiradentes não irá encher suas praças e ruas pela primeira vez em sua história. Hoje um dos mais importantes eventos cinematográficos no calendário nacional e com foco na produção independente, a Mostra terá sua edição 2021 integralmente on-line, a partir da próxima sexta-feira (22/1). 

Com possibilidade de alcançar uma audiência mais diversa, na contrapartida da impossibilidade de encontros presenciais, a curadoria tenta levar para o ambiente digital a diversidade do cinema brasileiro atual.





A plataforma de difusão de filmes, hospedada no site www.mostratiradentes.com.br, exibirá  um total de 114 títulos, entre longas e curtas-metragens, de 19 estados brasileiros. As produções estarão divididas nas mostras Olhos Livres, Temática, Homenagem, Foco, Panorama, Foco Minas, Praça, Formação, Sessão da Meia-noite, Jovem, Mostrinha, além da Aurora, competitiva e mais aguardada a cada ano por reunir produções inéditas de cineastas em início de carreira. A programação, como se nota, foi estruturada de forma semelhante ao seu modelo presencial. 


"Assumimos uma edição diferente e especial. Não menos importante, mas diferente de tudo. Não restam dúvidas de que estar em Tiradentes presencialmente traz ganhos que não existem no digital. Mas o digital também tem seus pontos positivos. O alcance e a abrangência, que são muito gratificantes. Um mercado irrestrito, com audiência até de fora do país, além de maiores possibilidades de mapear dados estatísticos e de compartilhar conteúdo, já que os debates ficam disponíveis depois de transmitidos ao vivo”, comenta Raquel Hallak,  coordenadora geral da Mostra e diretora da Universo Produção.

Esse mesmo formato foi empregado pela produtora na realização das mais recentes edições da CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto e da Mostra CineBH, também impactadas pela pandemia. 
A mesma parte de um homem, de Ana Johann, é o participante do Paraná na disputa pelo troféu Barroco

DRIVE-IN 

Quando começou a ser organizada, em setembro passado, a 24ª Mostra de Tiradentes considerava a hipótese de que agora em janeiro fosse possível algum tipo de proposta híbrida, com eventos na cidade. A organização recuou dessa expectativa inicial para a previsão de no máximo uma exibição em cine drive-in. Diante de novas restrições no comércio local, em decreto municipal publicado ainda em dezembro, por causa do avanço da COVID-19, optou-se por uma edição totalmente on-line. 





Na plataforma, a maior parte dos filmes ficará disponível durante os oito dias de festival. Exceção vale para os sete longas da Mostra Aurora, disponíveis por apenas 48 horas após cada estreia, e para o filme de encerramento, Valentina, do mineiro Cássio Pereira dos Santos, que faz sua pré-estreia em sessão virtual única, no dia 30. 

Ao todo, serão 31 longas. Na Mostra Aurora, dedicada a filmes de diretores e diretoras com até três longas-metragens na carreira, participam: Açucena (BA), de Isaac Donato; Oráculo (SC), de Melissa Dullius e Gustavo Jahn; Rosa Tirana (BA), de Rogério Sagui; Kevin (MG), de Joana Oliveira; A mesma parte de um homem (PR), de Ana Johann; O cerco (RJ), de Aurélio Aragão, Gustavo Bragança e Rafael Spíndola; e Eu, empresa (BA/MG), de Leon Sampaio e Marcus Curvelo. 

Coordenador curatorial do evento, Francis Vogner dos Reis dividiu a escolha dos longas com a pesquisadora Lila Foster. Segundo ele, a diversidade de características é que marca a competição desta edição. 




Coprodução entre Minas Gerais e Bahia, Eu, empresa, de Leon Sampaio e Marcus Curvelo, é outro selecionado para a competição entre diretores com até três longas no currículo

PERSPECTIVAS
 
“Os filmes da Mostra Aurora nos revelam uma diversidade de perspectivas, de assuntos e de estéticas. Ao mesmo tempo em que são atravessados por um mesmo sentimento de um tempo histórico, com um peso e certa melancolia, eles lidam com isso de maneiras muito diferentes”, diz o curador.

