Criar letras originais para músicas de compositores como Bach, Vivaldi, Mozart, Beethoven, Schubert, Schumann, Chopin, Brahms, Tchaikovsky e Debussy foi o objetivo do músico Marcelo Quintanilha para lançar o álbum “EruDito” (YB Music). Com 11 faixas, o disco chega às plataformas digitais na sexta-feira (19/3). Traz as participações das cantoras Daniela Mercury, Mônica Salmaso e Virginia Rodrigues e do Padre Fábio de Melo, em quatro canções. A direção artística é de Luca Raele e Camilo Carrara.
O músico paulista conta que, de outubro de 2020 a fevereiro deste ano, foram lançados os singles, “Nem país nem paz”, a partir de “Poco allegretto da 3ª sinfonia”, de Brahms, com participação de Padre Fábio de Melo; “Três sinais”, a partir de “Improviso Op. 90 nº3”, de Schubert, com Mônica Salmaso; “Bem me quer”, a partir da “Abertura Romeu & Julieta”, de Tchaikovsky, com participação de Virginia Rodrigues; e “Carnaval de Viena”, a partir de “Intermezzo do carnaval de Viena Op. 26”, de Schumann, com Daniela Mercury.
Mônica Salmaso revela que o convite de Quintanilha chegou até ela por meio de Luca Raele. “Essa ideia de trazer para a canção brasileira temas conhecidos da música erudita surpreendeu-me, pois parecia algo arriscado. Porém, encantou-me, principalmente nessa conhecidíssima peça de Schubert, tão usada no cinema, que se aproximou da linguagem do choro-seresta em “Três sinais”, com esse time craque de amigos queridos, Camilo Carrara, Edmilson Capelupi e Raele. O Quintanilha foi sábio na construção desta letra e tudo pareceu natural. Adorei cantar essa melodia incrivelmente linda dentro desse universo.”
Esse é o 13º trabalho de Quintanilha e tem como conceito o clássico versado, reunindo melodias eruditas que fazem parte da memória afetiva e do consciente coletivo. Ele lembra que a pesquisa, escolha de repertório, conceito musical e arranjos foram feitos por ele, Raele e Carrara. Ressalta que sua inspiração começou quando ouviu sua mulher, Vania Abreu, cantando “Céu de Santo Amaro” (J.S. Bach / Flávio Venturini), composto sobre o “Arioso da cantata nº 156”, de Bach. Outra inspiração foi “Trenzinho do caipira” (Heitor Villa-Lobos), para a qual Ferreira Gullar fez a letra. “Achei uma ideia muito interessante. Mostrei o que tinha feito para o Raele que me ajudou a lapidar as canções. Carrara se juntou depois ao time e dividiu com Raele a produção musical do projeto.”
Para criar essa mistura entre o popular e o erudito, as canções ganharam versões brasileiras, passando pela bossa nova, moda de viola, marcha-rancho, samba-choro e congado, segundo Quintanilha. O músico afirma que, com versos sensíveis e atuais, as letras foram compostas com todo rigor e respeito às melodias originais e tratam de temas variados – do social, como a questão dos refugiados, passando pelo romântico e o lírico.
Quintanilha garante que os três tiveram cuidado de quase não alterar a métrica original das melodias. “O Raele foi importante, porque cortava palavras e versos que estivessem fora da prosódia, que é basicamente a combinação da sílaba tônica da melodia combinada com a da palavra. Foi um processo demorado e levou três meses para escrever as letras.” Outro cuidado tomado pelo músico foi respeitar os temas evocados pelas próprias peças eruditas para criar as letras.
INÍCIO
O artista lembra que tudo começou em 2019, quando percebeu que poucos compositores e letristas tinham se arriscado a fazer letras, tentando versar músicas clássicas, eruditas. “Realmente me inspirei em “Céu de Santo Amaro”, de Flávio Venturini, que gravou com Caetano Veloso. Achei tão lindo e estranhei o fato dele não ter feito outras no mesmo estilo, porque a música ficou maravilhosa.”
Quintanilha diz não ter encontrado coisa parecida. “Foi aí que me veio a ideia de seguir o feito de Venturini. Pensei primeiro em fazer só fazer as letras para as músicas de Bach, meu compositor preferido dos eruditos, mas descobri que seria difícil fazer com as 11 melodias dele. Na verdade, esses compositores eruditos, em geral, não fizeram suas obras para se tornarem canções, então o espectro de lógica é muito grande, as notas são muito rápidas e nem tudo dá para se colocar letras.”
