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Estado de Minas LITERATURA

Cordel se rende às lives em "Encontro virtual com poetas populares"

Proposta do evento, que terá participação da cordelista maranhense Rosário Pinto, é ressaltar a importância da expressão artística em diversas áreas


06/03/2021 04:00 - atualizado 05/03/2021 21:44

Cordelista maranhense Rosário Pinto participará do encontro virtual e falará sobre a produção feminina na literatura de cordel(foto: Mônica Ramalho/Divulgação)
Cordelista maranhense Rosário Pinto participará do encontro virtual e falará sobre a produção feminina na literatura de cordel (foto: Mônica Ramalho/Divulgação)

Trocar versos e falar sobre a importância social, cultural e educativa desta expressão artística popular que é a literatura de cordel, hoje tombada pelo Instituto Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio imaterial do Brasil. Esse é um dos propósitos do “Encontro virtual com poetas populares”, que reunirá todos os sábados de março e abril, sempre às 16h, 16 cordelistas de diferentes gerações e regiões brasileiras.

O curador do evento, Fernando Assumpção, garante que não é de hoje que a literatura de cordel faz seu coração bater na cadência das rimas. Ele conta que, em 2010, atuava na equipe que batalhou, junto ao Iphan, para emplacar, em 2018, o cordel como patrimônio imaterial da Brasil.

Agora, Assumpção sonha em tocar a Amo Cordel, associação fundada pelo próprio e já repleta de projetos que valorizam a manifestação cultural. A literatura de cordel teve início em Portugal, no século 12, com os trovadores medievais. “Ela é uma arte em constante renovação. Estamos animados em trazer um bem cultural desse quilate para o formato das lives, um jeito de continuar falando com as pessoas nesta crise sanitária mundial.”

Ele esclarece que o encontro será alinhavado em oito temas, com dois artistas por vez, em conversas ao vivo, mediadas por estudiosos e conhecedores deste universo. Assumpção ressalta que, para muitos, além do entretenimento, a literatura de cordel se consolidou no Brasil como uma expressão artística socioeducativa. “Com a sua linguagem simples e acessível, mas também artisticamente sofisticada, o cordel conta histórias e dissemina informações relevantes para populações inteiras em diversos recantos do país.”

Assumpção explica que o cordel traz uma função política em sua gênese, pois viabiliza a compreensão da realidade e das novidades que chegam a esses lugares. “Em Portugal, servia para informar os analfabetos.” O curador, que atua na área há 15 anos, revela-se admirador da cultura popular. “Qualquer uma delas me atrai e o cordel é sofisticado, porque não é só imprimir folhetos, tem todo um rigor, é como se fosse um soneto. Só é cordel se tiver métrica, rima e oração, não é algo que só tem estética. A poética dele sempre me atraiu, do ponto de vista da literatura e como gênero literário. O cordel também transita pelo lúdico, o jocoso e o duplo sentido e valoriza a cultura e a personalidade.”

O encontro também abordará a produção contemporânea e discutirá o mito de que o cordel é nordestino. “Ele é uma manifestação brasileira, embora tenha tido grande repercussão no Nordeste, até por conta de algumas questões sociais que fizeram com que ele se adentrasse um pouco mais naquela região. Ele não está muito representado no Sul de Minas, pois a máxima dele é no Nordeste e em estados como o Rio de Janeiro e São Paulo.”

Produção feminina 

Com participação marcada para 27 de março, a cordelista Rosário Pinto falará sobre a produção feminina na literatura de cordel. “Era um universo de homens e no qual a mulher não tinha vez, pois ela era o objeto do poeta, a musa inspiradora. Pouco a pouco, ela começou a escrever, mas ainda de forma tímida. E a escrita dela foi evoluindo até chegar hoje, quando conquistou uma fatia desse universo da literatura de cordel.”

