Em meio século de conflitos armados, milhares de pessoas desapareceram na Colômbia. No México, apenas no século 21, 250 mil pessoas já morreram por causa do narcotráfico. Com média diária de 16 mortes, a polícia brasileira é a que mais mata no mundo – dois terços desses mortos são jovens negros.
A partir desses dados, que são gravíssimos e alarmantes, mas gerais, o documentário “América armada” atinge em cheio o espectador, para falar da violência armada por meio de três personagens. O longa-metragem de Pedro Asbeg e Alice Lanari, que será lançado nesta quinta (11/3) nas plataformas de vídeo sob demanda, acompanha narrativas de lugares distantes e distintos, mas que se tornam próximos sob a perspectiva da violência que os caracteriza.
Assista ao trailer:
De Medellín, Colômbia, conhecemos Teresita Gaviria, uma senhora cujo filho desapareceu em 1999. Há duas décadas sem ter notícias dele, tornou-se integrante do grupo Madres de La Candelária. Com mulheres assim como ela, promove encontros entre as mães em luto com os assassinos presos de seus filhos.
Mesmo ameaçado de morte, o jornalista mexicano Heriberto Paredes não arrefece. Acompanha a luta de grupos de autodefesa de indígenas que pegaram em armas para proteger sua terra e suas vidas do narcotráfico em Michoacán. O estado mexicano é cenário de disputas sanguinárias entre cartéis, milícias e polícia – não há em quem confiar.
Nascido no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, o ativista Raull Santiago faz parte do coletivo Papo Reto. Com seu celular, transmite em lives ações e abusos da polícia em sua comunidade.
Rodado em 2017, com uma equipe mínima, que está lado a lado dos três personagens, “América armada” acompanha o dia a dia do trio. É uma ação incessante, bastante desconfortável. Teresita abraça uma mulher cujo filho e o marido desapareceram na Colômbia. Sabe bem qual é a dor dela. Guarda, alguns já marcados pelo tempo, cartazes de desaparecidos.
O personagem que cala mais fundo aos brasileiros é obviamente Raull. No meio da ação, ele mostra de forma explícita o que a imprensa por vezes apenas descreve. Bate boca com um policial de folga, que, de bermuda e camiseta, carrega uma arma na favela, assustando os moradores. Em outra sequência, vai até a casa de uma moradora que expõe a truculência da PM.
Os policiais invadiram sua laje e fizeram do espaço um lugar de observação (e eventualmente troca de tiros) com traficantes. A família tem que conviver forçosamente com a situação, por vezes impedida de entrar na própria casa – e a moradora não se verte e mostra a sujeira que os policiais deixam no lugar, incluindo excrementos.
A ação atinge o nível máximo quando Raull, sempre com o celular em punho, vai até uma área da favela onde a PM atira para o alto, simulando uma troca de tiros. Não há sequer um muro livre de buraco de balas.
“O grande negócio da América Latina é a reprodução da violência”, diz Heriberto. A afirmativa do mexicano dá conta da gravidade da situação imposta pelo tráfico e pelas armas de fogo. De acordo com o que o documentário mostra, esse é um negócio que não tem fronteiras ou ideologias. E a militarização certamente não é a solução.
AMÉRICA ARMADA
O documentário de Pedro Asbeg e Aline Lanari estreia nesta quinta (11/3) no Now, Vivo Play e Oi Play. Em 25 de abril, o longa será exibido na Globonews