Um novo ano se iniciou, mas para os espetáculos musicais e cênicos o formato possível para apresentação segue sendo a transmissão on-line. Embora inovador, o modelo, que se tornou alternativa diante da impossibilidade de realizações presenciais na pandemia de coronavírus, vai se consolidando como o “novo normal”. Nesta semana, mais dois festivais culturais terão suas versões virtuais em Minas Gerais.
Segundo ele, a curadoria se guiou pelo afeto. A programação ainda apresenta Similitudes, de Dudude Herrmann; Ondas de onde parto, de Mariana Rabelo; Top 5 – quarentena, de Marina Vianna; Lar doce lar, de Janaína Morsee; e TU NO, de Rodrigo Khan. As produções, todas feitas em casa e individualmente pelos artistas, compartilham uma linguagem ligada ao isolamento social vivenciado nesses últimos dez meses.
Nessa quarta-feira (27/01) começa a 7ª edição do BH in solos, dedicado a espetáculos cênicos individuais. Em dois dias serão exibidos seis vídeos de curta duração, entre oito e 20 minutos, apresentando propostas teatrais, musicais e performáticas. Patrocinado pela Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Belotur, o evento tem uma temática ligada ao turismo na capital, promovendo a mensagem: “Quando tudo passar, venha para BH”!
Para isso, a abertura terá um passeio virtual pela Rua da Bahia até o Edifício Arcângelo Maletta, comandado pela guia de turismo Mayara Tavares. Chegando ao prédio, o ator e humorista Carlos Nunes assume o papel de mestre de cerimônias e conduz o público à Cantina do Lucas e à Gráfica Bar, que recebem projeções dos vídeos presentes na programação. A ideia é estimular o turismo ligado à arte. Essa parte da cidade foi escolhida por ser de grande familiaridade dos artistas.
Tanto a introdução quanto os vídeos dos espetáculos selecionados serão exibidos no Instagram e no Facebook. Robson Vieira, artista e idealizador do projeto, explica que “a princípio, tinha resistência em fazer o BH in solos a distância, por não saber bem o que seria o teatro filmado e on-line e não querer me aventurar”. A possibilidade surgiu depois de muitas pesquisas realizadas ao longo dos meses de pandemia.
“O BH in solos existe enquanto tiver a necessidade de existir. Se for só mais uma mostra na cidade, seria a hora de repensar. Assim que entrei na pandemia, como muitas artistas, não sabia o que fazer e comecei a experimentar muita coisa, gravar vídeos, editar. Então, vieram pesquisas sobre a tecnologia da cena e a dramaturgia do vídeo e aí comecei a vislumbrar uma possibilidade”, argumenta Robson, que apresenta Fique em casa, performance feita a partir de um compilado de áudios e textos vinculados ao contexto da pandemia coletados e organizados por ele em uma narrativa coreográfica que remete a algumas características desse período.
AFETO
Segundo ele, a curadoria se guiou pelo afeto. A programação ainda apresenta Similitudes, de Dudude Herrmann; Ondas de onde parto, de Mariana Rabelo; Top 5 – quarentena, de Marina Vianna; Lar doce lar, de Janaína Morsee; e TU NO, de Rodrigo Khan. As produções, todas feitas em casa e individualmente pelos artistas, compartilham uma linguagem ligada ao isolamento social vivenciado nesses últimos dez meses.
“São vídeos que dialogam com a pandemia, com a produção feita dentro de casa. O Rodrigo Khan é dançarino de dança de rua. Como é dançar dança de rua dentro de casa? É por aí. Em Lar doce lar, da Janaína, é a Palhaça Brisa tendo de se reinventar com o fato de ficar dentro de casa”, revela Robson, que entende uma autenticidade especial nesse tipo de proposta.
“Desde o início, tenho experimentado vídeos e isso me deixa num lugar de fala interessante. Não ter a plateia é ruim, pois não há o retorno. Porém, é libertador no sentido de poder dizer coisas que não diria ao vivo. Posso rever, repensar se foi exagerado ou não e encontrar o melhor formato. Do ponto de vista da criação, antes havia um ensaio aberto em que o primeiro retorno era da produção, direção. Criando sozinho, o próprio artista é o primeiro a ver o trabalho. Então, ele tem a percepção que a plateia teria. É como ouvir pela primeira vez a própria voz”, compara Robson.
