Não há um escritor vivo que tenha tido tantos romances e contos adaptados para o cinema e a televisão quanto o norte-americano Stephen King, de 73 anos. Mas tampouco há autores tão prolíficos quanto ele, que lançou, nesta semana, seu 62º romance, “Later” (ainda sem lançamento previsto para o Brasil). A lista é muito maior, já que a estes títulos podem ser somados mais de 200 histórias curtas, seja contos, poemas ou novelas.
É um autor que também concilia, como poucos, crítica e popularidade. E conseguiu isto a partir do horror, um gênero que ainda faz parte da crítica torcer o nariz. Mantém uma influência enorme na cultura digital – seu Twitter é fonte inesgotável de dicas culturais e observações ácidas sobre o caos no mundo atual.
Leia Mais
Série 'The stand' é versão de livro clássico de Stephen King na era COVIDEm 'Mr. Mercedes', Stephen King mergulha na América profundaStephen King 'pede desculpas' por 'prever' pandemia em seus livros nos anos 1970Flávio Venturini faz live nesta segunda à tarde, diretamente do MineirãoSérie documental sobre paixão, ciúme e solidão estreia nesta quintaA retrospectiva, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil, deveria ter sido realizada em Belo Horizonte em abril de 2020, encerrando uma trajetória que reuniu 11 mil pessoas nas edições promovidas no CCBBs do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.
Adiado em decorrência da pandemia da COVID-19, o evento está sendo promovido nos formatos presenciais (com sessões no teatro 1 do espaço cultural) e digital (por meio da plataforma Darkflix). Complementando as exibições, ao longo deste mês serão realizadas lives, palestras e curso. O formato presencial pode mudar caso sejam anunciados novos protocolos sanitários pela Prefeitura de Belo Horizonte.
Onze produções serão exibidas exclusivamente na Darkflix (e todas, a partir de sua data de estreia na mostra, ficarão disponíveis até o último dia do evento). Há filmes que eram inéditos no Brasil até então, como “Um casal perfeito” (2014, de Peter Askin), baseado na história do serial killer BTK, que cometeu uma série de assassinatos no Kansas entre os anos 1970 e 1990.
Séries e minisséries também vão para o streaming, como “A dança da morte” (1994). É uma adaptação de um dos livros mais importantes do escritor, que desde que a pandemia começou vem sendo apontado como a obra literária de King que melhor traduziu para a ficção o caos instaurado no mundo real. Ganhou em janeiro agora uma nova versão, a série “The stand” (título original do livro), disponível na plataforma Starzplay.
A seleção de lista tão extensa de títulos teve dois critérios. “Primeiramente foi com os filmes disponíveis, pois alguns não têm direitos de exibição no Brasil. E depois o nosso gosto pessoal”, comenta Rita Ribeiro, que divide a curadoria com Breno Lira Gomes. Desta maneira, uma adaptação recente, “A torre negra” (2017), dirigido por Nikolaj Arcel, ficou de fora. “Me recusei porque o filme é um insulto. Excluímos alguns títulos ruins e continuação, mesmo porque neste caso não são obras originais”, continua ela.
REFERÊNCIA
Os clássicos estão presentes, é claro. “Um sonho de liberdade” (1994, de Frank Darabont, que dirigiu quatro filmes criados a partir de histórias de King) é a adaptação preferida do escritor, conforme ele revelou em longa entrevista realizada há cinco anos ao “Deadline”. Outro dos títulos que ele mais gosta, “Conta comigo” (1986), permanece influente 35 anos depois de seu lançamento.Filme referência de gerações, “O iluminado” (1980), de Stanley Kubrick, suscitou críticas de King desde o lançamento. “Um lindo Cadillac sem motor”, foi como ele se referiu ao longa estrelado por Jack Nicholson. A mesma história ganhou uma minissérie em três episódios dirigida por Mick Garris e roteirizada pelo próprio escritor. Está na seleção da mostra. “A minissérie é totalmente fiel à história, tem muito mais a ver com o livro. Todas as outras em que ele participa como roteirista ou produtor são mais fiéis”, comenta Rita.