Ele comenta que “temia que os filmes fossem todos no mesmo tom, voltados para as mesmas elaborações, mas, para nossa alegria, eles falam de coisas muito diferentes, muito para além desse momento histórico”. 

Segundo Francis Vogner, não há uma definição abrangente que contemple todos os sete longas, já que eles “apontam para modos de produção diferentes, repertórios distintos e para trabalhos de pesquisas formais muito singulares”.





Não há nem mesmo uma homogeneidade em termos de geração, pois, ainda que em início de carreira, os diretores são de faixas etárias distintas. “Eles vão além do recorte geracional e nos mostram um pouco do que foi possível construir no cinema braileiro nos últimos 15 anos.

Não é, necessariamente, uma seleção de uma geração. São cineastas de idades diferentes, de locais diferentes do país, com meios de financiamento de produção diferentes, sendo alguns com recursos próprios, outros com campanhas coletivas ou aportes regionais que a Agência Nacional do Cinema (Ancine) fazia”, descreve.

As particularidades se observam até mesmo em relação aos três filmes baianos selecionados. “A Bahia nunca apareceu tão em peso na Mostra Aurora. Quase metade dos filmes são baianos, mas muito diferentes entre si. Não são filmes da mesma turma, como víamos aqui no cinema mineiro durante um tempo, ou no cinema cearense. Rosa tirana é de Poções, que não tem a ver com o cinema de Salvador, visto em Eu, empresa” , compara. É possível saber mais informações e conferir as sinopses dos filmes da Mostra Aurora no site oficial do evento. 





Esse caráter revelador sobre a contemporaneidade do cinema nacional aparece no restante da seleção do festival. Na Mostra Olhos Livres, que se caracteriza justamente pela ausência de critérios uniformizantes, estão títulos com alguma repercussão anterior em outros eventos.
 
Estão selecionados Irmã (RS), de Luciana Mazeto e Vinícius Lopes; Amador (GO/MG), de Cris Ventura; Subterrânea (RJ), de Pedro Urano; Nh?? yãg m? yõg hãm: Essa terra é nossa! (MG), de Isael Maxakali, Sueli Maxakali, Carolina Canguçu e Roberto Romero; Rodson ou (Onde o Sol não tem dó) (CE), de Cleyton Xavier, Clara Chroma e Orlok Sombra; e Voltei! (BA), de Ary Rosa e Glenda Nicácio. 

Novidade nesta edição, a Sessão da Meia-noite abre espaço para o cinema de gênero, com a exibição dos longas-metragens de terror O cemitério das almas perdidas (ES), de Rodrigo Aragão, e Skull – A máscara de Anhangá (SP), de Kapel Furman e Armando Fonseca. 





Entre os 79 curtas, alguns abordam aspectos da vida na pandemia. Em relação aos demais, o curador observa que “é uma coisa um pouco louca olhar para os filmes e eles parecerem ser de um tempo distante, por vermos o mundo em funcionamento, pessoas sem máscaras”.

A mostra terá como homenageada a cineasta franco-colombiana Paula Gaitán, viúva de Glauber Rocha (1939-1981). Na abertura do festival, às 20h de sexta-feira (22/1), será exibido seu mais novo filme, o documentário Ostinato, sobre o músico Arrigo Barnabé. 

A sessão será precedida por um debate com a presença da cineasta e de Ava Gaitán Rocha (cantora, compositora e cineasta), Clara Choveaux (atriz), Eryk Rocha (cineasta) e de Arrigo Barnabé, com mediação de Francis Vogner dos Reis. 

24ª MOSTRA DE TIRADENTES
Desta sexta (22/1) a 30 de janeiro, no site do festival.

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