Foram dois anos de muita expectativa para os fãs, desde que a Paramount confirmou, ainda em janeiro de 2019, a sequência da comédia “Um príncipe em Nova York”, pouco mais de 30 anos após o lançamento do filme original. Após seguidos adiamentos e diante da impossibilidade de estreia no cinema devido à pandemia do novo coronavírus, “Um príncipe em Nova York 2” finalmente chegou ao catálogo do Amazon Prime Video, com exclusividade, na última quinta-feira (5/3).
Já era certo que a história teria de volta boa parte do elenco original, obviamente, três décadas mais velho. Restava saber como esse hiato temporal se aplicaria à continuidade da trama anterior, concebida pelo astro da comédia Eddie Murphy, com roteiro assinado por David Sheffield e Barry W. Blaustein.
Além de o príncipe ter se tornado rei, a resposta passa pela incorporação de transformações sociais ocorridas ao longo desse tempo. Essa é, aliás, uma característica de outras sequências tardias que têm se revelado boas apostas de audiência.
Lançado em 1988, sob direção de John Landis, o primeiro filme se transformou em grande sucesso popular ao trazer Murphy, ainda com 27 anos e começando a despontar no cinema, depois de conquistar enorme sucesso na TV americana, como o príncipe herdeiro de Zamunda, uma fictícia e rica nação africana.
Para escapar de um casamento arranjado por interesses políticos, ele foge para Nova York, onde vive uma hilária aventura, na companhia do amigo Semmi, um dos vários personagens de Arsenio Hall no filme.
Assista ao trailer:
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Na megalópole americana, hospedada na região do Queens, a dupla passa por diversas situações caricatas na busca de uma vida simples e anônima, em tudo diferente da luxuosa e entediante rotina da realeza.
Em meio a muitas confusões, o príncipe Akeem Joffer conhece e se apaixona por Lisa McDowell (Shari Headley), filha do dono de uma rede de fast-food que leva o sobrenome da família (uma das sátiras mais emblemáticas do filme).
Estrutura relembra filme original
A direção da recém-lançada sequência é de Craig Brewer, que trabalhou com Murphy em “Meu nome é Dolemite”, indicado ao Globo de Ouro no ano passado. A dupla de roteiristas do primeiro filme retornou, mas desta vez na companhia de Kenya Barris, da série “Black-ish”.A estrutura humorística lembra muito a do primeiro filme. Há, inclusive, o resgate de elementos icônicos, como a barbearia do Queens na qual Eddie Murphy e Arsenio Hall acumulam a interpretação dos barbeiros debochados e desbocados em diálogos com seus outros personagens.
Contudo, há a devida repaginação da trama para o século 21. Especialmente na incorporação de aspectos da desconstrução de injustiças sociais que estiveram em pauta nos últimos anos. A nova história é, de certa forma, sobre isso.
Com a morte de seu pai, o Rei Jaffe Joffer (James Earl Jones), o príncipe Akeem herda a coroa de Zamunda, mas se depara com a mesma situação da qual foi vítima 33 anos antes. Por não ter nenhum filho homem, ele se vê obrigado a casar sua filha mais velha, a Princesa Meeka (KiKi Layne), com o príncipe de uma nação vizinha e ameaçadora, já que a lei de seu país não permite que uma mulher reine.
Meeka é brilhante e altamente preparada para o cargo. Ainda assim, é preterida pelo pai, que prefere retornar a Nova York, ao saber da existência de um filho bastardo, fruto da viagem mostrada no filme anterior. Ele encontra o jovem, interpretado por Jermaine Fowler, que vive em dificuldades financeiras ao lado da mãe, personagem de Leslie Jones, principal reforço para a carga humorística da continuação.
Desconstrução machista
Embora haja um foco no choque de realidade vivido pelo rapaz que descobre ser príncipe, a narrativa dá espaço para a desconstrução da tradição machista no reino, a partir da valorização intelectual de Meeka. Algo bem diferente do que se vê no primeiro longa, em que a presença feminina é meramente coadjuvante, com Lisa sendo alvo de disputa entre Akeem e o então namorado dela. Nesta sequência ela surge mais fortalecida, na condição de rainha, e cumprindo um papel importante no empoderamento feminino proposto.As outras duas filhas mais novas de Akeem, Omma Joffer (Bella Murphy, filha de Eddie Murphy na vida real) e Tinashe Joffer (Akiley Love) também aparecem rompendo com o lugar tradicional das mulheres. Outra figura decisiva é Mirembe, vivida pela sul-africana Nomzamo Mbatha. Trata-se de uma trabalhadora do palácio de Zamunda.
Em entrevista para a divulgação do filme, Arsenio Hall disse que o que mais o animava no trabalho era precisamente “a mensagem de empoderamento feminino" e afirmou ter “orgulho do filme”. "Lá estava eu, às 2h da manhã, vendo Bella (Murphy) e Ms. Love (Akiley) acabando com as pessoas. O que esse filme faz, o que ele fala sobre mulheres é incrível", afirmou o ator. Mbatha ressaltou o mesmo aspecto, ao dizer que "o tema central deste filme é o poder da voz feminina”. E acrescentou: “É o que eu amo nesta sequência”.
Mesmo com essa nova abordagem, Eddie Murphy deu declarações indicando que o longa tem sua importância por ser uma opção de “escapismo” em tantos contextos mais pesados. A recepção pela crítica foi dividida. Em sites que mensuram as avaliações de crítica e público, como “Rotten Tomatoes” e “Metacritic”, “Um príncipe em Nova York 2” tem avaliação mediana, com nota em torno de 5 (numa escala que vai até 10).
Contudo, o retorno comercial, impulsionado pelo carisma dos personagens e pela nostalgia, foi certeiro. Segundo levantamento feito pelo Screen Engine/ASI, divulgado pelo “The Hollywood Reporter”, a audiência do filme no final de semana de estreia superou “Borat: Fita de cinema seguinte”, também da Amazon Prime; “Mulher-Maravilha 1984”, lançado pela HBO Max, tornando-se a estreia mais vista da história da plataforma. A empresa não divulga dados precisos, mas Jennifer Salke, chefe da Amazon Studios, confirmou à imprensa norte-americana que o lançamento superou as expectativas.