“Essa mostra é especial porque fortalece esta nova geração de mulheres diretoras para dar impulso e luz nesses novos talentos.” A frase de Rebeca Casagrande, diretora do São Paulo Film Festival, define a proposta da mostra “Mulheres no cinema”, que começa nesta sexta-feira (5/3) e vai até domingo (7/3), de forma gratuita, neste site. Vinte curtas, nacionais e internacionais, dirigidos por mulheres estão na programação. Além disso, lives e debates com as diretoras serão realizados por meio das redes sociais (@saopaulofilmfestival) e no canal do evento no YouTube.
A mostra ocorre uma semana após Chloe Zhao ganhar o Globo de Ouro de melhor diretora pelo filme “Nomadland”, tornando-se a segunda mulher na história a levar o prêmio. “Fiquei muito feliz, achei supermerecida (a vitória)... Os filmes de grande bilheteria nos Estados Unidos não chegam a 10% de direção feminina. Recentemente, apenas “Mulher-Maravilha” (de Patty Jenkins), entre essas grandes produções, foi dirigido por uma mulher. Então, os festivais e premiações dão esse reconhecimento para que as produtoras chamem mais mulheres no futuro”, detalha Rebeca.
Rebeca cursou cinema na Universidade da Califórnia de Los Angeles, UCLA, e é fundadora da produtora Cinemakers, junto com seu sócio, Fábio Medeiros. Responsável por outros projetos, como o documentário “Data-limite segundo Chico Xavier”, ela criou a mostra “Mulheres no Cinema” em 2021 com a intenção de reconhecer os trabalhos de diretoras em todo o mundo.“Tem filme da Polônia, Itália, Inglaterra, China e Índia. É uma diversidade cultural muito grande. E uma diversidade de estilos também. Tem drama, documentário, live action. Tentamos resumir tudo em 20 filmes que representassem uma variedade de temas e gêneros.”
A seleção dos curtas foi feita a partir das inscrições realizadas no São Paulo Film Festival de 2020 e 2021. Alguns dos filmes acabaram não sendo relacionados para a programação do festival no ano passado e foram incluídos na mostra deste ano. No site, o público poderá votar em suas produções favoritas. O vencedor levará a premiação de R$ 5 mil.
As lives contarão com seis diretoras brasileiras: Thainá Prado, Helena Hilario, Carolina Neves, Cintia Bittar, Mariana Britto e Luisa Parnes. Os debates serão com a atriz Bárbara Paz, que vai falar sobre a direção de “Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou”, e com a produtora Debora Ivanov, que assina mais de 60 produções em sua trajetória profissional, além de enfocar o papel da mulher no audiovisual.
DESTAQUES
Um dos destaques da programação é o curta-metragem documentário “Everest sustentável”, dirigido por Mariana Britto. O filme foca em expor a situação insustentável da montanha mais alta do mundo através de uma expedição minimalista, na qual Mariana e sua equipe, além de visar o menor consumo de água, resíduos e energia possíveis, catam o lixo que encontram pela trilha.
“O Everest é visto hoje como uma das montanhas mais sujas do mundo. Não existe hoje uma estrutura de descarte de lixo adequada. Então, a montanha é cheia de pacotes de salgadinho, embalagens e cigarros”, explica a diretora do curta.
Mariana espera que seu filme conscientize tanto a população do Nepal quanto quem vai até lá para subir a montanha. Além do curta, ela lançará, ainda em março, o “Manual de boas práticas na montanha”, que será disponibilizado para as agências e turistas que exploram a região. A renda com a venda de fotografias da expedição foi revertida para um orfanato próximo ao Everest.
Assim como Mariana Britto, Thainá Prado também viajou para outro continente para filmar seu documentário, “Sangue sagrado”. Ao evidenciar a situação de como a questão menstrual é tratada em comunidades da Nigéria, a diretora tenta quebrar o tabu relacionado à questão feminina. A produção mostra como mulheres não podem cozinhar ou lavar a roupa de seus maridos durante o ciclo menstrual, enquanto as mais jovens não podem sequer frequentar as escolas ou brincar na rua.
“A palavra menstruação já é um tabu muito grande. E isso causa um atraso da informação, que acaba refletindo no problema que as meninas têm nas escolas, porque abandonam os estudos, refletem nos banheiros dos colégios, que muitas vezes são coletivos, além de interferir na relação dentro de casa, entre pai e filha. São muitas questões, é muito abrangente a questão do tabu.”
*Estagiário sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro
SÃO PAULO FILM FESTIVAL
Mostra “Mulheres no cinema”, desta sexta-feira (5/3) a domingo (7/3). Gratuito pelo site https://www.saopaulofilmfestival.com.br, onde também consta a programação completa e os 20 curtas, nacionais e internacionais, que serão exibidos. Lives e debates serão transmitidos pelas redes sociais (@saopaulofilmfestival) e no canal do evento no YouTube.