“Morra, amor”, que estreia nesta quinta-feira (18/2) no Instagram e no YouTube, aborda os dilemas da mulher diante dos tabus que cercam a maternidade. Dirigida por José Eduardo Limongi e Karine Teles, a atriz Camila Nhary protagoniza o espetáculo. Foi ela quem adaptou o livro homônimo da argentina Ariana Harwicz.
“Existe uma cobrança cruel para que a mulher cumpra o papel de mãe e esposa feliz. Tudo que fuja um pouco disso é socialmente condenado. Muitas mulheres vivem dramas psicológicos e sofrem caladas por vergonha e repressão”, diz Camila. “'Morra, amor' lança um olhar sobre essa dor e abre uma possibilidade de reflexão sobre o tema, ainda tabu em nossa sociedade.”
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Tudo começou quando uma amiga indicou a Camila o livro publicado pela editora Instante. “Li e na hora já o imaginei no teatro. Identifiquei-me muito, pois também sou mãe”, comenta a atriz.
“Morra, amor” compõe uma trilogia com os romances “A débil mental” e “Precoz” (“Precoce”, em tradução livre), este último sem tradução para o português. A proposta é preservar na performance teatral o aspecto literário da obra de Ariana Harwicz.
A pandemia trouxe complicações para a atriz, que não conseguiu levar o texto para os palcos. Depois de obter pequena verba junto à Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro, Camila decidiu produzir a microssérie com cinco episódios de seis minutos, que foi transmitida via YouTube e Instagram.
“A repercussão foi muito legal. Então, inscrevi o projeto no edital da secretaria e fui contemplada com uma verba maior”, conta. Daí resultou a performance que estreia hoje.
A atriz considera urgente discutir o papel da mulher contemporânea por meio da personagem de “Morra, amor”. “Moralmente, existe nela o desejo de não pertencer ao universo em que acabou ingressando”, observa. A protagonista é culta, costumava ler e se informar. Porém, viu-se limitada a cumprir exclusivamente o papel de mãe e esposa numa cidade do interior. “Essa é uma questão eterna para as mulheres, tanto as de ontem quanto as de hoje”, destaca Camila.
Assista a um trecho do espetáculo:
Assista a um trecho do espetáculo:
FLUXO
A atriz afirma que Ariana Harwicz expõe habilmente o fluxo de pensamentos da personagem. “O pensamento é algo que a mulher não externaliza, mas ela pensa e tem sentimentos ruins com relação a questões que a maternidade traz. Isso não quer dizer que não ame seu filho. Isso quer dizer que ela tem sentimentos honestos”, defende a atriz.
A sociedade não consegue lidar com esta profunda inquietação feminina. Muitas mães têm dificuldades de ir ao banheiro porque o filho não sai do colo e levam o bebê com elas, lembra a atriz. “As mulheres não se sentem à vontade para falar sobre isso, pois a sociedade espera que o universo da mãe seja perfeito. Que ela ame o filho tão incondicionalmente que não pode ter nenhum pensamento de arrependimento, nem por um segundo.”
Camila Nhary ressalta a necessidade de questionar tabus. Um deles é de que não existe alegria maior no mundo do que ser mãe. “É uma cobrança. No livro, a personagem é colocada no lugar de maluca, o que ela não é. Estamos falando de uma mulher normal”, enfatiza.
Camila conta que mães que assistiram à microssérie ou leram o livro se identificaram com as ideias da autora argentina. “Elas sentem um nó na garganta diante daquelas aflições, pois são humanas, verdadeiras. É importante falar disso”, reforça a atriz.
“MORRA, AMOR”
Estreia nesta quinta-feira (18/2), às 21h. Sessões até domingo (21/2), no Instagram (@morraamor) e YouTube. Gratuito. Sábado (20/2), às 19h30, tem bate-papo on-line com a atriz Camila Nhari e os diretores José Eduardo Limongi e Karine Teles