Jornal Estado de Minas

MÚSICA

Victor Xamã ergue a voz do Norte do país com 'Calor'


''Pro Brasil, o Norte é invisível/ Passeio pra gringo/ Parquinho pro crime'',  canta Victor Xamã na faixa-título do EP ''Calor'', recém-lançado nas plataformas digitais. O verso dá o tom à narrativa que o rapper amazonense assume no novo trabalho, marcado pela exaltação da Região Norte do país. Fruto da quarentena, o registro é o segundo que o artista lança em menos de um ano, o que eleva as apostas em seu nome como novo destaque do rap nacional.  

''Em 2020, lancei um EP chamado 'Cobra coral', feito de forma autônoma, em casa, que rendeu ótimos frutos e impulsionou a minha carreira. Depois disso, fui contemplado por um edital, via Lei Aldir Blanc, que possibilitou esse novo trabalho'', conta.





Segundo Victor Xamã, ''Calor'' foi construído em torno desse título e é composto de muito material que já estava escrito antes mesmo de começar a produção. ''Eu queria usar essa palavra, porque ela conversa com o lugar de onde eu vim, mas não está só relacionada com a temperatura. Também tem a ver com as palavras, a rima e a arte'', afirma.

Composto por cinco faixas, o EP acena para o soul, estilo em que o artista vem se aprofundando nos últimos anos, numa tentativa de refinar o próprio rap.

Ouça:


O registro conta com a presença de dois nomes de peso no hip-hop brasi- leiro. O baiano Baco Exu do Blues é o convidado do rapper amazonense em ''Balas & canivetes''. Já o mineiro radicado em Brasília Froid aparece na faixa ''Contraste'', que também conta com a voz da amazonense Gabi Farias.

''Para mim, eles são os maiores nomes do rap nacional hoje. Existe uma nova geração que está escutando esses caras, em vez de Racionais . Isso é uma responsabilidade e tanto. É todo mundo jovem, passível de erro. São referências para mim'', diz Xamã, que tem 25 anos, a mesma idade de Baco e dois anos a menos que Froid.





O time de convidados também é integrado por Nic Dias, de Belém, que figura na faixa-título, e Anne Jezini, em ''Admiração''.

Fã de rap desde criança, Victor Xamã começou a compor suas primeiras rimas aos 12 anos. Seu primeiro trabalho, ''Janela'', saiu em 2015, e foi sucedido por ''VE,CG'', de 2017. Como referências musicais, ele ressalta nomes da MPB, como Tim Maia (1942-1998) e Caetano Veloso, e também os ícones norte-americanos James Brown (1933-2006) e Charles Bradley (1948-2017).

Mas Xamã também assinala a importância do hip-hop de Manaus. ''Meu padrinho, que me ensinou muito do que sei hoje, é o DJ MC Fino. Ele está no rap há mais de 30 anos. Hoje em dia, temos uma cena muito forte, não só em Manaus, como em toda a região Norte e no Brasil inteiro. O rap veio com força e está tomando tudo, de uma forma carinhosa, dando oportunidade para os jovens expressarem suas realidades'', diz.


FORA DO ÓBVIO

Apesar de ter uma força local muito grande, ele conta que seu maior número de ouvintes no Spotify é de São Paulo, algo que ele avalia como positivo. ''Muita gente se identifica com a sonoridade sem necessariamente conhecer a realidade de quem canta. Eu venho falando algo novo, fora do óbvio, então é natural que as pessoas se identifiquem mesmo'', diz.




Em janeiro passado, Manaus atingiu o limite de atendimento em hospitais: sem leitos e sem oxigênio para tratar os pacientes de COVID-19. Com o sistema de saúde em colapso, médicos e autoridades pediram ajuda para salvar a vida de quem estava internado.

Na época, Victor Xamã não estava em sua cidade natal, e sim em São Paulo, mas acompanhou as notícias com bastante apreensão, principalmente em razão do fato de sua família estar na capital amazonense.

''Minha primeira reação foi de preocupação. Lá eu tenho não só a minha família inteira, como conhecidos e des-  conhecidos. É o meu povo. A segunda reação foi de raiva. A falta de oxigênio é algo que comprovadamente poderia ter sido evitada. As pessoas estavam morrendo sufocadas, a gente teve que recorrer a outros países'', comenta.





Para ele, tudo o que ocorreu é fruto da invisibilidade que a região sofre. ''Em tudo o que acontece no Brasil, os últimos a ser amparados são os estados do Norte. Isso é indiscutível, é um fato. Casos como o de Manaus, do Amapá e do Acre só reiteram isso. Nós precisamos aprender a manipular as nossas riquezas, tanto monetárias quanto culturais, ambientais e naturais. Quando eu grito que o Norte é invisível, estou cantando a verdade nua e crua. Infelizmente.''

(foto: Divulgação)

“CALOR”
• De Victor Xamã
• Independente
• Disponível nas plataformas digitais

FBC E VHOOR

Parceiros de longa data, o rapper FBC e o beatmaker Vhoor, ambos mineiros, lançaram recentemente o EP ''Outro rolê'', composto por seis faixas. O trabalho ganhou tratamento especial ao chegar às plataformas digitais em três versões: uma composta pelas músicas na íntegra; outra com os instrumentais dessas mesmas gravações; e mais uma com a versão a capella das originais. Dedicado ao drill, vertente norte-americana do trap, o projeto também faz referência ao funk produzido em BH. Para cada música foi gravado um clipe na Europa, em parceria com a WRM (World Rap Music). Os vídeos de ''Champs-Élysées'' e ''Levar a sério'' já estão disponíveis no YouTube.
(foto: WRM/Divulgação)

“OUTRO ROLÊ”
• De FBC e Vhoor
• WRM
• Disponível nas plataformas digitais



LEALL

Rapper carioca, Leall lançou seu primeiro álbum na última terça-feira (2/3), fortemente influenciado pelo grime, subgênero do hip-hop que se caracteriza pelas batidas aceleradas. Produzido por Luna, o álbum ''Esculpido a machado'' é composto por 12 faixas que falam sobre a vida nas ruas do Rio de Janeiro. Músicas como ''Duas pistolas'', ''Portas abertas, caixão fechado'', ''Cadeia ou morte?'' e ''Pedro bala'' integram o repertório. O rapper VDN aparece na faixa ''Desfile bélico''.
(foto: Divulgação)

“ESCULPIDO A MACHADO”
• De Leall
• Independente
• Disponível nas plataformas digitais







audima