Quando marcaram o lançamento do EP Catapoeira para o primeiro minuto desta sexta-feira (29/1), os integrantes d'A Outra Banda da Lua não sabiam que o novo trabalho sairia em noite de lua cheia. Essa é uma coincidência que acompanha o grupo desde que ele foi formado, há pouco mais de cinco anos, em Montes Claros, no Norte de Minas. Dessa vez, no entanto, o fenômeno lunar também serve de justificativa para o significado que o trabalho carrega.
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Marina Sena adere ao bloco do eu sozinha e lança carreira soloA Outra Banda da Lua lança álbum homônimo nesta terça-feira.Quem é Marina Sena, o 'ombrim' do Norte de Minas que você precisa conhecerBanda mineira Rosa Neon chega ao fim; integrantes seguirão carreira soloLetrux transforma suas lágrimas em livro inédito e EP de releiturasEm Caleidoscópico, Maneva propõe reggae mais dançante''Ela comunicou à gente que se desligaria da banda em agosto do ano passado. A partir daí, começamos uma corrida contra o tempo para produzir um trabalho para marcar essa despedida. Foi um desafio, ainda mais considerando todas as dificuldades trazidas pela pandemia. Mas, em dezembro, já estava tudo pronto'', conta.
A força-tarefa deu conta de levantar cinco músicas gravadas no Estúdio Guella Music, em Montes Claros, e produzidas por Rafael Carneiro. Para colocá-las na praça, a banda também lançou mão de uma campanha de financiamento coletivo, que arrecadou R$ 10 mil.
RAÍZES
Assim como no álbum A Outra Banda da Lua, lançado em abril de 2020, Catapoeira traz músicas compostas ao longo dos cinco anos do grupo, ou seja, não necessariamente planejadas para um trabalho específico. O que as une é odiálogo com as raízes norte-mineiras, africanas e indígenas, que, colocadas num caldeirão de referências que inclui até rock inglês, se transformam em faixas pop.
''Com essas cinco músicas, nosso objetivo era remeter às nossas origens e influências. O Norte de Minas tem uma cultura de transição que bebe tanto de Minas Gerais quanto da Bahia. E isso nos influencia demais. Por isso nossa volta para sons ancestrais. É como um novo marco zero para o grupo'', diz Matheus.
A música que dá nome ao EP, também responsável por abrir o trabalho, é um samba robusto, com direito a guitarras e percussão pesadas. Essa estética continua em Vento que bate e nela são adicionados elementos do axé baiano.
O trabalho ganha tons psicodélicos na terceira faixa, Liga essa vitrola, que reverencia Zé Coco Do Riachão, compositor e rabequeiro mineiro conhecido como 'Beethoven do Sertão'. A música percorre um caminho bastante semelhante ao de Weird fishes/Arpeggi, presente no disco In rainbows (2007), da banda Radiohead.
O regionalismo retorna em Batuque de catopê, cujo arranjo gira em torno da percussão, fazendo jus ao seu título.
É inegável a importância de Marina Sena no trabalho. Além de cantar em quatro das cinco músicas, ela assina a composição de três faixas – Catapoeira, Vento que bate e Batuque de catopê –, todas elas em parceria com Matheus Bragança. Portanto, até mesmo para os integrantes que ficam é difícil imaginar como será A Outra Banda da Lua sem a cantora e compositora. Com o perdão pelo trocadilho, será 'outra' banda.
TRANSFORMAÇÃO
''Já fizemos algumas projeções, mas ainda não batemos o martelo. Além disso, estamos em transformação desde o início da banda. Essa não é a primeira mudança na formação. Talvez seja a mais significativa, porque Marina tem uma personalidade muito marcante, tanto nas gravações quanto no palco, em termos de performance. Mas o grupo sempre foi um trabalho coletivo, então a gente acredita que, daqui em diante, teremos uma nova concepção de banda'', comenta Bragança.
Uma prévia dessa nova abordagem pode estar na faixa final, Chuva pra nós, que faz uma ode ao sertão mineiro, tanto na sonoridade quanto na letra – o que também está registrado na foto de Thiago Botelho que serve de capa para o EP. A música é predominantemente instrumental e não conta com o vocal de Marina Sena.
Catapoeira também celebra os cinco anos de existência do grupo. Em um balanço do que esse espaço de tempo representa, Matheus Bragança destaca as agruras de ser uma banda autoral do interior de Minas. ''É sobreviver. E a pandemia só acentuou essa dificuldade de existir.''
Por outro lado, o músico celebra o reconhecimento, principalmente dos conterrâneos. ''É importante para nós que o nosso público se sinta representado e que a gente exalte esse pertencimento. Temos um álbum lançado, fizemos uma série de shows marcantes. Queremos continuar essa história'', afirma.
CATAPOEIRA
.A Outra Banda da Lua
.Independente
.Disponível nas plataformas digitais
CARNE DOCE VAI AO DUB COM REMIX DE A CAÇADA
Destaque do álbum Interior (2020), da banda goiana Carne Doce, a faixa A caçada, inspirada em conto homônimo de Lygia Fagundes Telles, ganha nova ambiência com o remix que chega nesta sexta-feira (29/1) às plataformas digitais.
A nova versão é assinada pelo músico, produtor e engenheiro de som norte-americano Victor Rice, que expandiu o universo sombrio da gravação original. ''Victor nos enviou cinco dubs numa escala crescente de desconstrução. A que lançamos agora é a segunda, mas masterizamos também a quarta versão, bem mais desconstruída, que devemos soltar em breve, em vinil'', conta Macloys Aquino, guitarrista da banda.
O primeiro contato da Carne Doce com Victor Rice se deu durante a gravação do álbum Princesa (2016). À época, o produtor colhia os louros por ter mixado e masterizado parte do álbum A mulher do fim do mundo (2015), de Elza Soares.
''A caçada surgiu exatamente de um arquivo de bateria reggae do Fred Valle, que inspirou a linha de baixo do Aderson Maia, daí Salma Jô chegou com letra e melodia e, por fim, colocamos as guitarras. Durante a mix, nosso guitarrista e produtor João Victor separou as tracks e estudou onde poderia criar os vazios e explorar efeitos de eco e delay, então a nossa faixa mais reggae já tinha um caminho aberto para o dub do Victor'', conta Macloys.