BH in solos – 7ª edição
Nesta quarta (27/1) e quinta (28/1), às 20h, no Facebook e no Instagram. Gratuito. Programação completa no site do evento.
No jazz, um olhar para a nova geração
Também na quarta-feira começa a 3ª edição do Festival Jazz de Montanha, que pela primeira vez será totalmente on-line, com apresentação de seis shows gravados no Galpão Cine Horto. A exibição será no canal do YouTube da produtora Beebop. No primeiro dia, o saxofonista e flautista Silas Prado traz repertório inteiramente composto por música brasileira, acompanhado por Lucas de Moro (piano), Egberto Brant (baixo) e Estevan Barbosa (bateria).
Ainda na noite de abertura será exibida a apresentação da cantora Carolina Serdeira. Acompanhada de seu quarteto, o repertório explora o jazz e a bossa nova. Sobre a novidade de ausência da plateia, ela vê como desafio extra. “Faz parte do espírito artístico essa capacidade de adaptar às coisas”, resume. Ainda assim, admite estranhar a falta de interação com o público. Segundo ela, isso será possível por meio do chat, durante a transmissão, como ocorrerá com outros convidados.
Responsável pela curadoria e organização do festival, ela diz que a realização foi possível a partir dessa adaptação às limitações impostas pela pandemia. “Tivemos de inventar um jeito de fazer, que não foi inventar a roda, mas entender o novo jeito. Migramos para o mundo digital, mas não queríamos que perdesse a cara de festival, dessa experiência, do palco, cenário, da luz. Não queríamos perder isso nem a coisa do show, que, mesmo gravado, foi gravado ao vivo, com praticamente nenhuma edição”, argumenta.
Carolina Serdeira explica que a decisão por gravar os shows anteriormente passou primeiramente pelos protocolos sanitários, já que as gravações puderam ser espaçadas, com cada show em um dia, sem risco de aglomeração. Além disso, havia preocupação em fornecer um registro em boa qualidade para os artistas iniciantes que foram selecionados.
“O Jazz de Montanha tem por essência esse olhar para a nova geração. Não exclusivamente, mas tem esse cuidado com o novo. O festival nasceu com esse mote de gerar oportunidades, criar um espaço, especialmente no interior, onde era realizado, em Juiz de Fora. Temos, por exemplo, a Camila Rocha, que é um grande destaque em início de carreira, e a Júlia Ribas, que vem há 25 anos no jazz. Nossa curadoria procura abranger isso”, afirma.
MÚLTIPLA SONORIDADE
Carolina ainda destaca as diferentes possibilidades exploradas pela programação dentro do jazz, com a inclusão de apresentações vocais, nem sempre presentes em outros festivais, e dos diferentes tipos de instrumentalidades. Além de Silas Prado, Carolina Serdeira, Camila Rocha e Júlia Ribas, estão escalados Thiago Delegado, com uma apresentação dedicada ao violão de sete cordas, e o guitarrista e violonista Samy Erick, um dos vencedores do XIV Prêmio BDMG Instrumental, em 2014.
Até a sexta-feira, o Jazz de Montanha ainda oferece ao público workshops sobre jazz com os artistas e uma videoaula sobre a relação do estilo musical com Belo Horizonte.
Jazz de Montanha – 3ª edição
De quarta (27/1), a sexta-feira (29/1), com shows a partir das 21h no canal da Beebop no YouTube (www.youtube.com/user/beebopoficial). Gratuito
Programe-se
Quarta 27/ 01 – 21h
»Silas Prado
»Carolina Serdeira
»Videoaula ‘BH, Cidade do Jazz’
Quinta 28/01 – 21h
»Camila Rocha Quarteto
»Thiago Delegado
»Workshop: Harmonia e arranjo, com Samy Erick
Sexta 29 /01 – 21h
»Samy Erick
»Júlia Ribas
»Workshop: Improvisação, com Caetano Brasil