A atriz e bailarina Marilena Ansaldi morreu na terça-feira (9/2), aos 87 anos, por complicações pulmonares. Ela estava internada em São Paulo, informou o diretor de teatro José Possi Neto. Em 2008, a artista anunciou a aposentadoria e se afastou dos palcos, mas retornou em 2014 com Paixão e fúria – Callas, o mito. Seu último espetáculo foi Depois, da Studio 3 Cia. de Dança, com direção teatral de William Pereira e coreografia de Anselmo Zolla, que estreou em 2019.
Nascida no Rio de Janeiro, em 1934, Marilena Helena Ansaldi foi a figura mais importante da dança brasileira, na opinião de Possi Neto. Nos anos 1950 e 1960, foi a principal solista do Corpo de Baile do Teatro Municipal de São Paulo. “Ela foi para a Suécia participar de um festival porque queria entrar na União Soviética para dançar no Balé de Bolshoi”, conta ele.
Segundo o diretor, Marilena ficou na Europa por dois anos, apresentando-se nos espetáculos Dom Quixote, em 1962, e A Fonte de Batissarai, em 1964. Ela deixou o Bolshoi por conta da Cortina de Ferro, que dividiu a Europa após a Segunda Guerra Mundial. “Se ficasse por um período maior, seria preciso se naturalizar, o que significava aceitar as condições políticas ali”, conta Possi Neto.
Marilena deixou a União Soviética, mas não voltou imediatamente ao Brasil. Para evitar desembarcar no país, durante a ditadura militar, com o passaporte carimbado pelos russos e levantar suspeitas, a artista passou uma temporada em Paris, vivendo de pequenos trabalhos. “Ela fez bicos e viveu praticamente de sanduíches”, revela Possi Neto.
Ao retornar ao Brasil, Marilena estreou Dama das Camélias, no Teatro Municipal de São Paulo, com figurinos do estilista Dener. Na década de 1970, a artista se afastou da dança clássica e se aproximou da dança-teatro. Marilena foi casada por 15 anos com o crítico teatral mineiro Sábato Magaldi (1927-2016).
Com direção de Iacov Hillel, o espetáculo Isso ou aquilo, de 1975, marcou uma nova fase para a artista. “O texto era dela e o espetáculo foi um enorme sucesso”, lembra Possi Neto.
Ao longo da carreira, Marilena fez vários trabalhos com Celso Nunes: Escuta, Zé Ninguém (1977), Fundo de olho (1978), Márcio Aurélio: Hamletmachine (1987), Desassossego (2005) e A metafísica do amor (2007).
PICASSO
Com Possi Neto, Marilena estreou Um sopro de vida (1979), inspirado em Clarice Lispector, Geni (1980), a partir da música de Chico Buarque, e Picasso e eu (1982), em que interpretava todas as mulheres que se relacionaram com o pintor espanhol.
Marilena Ansaldi também desenvolveu parcerias com William Pereira e Cibele Forjaz. Em 2011, a bailarina dançou no clipe Te amo, da cantora Vanessa da Mata. (Estadão Conteúdo)