Quando ''Amor de mãe'' começou a ser transmitida pela TV Globo, em novembro de 2019, uma das características que mais chamaram a atenção foi o realismo da novela. Seus personagens parecem pessoas comuns e os cenários mostram um Rio de Janeiro nada romantizado. A trama escrita por Manuela Dias aborda problemas sociais e ambientais da cidade, mas o tema central é o afeto materno, como indica o título.
Portanto, é no mínimo irônico que ''Amor de mãe'' tenha sido atropelada pela realidade que procura retratar. As gravações do folhetim foram suspensas em março de 2020, quando a pandemia da COVID-19 começou a se espalhar pelo Brasil.
Após quase um ano fora do ar, a produção volta a ser transmitida na próxima segunda-feira (1/03). No primeiro momento, será feito um resumo de tudo o que ocorreu antes da interrupção. Durante esse período, a novela vai dividir horário com a reprise de ''A força do querer''.
A partir de 15 de março, a Globo passa a exibir os capítulos inéditos, gravados no segundo semestre do ano passado, que mostram o desfecho de personagens como Thelma (Adriana Esteves), Lurdes (Regina Casé) e Vitória (Taís Araújo).
Na manhã desta quinta-feira (25/02), a autora e parte do elenco participaram de uma coletiva virtual para falar sobre as expectativas da volta da novela.
EMBATE
''As melhores cenas estão nessa reta final'', cravou Adriana Esteves. ''Vamos ter um embate muito forte entre Thelma e Lurdes, com um desfecho muito coerente com a trajetória das duas.''
O final da primeira fase foi marcado pela cena em que Thelma tenta matar Rita (Mariana Nunes) para não ver revelado o segredo de que comprou Domênico, o filho que Lurdes (Regina Casé) procura desde o início da trama. A passagem confirmou a personagem como vilã e o desenrolar disso será contado nos próximos capítulos.
''Quando recebo uma personagem, não penso se ela vai ser a vilã, a heroína, a mocinha. Penso na pessoa que ela é e tento ajudar a construir essa pessoa. Porque se ela é humana, não importa se vai fazer vilanias ou não. Está tudo dentro de um contexto coerente da história dela'', defende a atriz.
Quando as gravações foram suspensas, o elenco imaginava que ficaria longe do set somente por algumas semanas. Esse cenário, que posteriormente se revelou falso, fez com que a autora Manuela Dias continuasse escrevendo os capítulos, ignorando o contexto da pandemia. Com o passar do tempo, ela percebeu que inserir a pandemia na história viabilizaria, inclusive, a volta das gravações.
VÍTIMAS
Sendo assim, a segunda temporada da novela vai começar com um marco temporal: os primeiros 9 mil mortos por COVID-19. A passagem de tempo será feita a partir da evolução do número de vítimas da doença.
''Tudo o que essa novela não pede é isolamento. É a história de uma mãe procurando um filho. Não dá para fazer essa procura dentro de casa. Ao mesmo tempo, inserir a história no contexto da pandemia foi o que possibilitou a nossa volta'', conta a autora.
Comandadas pelo diretor José Luiz Villamarim, as gravações foram retomadas no início de agosto, mas em ritmo bastante desacelerado. Ao longo de quatro meses, a equipe da novela produziu 23 capítulos.
Taís Araújo conta que foi um alívio retornar ao trabalho presencial, ainda que pairasse um sentimento de que estava fazendo ''algo de errado''.
''Voltei a trabalhar cantando Alcione nas alturas no carro. E eu só canto quando estou feliz. Ou seja, voltar às gravações me deixou muito feliz. Mas também tinha aquele estranhamento, a pandemia ainda estava e está acontecendo. Depois eu fui entendendo como o nosso trabalho é essencial. Por mais que a emissora tenha lançado mão dessas reprises, assistir a algo inédito tem outro sabor. Ainda mais quando é algo que faz uma ponte com nossa realidade'', afirma ela.
Manuela Dias concorda. ''A pandemia colocou a produção cultural no lugar que de fato ela ocupa. Filmes, séries, teatro, novela, música e etc. são tão importantes para o ser humano quanto comer'', diz.
PROTOCOLOS
Intérprete do personagem Raul, Murilo Benício conta que quando entrou no set pela primeira vez depois da suspensão das gravações, teve uma sensação estranha. ''A sensação era que tinha estourado uma bomba e nós éramos os únicos sobreviventes'', brinca. ''O profissionalismo de toda a emissora para garantir que o trabalho fosse feito de forma segura foi realmente impressionante. Eu me sentia mais seguro lá do que em casa'', acrescenta.
Segundo a Globo, as gravações seguiram um ''rígido protocolo de segurança''. ''As recomendações vão de cuidados na pré-produção à atuação nos sets de gravação, incluindo logísticas de transporte, alimentação e regras para fornecedores''.
Além de testes para a detecção da COVID-19, os atores também ficaram quarentenados em um hotel, antes de retomar as gravações. Ao figurino dos personagens foram acrescentadas as máscaras e algumas cenas foram feitas com uma placa de acrílico entre os atores.
Na época de seu lançamento, foi anunciado que ''Amor de mãe'' iria ter 155 capítulos. Em virtude da pandemia, o número foi reduzido para 125, mas a autora acredita que não fez grandes sacrifícios para contar o final da história.
''Todos os personagens vão para a segunda fase, ninguém foi abandonado. Na primeira, eu prezava muito pelo contato entre diferentes núcleos. Na segunda, eu tive que diminuir isso por conta dos protocolos de segurança. Confesso que isso me poupou uns bons capítulos'', conta.
Conhecida pela série ''Justiça'' (2016), Manuela Dias adianta que o resumo de ''Amor de mãe'' recebeu tratamento cinematográfico, assim como a novela.
''Escrevi um grande off para as três protagonistas, como se elas contassem a novela até onde parou. E tudo isso ilustrado com o que acontece, as cenas antológicas. São 12 capítulos de meia hora. É um trabalho híbrido e novo'', afirma.