Há também na mostra o filme que suscitou um “eca!” quando King falou sobre as piores adaptações. Tal “título” pertence ao filme “A criatura do cemitério” (1990, de Ralph S. Singleton). “A produção é bastante irregular. Inclusive tem um filme que o próprio King dirigiu, ‘Comboio do terror” (1986), sobre caminhões que ganham vida, que é ruim de morrer. Ele viu a besteira que fez e resolveu ficar longe das câmeras”, conta Rita. Mas para os fãs do autor, assistir a um filme dirigido pelo próprio tem sua razão de ser.
DIÁLOGOS ATUAIS
A relação de King com suas adaptações é bastante tranquila. Ele inclusive mantém em seu site (stephenking.com) a seção Dollar Baby. Ali há uma lista de histórias originais que não estão sob contrato para filmes e podem ser adaptadas por estudantes de cinema. É cobrado um dólar para a obtenção do direito.“Não sou um cara difícil de conviver. Nunca acendi uma luz vermelha para ninguém sobre qualquer coisa que quisessem fazer. Porque se querem fazer mudanças, se querem estar um pouco no limite, sou totalmente a favor. Eu gosto disso”, já afirmou o escritor.
Para Rita Ribeiro, independentemente da época de seu lançamento, as histórias de Stephen King “sempre dialogam com o momento em que vivemos”. “’Eclipe total’ (1995), fala sobre abuso contra a mulher. ‘It’ (na mostra com as versões de 1990 e de 2017) mostra abuso infantil e preconceitos com pessoas negra, enquanto ‘O aprendiz’ (1998) é sobre essas crianças neonazistas inundando o mundo”, finaliza.
MOSTRA STEPHEN KING – O MEDO É SEU MELHOR COMPANHEIRO
Até 22 de março. Sessões presenciais no Centro Cultural Banco do Brasil – Praça da Liberdade, 450, Funcionários e on-line, na plataforma Darkflix (darkflix.com.br). Para as sessões no CCBB, os ingressos estão disponíveis para venda (R$ 10) ou retirada gratuita no site eventim.com.br. As sessões on-line são gratuitas. Programação completa: blgentretenimento.com.br/stephenking
PROGRAMAÇÃO
» Nesta quinta (4/3)
•15h30 – Às vezes eles voltam (18 anos)
•19h30 – Voo noturno (14 anos)
» Sexta (5/3)
•15h – Cujo (16 anos)
•19h30 – O sobrevivente (16 anos)
» Sábado (6/3)
•10h30 – Pesadelos e paisagens noturnas: Vol 2 (16 anos, gratuito)
•15h – Eclipse total (16 anos)
•19h30 – Louca obsessão (14 anos)
» Domingo (7/3)
•10h30 – Pesadelos e paisagens noturnas: Vol 3 (16 anos, gratuito)
•14h30 – A ameaça que veio do espaço (14 anos)
•18h – It: Uma obra-prima do medo (14 anos)
» Segunda (8/3)
•15h30 – Vampiros de almas (12 anos)
•19h – It, a coisa (2017) (16 anos)
. Programação complementar
»Lives (no instagram.com/blgentretenimento)
•Dia 9, às 19h30 – Escritor Cesar Bravo e curadora Rita Ribeiro
•Dia 11, às 19h30 – Pesquisador Carlos Primati, cineasta Marcello Trigo e curador Breno Lira Gomes
•Dia 16, às 19h30 – Escritora Ilana Casoy e curadora Rita Ribeiro
»Palestra on-line
•Sábado (6/3), às 18h – O terror na literatura. Com a curadora Rita Ribeiro. Transmissão via Zoom com inscrições gratuitas no sympla.com.br
»Debate on-line
•13/3, às 19h – A literatura de terror no cinema. Com a tradutora Regiane Winarski, o editor do site stephenking.com.br, Edilton Nunes, a curadora Rita Ribeiro e mediação do curador Breno Lira Gomes. Transmissão ao vivo no canal da BLG Entretenimento no YouTube.
»Masterclass presencial
•13/3, às 10h30 – O horror que nos rodeia: da literatura para o cinema. Curso de 2h30 ministrado pela curadora Rita Ribeiro. No CCBB. Ingressos (R$ 10) deverão ser retirados no site eventim.com.br a partir de 10 de março.