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Estado de Minas AUDIOVISUAL

Brasileira que obteve decisão mundial em favor da mulher é tema de filme

'Bertha Lutz - A mulher na Carta da ONU' estreia nesta terça (9/03), na HBO, e mostra batalha pela igualdade de gênero travada em 1945 nas Nações Unidas


09/03/2021 04:00 - atualizado 09/03/2021 10:48

As pesquisadoras Elise Luhr Dietrichson e Fátima Sator travaram uma batalha diplomática pelo reconhecimento do papel de Bertha Lutz(foto: HBO/DIVULGAÇÃO)
As pesquisadoras Elise Luhr Dietrichson e Fátima Sator travaram uma batalha diplomática pelo reconhecimento do papel de Bertha Lutz (foto: HBO/DIVULGAÇÃO)
Uma cientista e feminista brasileira cuja contribuição para a inclusão dos direitos da mulher na Carta das Nações Unidas só veio à luz graças à pesquisa de duas estudantes, uma argelina e uma norueguesa. É essa a gênese do documentário “Bertha Lutz – A mulher na Carta da ONU”, de Guto Barra e Tatiana Issa, que estreia nesta terça (9/3), na HBO.

O longa-metragem é a história de Bertha Lutz (1894-1976), mas também a de Fatima Sator e Elise Luhr Dietrichson. Em 2016, então estudantes da Universidade de Londres, as duas se depararam com uma descoberta. Em 1945, na Conferência de São Francisco, convenção que resultou na criação da Carta das Nações Unidas, foi Bertha quem conseguiu incluir uma referência específica ao princípio da igualdade de gênero.

Até a descoberta, a narrativa oficial creditava à ex-primeira-dama dos EUA Eleanor Roosevelt (1884-1962) o protagonismo na defesa dos direitos das mulheres. Mas Eleanor não esteve em São Francisco. O encontro, que durou dois meses, teve início em 25 de abril de 1945, duas semanas após a morte do ex-presidente Franklin Delano Roosevelt.

Mais de 70 anos depois, sessão na ONU recuperou a trajetória da cientista brasileira(foto: HBO/DIVULGAÇÃO)
Mais de 70 anos depois, sessão na ONU recuperou a trajetória da cientista brasileira (foto: HBO/DIVULGAÇÃO)

Na verdade, entre os 160 delegados de 50 países que ficaram até o final e negociaram o tratado, só havia quatro mulheres. Além da brasileira, Virginia Gildersleeve, dos EUA, Minerva Bernardino, da República Dominicana, e Wu Yi-fang, da China. E só duas brigaram pela inclusão dos direitos das mulheres: Bertha e Minerva, a dupla latino-americana.

O período de negociação não foi fácil, conforme revelou Bertha em uma carta: “A senhorita Gildersleeve nos convidou para um chá bem modesto, para o qual a maioria das minhas colegas foram espertas de não comparecer... Ela prosseguiu dizendo que esperava que eu não fosse pedir nada ‘pelas mulheres’ na Carta da ONU, pois seria algo muito vulgar”.

A partir deste cenário, Fatima e Elise, ambas estudantes de 20 e poucos anos, iniciaram um trabalho de reconhecimento de Bertha. Por que ninguém sabia da luta dela? Por que não havia nenhuma imagem de Bertha ou Minerva na própria ONU? Por que havia diferença entre o Norte e o Sul? São várias as questões a que a dupla tenta responder, enquanto é acompanhada passo a passo pelas câmeras de Barra e Issa. O processo consumiu quase três anos e repetidas viagens a Genebra, Nova York, Brasília e Rio de Janeiro.

O que fica claro, desde o início, é que uma correção histórica em uma organização de cooperação internacional envolveria muita diplomacia, algo que as duas estudantes tiveram que aprender. Depararam-se com portas fecha- das. Em sua primeira visita à sede da ONU, em Nova York, para apresentar a documentação, saíram de lá com duas canetas de brinde e nada mais. Viveram também algumas saias justas – na embaixada brasileira em Londres, fica claro que a visita diplomática não trouxe mais do que promessas vazias.

Em boa parte rodado em reuniões em escritórios, o documentário vai ganhando um clima de investigação, com “heróis” e “vilões”.  A porção brasileira é, por razões óbvias, o ponto alto. Em solo nacional, as duas estrangeiras descobrem os aspectos mais pessoais de sua personagem. 
Bertha, bióloga, filha do cientista Adolfo Lutz, nunca se casou, e teve uma vida independente. De espírito forte, estava muito à frente de seu tempo – em fotos históricas, não raro é a única mulher presente em reuniões.

É tocante e ao mesmo tempo triste ver objetos pessoais da cientista no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Esse trecho foi filmado meses antes do incêndio de setembro de 2018, que consumiu a instituição – todo o acervo de Bertha foi destruído.

Interessante também é ver a transformação pela qual passaram as duas estudantes, suas alegrias, indignações e frustrações frente ao longo processo. De uma sessão na ONU, em Nova York, para falar da atuação de Bertha em uma palestra em sala de aula com alunos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, dificilmente as duas, hoje profissionais atuantes em diferentes segmentos da ONU, esmorecem. 

"BERTHA LUTZ – A MULHER NA CARTA DA ONU"

O documentário será lançado nesta terça (9/3), às 20h, na HBO e HBO Go 


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