Jornal Estado de Minas

MÚSICA

'Funkeiros não merecem o desprezo de ninguém', diz Hariel, astro do batidão


Fenômeno do funk paulista e da internet, Hariel Denaro Ribeiro, de 23 anos, mais conhecido como MC Hariel, nasceu e cresceu no bairro Vila Aurora, na Região Norte de São Paulo. Iniciou sua carreira aos 11 e comemora cerca de 2 bilhões de visualizações de seus 80 clipes no YouTube. Só Lei do retorno, lançada com MC Don Juan em março do ano passado, bateu 300 milhões de views.





“Acho que peguei o melhor momento do YouTube e das plataformas digitais”, diz Hariel. Os números impressionam: em novembro de 2020, ele lançou Ilusão (Cracolândia), com a participação de DJ Alok, MC Davi, MC Ryan SP, Salvador da Rima e DJ W, chegando à marca dos 140 milhões de views. Maçã verde, postada no mesmo mês, bateu os 100 milhões. Em 2017, Hariel gravou Tem café com o paulista Gaab, clipe que já beira a casa dos 250 milhões de visualizações. Tempo perdido, videoclipe postado em 2016, soma 60 milhões.

“Por onde pisar, não estarei sozinho, mas com a massa funkeira. Minha maior vontade é ver a galera dizer: os moleques são funkeiros, fazem um som legal e se esforçam para viver de música. Não merecem desprezo de ninguém”, diz Hariel.


RAÍCES

O MC paulistano sempre sonhou em ser artista. O exemplo veio de casa, pois é filho do violonista Celso Ribeiro, integrante do grupo de música latino-americana Raíces de América, que fez sucesso na década de 1980. Celso morreu no início da adolescência de Hariel.




“Quando meu sonho começou a se materializar, passei a colocar meus vídeos na internet. O primeiro, nem me lembro do nome da música, foi postado em dezembro de 2011. Compus essa canção assim que meu pai morreu. Falava de um tênis”, relembra.

Celso Ribeiro morreu em decorrência de um acidente de carro, conta Hariel. “Na época, minha mãe comprou um tênis pra mim, daí surgiu a inspiração. Quando a canção ficou pronta, fui até a casa de um amigo, pedi para gravar o vídeo e o coloquei na internet. Foi só uma primeira música, bem inocente mesmo.”

A carreira do jovem funkeiro ocorreu aos poucos. “Precisava ajudar minha mãe a resolver problemas financeiros. Parti em busca do meu sonho, me aprofundando cada vez mais no funk e deixando os estudos meio de lado. Quando meu pai partiu, tive de arrumar um ‘trampo’ para ajudar em casa”, diz. Na verdade, a meta daquele garoto era conciliar trabalho e funk. “Ia levando a escola do jeito que dava, mas o funk me forçou a deixá-la, porque não estava encontrando tempo para estudar.”





A vida profissional começou para valer em 2017, quando Hariel lançou no YouTube os clipes Passei sorrindo (5 milhões de visualizações), seu primeiro sucesso, e Passa devagar (8 milhões de views). A “massa funkeira” passou a prestar atenção naquele MC paulista.

“Um brother me chamou para fazer um show. A partir dele, diversos fatores mudaram a minha vida. Naquele show, um cara que não conhecia me disse: ‘Vou apostar em você. Vou passar sua música para um DJ e ele vai produzi-la’”, recorda Hariel

Dito e feito. Produzida por DJ Perera, Passei sorrindo abriu para o garoto as portas da produtora GR6 Eventos, uma das maiores do funk paulista, cujo núcleo artístico Hariel integra até hoje. “Eles me ofereceram todo o suporte de que precisava para alavancar meu trabalho. Fui conhecendo diversos DJs de funk que viraram referência em São Paulo.”

Gravada por Hariel e DJ Jorgin, Mundão girou, que virou hit e hoje contabiliza 25 milhões de views, chamou a atenção do Brasil para o MC, levando-o a fazer os primeiros shows fora de São Paulo.

A partir do contrato com a GR6, a vida do funkeiro mudou. “Antes, era algo amador, mas tudo começou a ficar mais real e muito profissional. Hoje, graças a Deus, tudo é feito da maneira como deve ser.”





