O filme italiano A incrível história da Ilha das Rosas, disponível na Netflix, fala de uma utopia. Qual utopia, exatamente? A de viver fora do Estado, entidade que, mesmo em democracias, pode ser vista como força coercitiva, impessoal, a oprimir e limitar os indivíduos.
Leia Mais
Novo filme de George Clooney vira metáfora sobre a pandemiaÚltimo longa de Chadwick Boseman é uma pérola da Netflix'Pieces of a woman' chega à Netflix de olho em indicações ao Oscar'Círculo de fogo' se transforma em série de anime da Netflix'Os sonâmbulos' mostra um retrato de cidadãos cansados demais para lutarLonga argentino sobre tragédia entre patroa e empregada estreia na NetflixFilme chileno sobre viúvo que é detetive infiltrado em asilo tenta o OscarPandemia leva à segunda onda de cancelamentos no setor culturalÉ possível que raciocínio semelhante esteja na mente dos utopistas de todos os tempos. A diferença é que Giorgio dispõe de meios tecnológicos para realizar seu sonho. Assim, bola um jeito de construir uma espécie de plataforma marítima, devidamente fora das águas territoriais italianas. Do nada, ergue seu micropaís, que, para ter legitimidade, precisa ser reconhecido pela comunidade internacional.
O caso vai parar na Organização das Nações Unidas (ONU), nas mãos do dignitário Jean Baptiste Toma, interpretado pelo sempre ótimo ator François Cluzet.
CONTRACULTURA
Estamos nos anos 1960, época da contracultura e dos movimentos estudantis. Nela, há muitos insatisfeitos que veem na "ilha de aço" um refúgio contra Estados opressores (todos eles). Assim, a Ilha das Rosas começa a abrigar refugiados, além de turistas e visitantes, em seus meros 400 metros quadrados. O clima é de festa, amizade e amor livre. Também é preciso dizer que a Ilha das Rosas passa a emitir passaportes e ter moeda própria.A história parece estapafúrdia e até meio ingênua quando vista pelo olhar desencantado de hoje. E se torna ainda mais incrível, como diz o título brasileiro, quando se sabe que aconteceu, de fato, na Itália dos anos 1960 e que trouxe desdobramentos políticos e diplomáticos consideráveis.
Leia Mais
Novo filme de George Clooney vira metáfora sobre a pandemiaÚltimo longa de Chadwick Boseman é uma pérola da Netflix'Pieces of a woman' chega à Netflix de olho em indicações ao Oscar'Círculo de fogo' se transforma em série de anime da Netflix'Os sonâmbulos' mostra um retrato de cidadãos cansados demais para lutarLonga argentino sobre tragédia entre patroa e empregada estreia na NetflixFilme chileno sobre viúvo que é detetive infiltrado em asilo tenta o OscarPandemia leva à segunda onda de cancelamentos no setor culturalDirigido por Sydney Sibilia, A incrível história da Ilha das Rosas embarca naquela boa tradição da comédia dramática, sucesso mundial do cinema italiano dos anos 1960 e 1970. Certo, não estamos diante de uma reencarnação de Dino Risi ou Mário Monicelli. Ainda assim, Sibilia não se limita ao lado cômico da história e busca, mesmo que com certa timidez, sua repercussão crítica em relação aos poderes constituídos.
Aliás, alguns dos personagens mais engraçados são os políticos da vida real, como o então presidente da República Italiana, Giovanni Leone, interpretado por Luca Zingaretti.
ESPERANTO
Elio Germano também veste muito bem a pele do engenheiro bolonhês Giorgio Rosa (morto em 2017). Insatisfeito com a organização social do seu país, Rosa teve a ideia de construir essa micronação. Não foi fácil. Levou cerca de 10 anos para edificar a plataforma que seria esse Estado independente. Edificou-a no Mar Adriático, a 11 quilômetros da costa de Rimini (por acaso, terra natal de Federico Fellini).Em 1º de maio de 1968, a ilha de metal declarou-se Estado independente. Além de emitir passaporte e moeda, tinha hino, bandeira e Constituição. O idioma adotado foi o esperanto, para se diferenciar de vez da República Italiana.
A história verdadeira é tão ou mais rocambolesca que a contada pelo filme. Mas ambas – a verdadeira e a da ficção – guardam, em meio ao riso, aquela amargura típica das comédias tristes dos grandes mestres italianos do gênero.