Rosário dividirá a pauta com a poeta cearense Josenir Lacerda. “Sou maranhense, mas moro no Rio de Janeiro. Meu pai tinha um forte interesse literário, lia muito, e entre as suas leituras estavam os poetas populares. Fui tomando conhecimento, mas ainda muito en passant, pois ainda era criança.”

Depois que cresceu, Rosário continuou com interesse de ler sobre o cordel e passou a frequentar a Academia Brasileira de Literatura de Cordel. “Comecei a escrever sobre temas que chamavam a minha atenção e pesquisando autores. Escrevi um folheto que se chama “O poeta e o folheteiro”, no qual explico quem é o poeta de cordel, quais os da primeira metade do século 20 e quais as influências deles na formação dos novos.” Segundo Rosário, o folheteiro era o sujeito que vendia os folhetos em feiras livres, eventos e portas de igrejas.

Poeta cordelista da Academia Brasileira de Literatura e da Academia Alagoana de Literatura de Cordel, William J. G. Pinto se apresenta neste sábado (6/3), às 16h. “Nasci em Palmeira dos Índios (AL) e conheci o cordel em uma feira que havia todo sábado em minha cidade, onde se reuniam poetas, cordelistas, folheteiros e até vendedores de ervas milagrosas. Era uma feira normal de cidade do interior.”

Quando terminou o ensino médio, William se mudou para Maceió, onde cursou odontologia. “Lá comecei a dar as minhas primeiras pinceladas na escrita do cordel, ainda na época da ditadura militar. Terminei o curso em 1975, e me mudei para o Rio de Janeiro no ano seguinte. E foi na Cidade Maravilhosa, lá pelos anos 1980, que tomei conhecimento da Academia Brasileira de Literatura de Cordel e comecei escrever folhetos.”

O primeiro cordel escrito por Wiliam se chamava “A história de Ritinha”. “Contava a vida de uma menina que saiu de Palmeira dos Índios e foi morar no Rio de Janeiro, onde conheceu a droga e a prostituição. Ela acaba perdendo a virgindade para um político que a enganara. Depois disso, mergulhou nas drogas e na prostituição. É uma história que foi até encenada no teatro”, orgulha-se o cordelista.

ENCONTRO VIRTUAL COM POETAS POPULARES

Todos os sábados de março e abril, sempre às 16h, com transmissão pelo Instagram e YouTube do evento

>> Sábado (6/3) – “Cantoria e causos populares”, com Ivamberto de Oliveira e Willian J. G. Pinto. Mediação: Geraldo Aragão, poeta e pesquisador de cultura popular

>> 13/3  – “Lendas e mitos brasileiros”, com João Batista Melo e Sepalo Campelo. Mediação: Cáscia Frade, professora e pesquisadora de cultura popular

>> 20/3 – “Os poetas e a produção da literatura de cordel no Nordeste para além do cangaço”, com Klévisson Viana e Anilda Figueiredo. Mediação: Cláudia Márcia Ferreira, diretora do 
Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular

>> 27/3 – “Produção feminina na literatura de cordel”, com Rosário Pinto e Josenir Lacerda. Mediação: Beth Costa, pesquisadora do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular

>> 3/4  – “Patrimônio imaterial: cordel, capoeira e samba”, com Victor Lobisomem e Severino Honorato. Mediação: Mônica da Costa, assessora de patrimônio imaterial do Iphan RJ

>> 10/4 – “O romance na literatura de cordel”, com Moreira de Acopiara e José Valter Pires. Mediação: Carolina Nascimento, pesquisadora do Observatório do Patrimônio Cultural do Sudeste

>> 17/4 – “A literatura de cordel, a gaiatice e o jocoso”, com Dalinha Catunda e Lindicássia Nascimento. Mediação: Fernando Assumpção, curador do Encontro Virtual com Poetas Populares

>> 24/4 – “Cordel da contemporaneidade”, com Rosilene Melo e Zé Salvador. Mediação: Ricardo Lima, professor do Instituto de Artes da UERJ


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