A artista plástica Yara Tupynambá, de 89 anos, decidiu comemorar os 70 de carreira com uma exposição de obras em torno da paixão de sua vida inteira: a conservação da natureza. “Yara Tupynambá – 70 anos de carreira” traz telas que documentam biomas da vegetação mineira, parques naturais de Belo Horizonte e também os jardins da casa da artista, em Belo Horizonte.
A abertura da mostra será nesta quarta-feira (24/2), no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), na Praça da Liberdade, cujo funcionamento obedece aos protocolos sanitários para evitar a disseminação do novo coronavírus. Sendo assim, a entrada é franca, mas não há mais distribuição de ingressos na bilheteria. As visitas devem ser agendadas on-line. O acesso ao espaço expositivo se dá via QR Code no celular. A exposição ficará em cartaz até 20 de maio próximo, de quarta a segunda, das 10h às 22h.
Se a visitação às obras está impactada pelo contexto da pandemia, a artista conta que seu processo criativo não foi afetado pelo isolamento social, imposto como medida para tentar conter a crise sanitária. Muito pelo contrário, ela diz, o tempo em casa serviu como inspiração para que ela reproduzisse sua própria versão dos Jardins de Monet, que constituem uma parte essencial da exposição.
As visitas aos biomas e parques retratados nas telas foram realizadas antes do início da pandemia. Yara conta que, uma vez que tem essas imagens registradas, precisa passar o maior tempo possível em seu ateliê para produzi-las na forma de pintura.
Yara Tupynambá já recebeu a vacina contra o novo coronavírus e comemora a medida. “É nosso meio de proteção. Pode não ser 100% eficaz, mas é uma proteção para todos nós. Portanto, vacina já!”
Embora lamente que a crise sanitária tenha restringido atividades como a visitação a exposições e a frequência a teatros e cinemas, a artista avalia que o isolamento social de certa maneira contribuiu para a democratização da arte, com o incremento das visitações on-line, que permite o acesso a museus de qualquer lugar do planeta.
O curador da exposição “Yara Tupynambá – 70 anos de carreira”, José Theobaldo Júnior, também ressalta a importância da internet na difusão da arte, mas observa que o consumo virtual de uma obra não se iguala ao presencial. “A gente perde um pouco a emoção. A obra tem textura, tem uma certa vibração. Ao vivo e em cores, não tem comparação”, afirma.
MOSTRA
A exposição traz 74 obras de diversas fases de sua carreira e foi montada para representar uma imersão na natureza de Minas Gerais e na relação pessoal da artista com o meio ambiente. Começando com alguns dos grandes biomas do estado, Yara conseguiu autorização do Ibama e do Instituo Estadual de Florestas (IEF) para visitar as matas e florestas do Vale do Rio Doce e do Vale do Tripuí, retratando os resquícios de mata atlântica. Seguiu depois para a Serra do Cipó, destacando outro importante bioma, o cerrado.A artista se planejou para retratar a natureza e suas diferentes relações com o homem. Ela começa pelos biomas do cerrado e da mata atlântica, a natureza sem contato com o homem, depois parte para os jardins do Inhotim, a natureza já modificada, uma mistura do natural com o humano.
A partir daí, o trabalho se torna cada vez mais pessoal. A representação dos parques municipais remete às origens da carreira de Yara, quando, aos 17 anos, recebeu as aulas do mestre Guignard pintando o mesmo Parque Municipal ao qual ela hoje retorna, 60 anos mais tarde. De acordo com a artista, as obras dos parques de Belo Horizonte representam a natureza, não modificada, mas usada pelo homem.
Por fim, a exposição se encerra com as pinturas de seus próprios jardins, representando a natureza cultivada pelo homem, e tendo sido inspiradas nas visitas de Yara a cidades como a francesa Giverny, onde ela afirma ter visto os jardins mais deslumbrantes que já encontrou, incluindo os famosos jardins de Monet.
BIOGRAFIA
Nascida em Montes Claros, no Norte de Minas, Yara Tupynambá foi aluna de Alberto da Veiga Guignard (1896-1962). Estudou por um ano em Nova York, no Pratt Institute. Ao longo da carreira, realizou individuais não apenas no Brasil, mas também em cidades dos Estados Unidos e Europa. É detentora de diversos prêmios, entre eles o de Artista do Ano, concedido em 2011 pela Associação Brasileira de Críticos em Arte.Leia também: Biografia de Guignard conta os sucessos do artista e os dramas do homem
Em sua casa, em Belo Horizonte, onde recebeu a reportagem do Estado de Minas, a paixão pela natureza está em toda parte. As paredes são todas repletas de quadros, de sua autoria e de terceiros, sendo a maioria com representações da natureza. Aos jardins, ela dedica um cuidado especial.
Yara personifica a ideia de buscar um equilíbrio ambiental por meio dos gestos mais simples. Ela acredita que, se conseguimos nos esforçar para cuidar de nosso próprio jardim ou se consumimos arte que representa a natureza, é possível desenvolver um cuidado maior com o mundo ao nosso redor.
Em suas próprias palavras: “À medida que você tem um quadro de uma floresta ou de um jardim em sua casa, você fica mais atento, menos agressivo com a natureza. Você vai ter um certo respeito por aquilo que você está vendo e admirando.”
*Estagiário sob supervisão da editora Silvana Arantes
YARA TUPYNAMBÁ - 70 ANOS DE CARREIRA
Mostra retrospectiva com 74 obras da artista. No CCBB (Praça da Liberdade, 450). Desta quarta (24/02) a 20/5. De quarta a segunda, das 10h às 22h. Entrada franca, mediante retirada de ingresso em bb.com.br/cultura ou no site Eventim. Visita virtual em: www.yaratupynamba.org.