Eles viam a música acontecer dentro de casa. As canções se metiam entre as brincadeiras de criança. Telo Borges e Cláudio Venturini são, por assim dizer, “caçulas” do Clube da Esquina. O primeiro vem da família Borges, que acolheu Milton Nascimento no lar onde surgiram clássicos da MPB. Cláudio é irmão de Flávio Venturini, “clubista” de carteirinha.
Com seu duo de piano e violão acústicos, os amigos Telo e Cláudio são os convidados do projeto Allegro Vivace, na sexta-feira (19/2) à noite. Desta vez, a série de recitais dedicada à música clássica recebe dois talentos mineiros da música popular.
O repertório reúne canções do movimento musical que BH exportou para o mundo, além da produção autoral da dupla. Estarão lá “O trem azul”, “Para Lennon e McCartney”, “Quem sabe isso quer dizer amor”, “Vento de maio” e “Tristesse”, assim como hits do 14 Bis, banda da qual Cláudio é integrante, como “Todo azul do mar” e “Espanhola”.
Telo Borges afirma que enquanto a música popular conecta pessoas de realidades diferentes, a erudita encanta pela construção de cada timbre, ritmo, melodia e harmonia, que, sobrepostos e contrapostos, lembram belas concepções arquitetônicas. De acordo com ele, essa relação aproxima as pessoas, fazendo-as chegar perto da beleza da criação. “Vamos tocar músicas que marcaram a vida de muita gente”, promete.
Irmão caçula de Flávio Venturini, Cláudio se destaca pela potência de sua guitarra nos solos que apresenta no 14 Bis. Telo é autor de “Vento de maio”, gravada por Elis Regina, e “Tristesse”, com letra de Milton Nascimento, que conquistou o Grammy de Música Latina em 2013.
As referências de infância da dupla vêm da batuta de Lô Borges, Toninho Horta, Tavinho Moura, Beto Guedes e Wagner Tiso, além de Milton e Flávio. Cláudio e Telo trazem forte identificação com o rock, mas também com jazz, pop, MPB e – por que não? – mestres da música clássica.
No eclético universo dessa dupla de amigos, Jimi Hendrix, Led Zeppelin, Pink Floyd, John McLaughlin, Beatles, Sarah Vaughan, Tom Jobim, Dorival e Nana Caymmi estão ao lado de Bach, Mozart, Beethoven e Stravinsky.
Trajetórias de sucessos
Com 43 anos de carreira, Telo começou fazendo trilhas sonoras para teatro infantil. Aos 17, viu sua “Vento de maio” ser gravada pelo irmão Lô e por Elis. Muito jovem, ingressou na banda de Lô e por 12 anos integrou o grupo que acompanhava Beto Guedes. Durante cinco anos tocou com Milton Nascimento.
“Minha experiência no Clube da Esquina é experiência de vida. Lembro-me das pessoas chegando na rua onde eu morava, dos ensaios na minha casa, da presença do Milton, que praticamente morava com a gente”, conta Telo, referindo-se à famosa residência dos Borges em Santa Tereza. “As composições aconteciam na minha frente, eu ainda criança. Tudo isso me marcou, fui naturalmente seguindo o caminho na música.”
Foi observando Flávio, o irmão nove anos mais velho, que Cláudio Venturini começou a se entender com a música. Tudo era universo a explorar, dos discos que rodavam na vitrola à descoberta do piano, flauta, gaita e, depois, violão e guitarra.
Ele relembra os encontros musicais que curtia enquanto jogava bola e a garagem com as paredes revestidas de caixas de ovo, onde ensaiava com a banda que formou aos 14 anos. “A gente ficava lá até meu pai nos expulsar, pois tinha aula no dia seguinte”, revela.
Aquele estúdio improvisado recebia Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta, Tavinho Moura, Paulinho Carvalho, Mário Castelo e Milton Nascimento, que adorava a feijoada servida na casa dos Venturini.
“Pau para toda obra”, Cláudio foi operador de som, iluminador e carregador em shows de artistas do Clube do Esquina. Ingressou no 14 Bis e já são 45 anos de carreira. “Tive os melhores professores”, garante.
Nestes tempos de confinamento social, Cláudio e Telo fazem da arte um bálsamo. “Música é esperança, um condutor para a reflexão tanto para quem ouve quanto para quem a tem como ofício. Fazer música é um prazer e, na quarentena, uma obrigação”, diz Telo. “Música salva. Quem toca um instrumento já tem um amigo”, completa Cláudio.
CLÁUDIO VENTURINI E TELO BORGES
Série “Allegro Vivace”. Sexta-feira (19/2), às 20h, diretamente do auditório da Rede Mater Dei, em BH. Transmissão via YouTube (Recitais Allegro Vivace). Informações: @recitaisallegrovivace (Instagram) e myrianaubin@gmail.com