Hariel tem o seu ritual, prefere compor no estúdio. “Pego o caderno, vou escrevendo o que vem à mente. Sento, penso ali por uma hora ou duas, faço o 'esqueleto'. Em seguida, vou anotando tudo”, conta. “Vou fazendo aos poucos. Gosto de escrever no estúdio mesmo, pois é lá que a música vai se eternizar.”

Deus e família, com Djonga e Delano (foto: Youtube/reprodução)

REFERÊNCIAS

O jovem funkeiro agradece a Deus por lhe ter dado uma família de pessoas ecléticas. “Lá em casa, não se escutava somente um ritmo. Meu pai, Celso Ribeiro, participou da banda Raíces de América e também curtia MPB. Minha mãe gosta de bossa-nova e MPB. Sempre ouvi esse tipo de música em casa. Quando cheguei ao funk, já trazia uma referência musical forte. Perto de onde morava, rolava muito pagode, sertanejo, rap e funk. Sempre fui aberto a escutar tudo.”

Hariel diz que se inspira no exemplo, não em referências musicais. “Procuro caráter, atitudes, essas coisas. Vivo para fazer a minha parada, não desmerecendo ninguém. Busco referência na índole das pessoas”, explica.





Celso Ribeiro foi uma inspiração para o filho. “Meu pai mandava ver muito bem, é a minha maior influência, tocava vários instrumentos de cordas”, conta. “Claro que, às vezes, a gente pega uma frase como referência, uma coisa ou outra de alguém. Mas o melhor, mesmo, é absorver o bom caráter e as atitudes das pessoas”, diz.


LIGEIRO

Hariel acredita que seu trabalho é fruto do tempo em que ele vive, ou seja, da internet e das plataformas digitais, onde se ouve música atualmente. “Cresci nessa geração, dentro da parada das plataformas”, observa. “Ainda moleque, já andava ligeiro. Fazia um monte de coisas e lançava no streaming. Não tem nenhum segredo: é você estar na hora certa e no lugar certo.”

O jovem funkeiro está cheio de planos para 2021. Promete algo diferente do que lançou em 2020 – EPs e o álbum Chora agora, ri depois, com 10 faixas. “Estou pensando numa trilogia, vou migrar para uma coisa maior. Ainda é segredo, mas digamos que será a virada de chave. Por enquanto, vou continuar com os singles”, adianta. Aliás, em 26 de fevereiro, ele manda para as plataformas De história em história, “uma canção com relatos da sociedade.”

Outra novidade será o clipe de 2020, canção sobre fatos que ocorreram no ano passado. “Depois delas, vou lançar músicas para festa, para dançar, curtir, chorar. Além de funk, vou fazer reggae, como foi o caso do EP Banco de areia, minha parceria recente com a banda Maneva.”





Ilusão (Cracolândia), com Davi, DJ W, Alok, Salvador da Rima e Ryan SP (foto: Youtube/reprodução)

CONSCIENTE

O trabalho de Ariel também se aproxima do rap, com letras no estilo “funk consciente”, com temática social, falando de superação. Uma das canções dele se chama Favela pede paz (“Eu tô convicto/ Acredito que isso vai passar/ Por mais que a chuva seja forte/ O sol há de abrir/ As coisas nunca são/ Como a gente quer/ Isso não é motivo/ Pra me fazer desistir”).

Mineiros são parceiros do paulista. Em maio de 2019, Hariel gravou Deus e família com os rappers belo-horizontinos Djonga e Delano, batendo cerca de 40 milhões de views na internet. A letra diz assim: “É fato que respeito não se compra/ Com luta e suor se conquista/ Tamo cansado de remar no mar de lama/ Batalhei, corri dobrado/ E hoje eu grito: terra à vista/ Hoje eu pago à vista, estourei o bilhete/ Viver do que se ama é difícil, mas vale a pena.”

EM NÚMEROS

Lei do retorno
. 300 milhões de views

Tem café
. 250 milhões de views

Ilusão (Cracolândia)
. 140 milhões de views

Tempo perdido
. 60 milhões de views

Deus e família
. 40 milhões de views

Mundão girou
. 25 milhões de views

audima