Foi então que ele fez a “Suíte nº 3 em ré”, de Bach, e ficou feliz com o resultado. “Procurei um pessoal de São Paulo pelo qual tenho apreço e admiração, que é do selo YB Music, e lhes mostrei a versão. Eles acharam muito legal.” Quintanilha conta que Raele, em um primeiro momento, perguntou: “Será que isso vai dar certo?”. “Foi aí que mostrei a primeira música para ele que gostou muito e disse: ‘Vamos tentar mais uma’. E fomos tentando. E ele foi me mostrando diversas músicas e eu empolgando. Fiquei três meses assim, em 'outro planeta’, fazendo as letras. Aos poucos, fomos compondo o repertório. Aí isurgiu a ideia de fazer uma de cada compositor para ter um espectro maior de possibilidades”.
Para ajudar no projeto, os dois resolveram chamar o Carrara. “Ele é um parceiro querido de muitos anos, um violonista maravilhoso e também transita nesses dois mundos tão à parte: música popular e erudita. Tentamos criar essa ponte, fazendo esse repertório e posso dizer que ficamos surpresos com o resultado.”
O músico confessa que os três tinham certo temor, pois não queriam, de maneira alguma, desrespeitar ou mudar muito tanto a métrica quanto a prosódia ou fazer uma coisa brega, ou seja, transformar aquelas obras em algo superficial. “Acho que nós três conseguimos um resultado que ficou a contento de todos.”
Quintanilha revela que as pessoas têm escutado e elogiado os singles já lançados. “Temos tido uma resposta maravilhosa. Criamos essa estratégia de lançar primeiro as quatro músicas que têm as participações especiais. Foi uma decisão para dar uma alavancada e mostrar a versatilidade toda da coisa. Agora, elas se juntam às outras sete e completam o álbum inteiro.”
Participaram das gravações, os músicos Camilo Carrara (violões, bandolim e guitarra), Luca Raele (piano e clarinete) e Danilo Vianna (baixo acústico) e o próprio Quintanilha (voz e violões), além das participações de Peu Del Rey e Danilo Moura (percussão) e Edmilson Capelupi (violão 7 cordas).
CARREIRA
Ao longo de seus quase 30 anos de música, Quinta, como é conhecido, já lançou 12 discos, entre eles, “Caju – As canções de Cazuza por Marcelo Quintanilha” (2018), “Eu inteiro só” (2016), “Cumulus samba” (2012), “Quinto” (2008), “Pierrot & Colombina” (2006), “Mosaico” (2005), “Sala de estar” (2003), “Quinta” (1998) e “Metamorfosicamente” (1995). Ele faz parte, com Jota Velloso e Thathi, do coletivo Os Marchistas, banda que, desde o carnaval de 2013, vem se destacando na folia de Momo com seu show contagiante e irreverente.
Em 2014, Os Marchistas lançaram seu primeiro CD, homônimo. Quinta é parceiro em canções de Daniela Mercury, Carlos Careqa e Tenison Del Rey, e teve suas composições gravadas por artistas como Vania Abreu, Padre Fábio de Melo, Belô Veloso, Péri e Nando Reis.
REPERTÓRIO
1 – Bem me quer
(Pyotr Ilyich Tchaikovsky / Marcelo Quintanilha)
2 – Boas novas
(Johann Sebastian Bach / Marcelo Quintanilha)
3 – Carnaval de Viena
(Robert Schumann / Marcelo Quintanilha)
4 – Dor e dó
(Johann Sebastian Bach / Marcelo Quintanilha)
5 – Nem país nem paz
(Johannes Brahms / Marcelo Quintanilha)
6 – Noturno
(Frédéric François Chopin / Marcelo Quintanilha)
7 – Rima ideal
(Ludwig van Beethoven / Marcelo Quintanilha)
8 – Senhor e rei
(Wolfgang Amadeus Mozart / Marcelo Quintanilha)
9 – Sonhos
(Achile-Claude Debussy / Marcelo Quintanilha)
10 – Três sinais
(Franz Peter Schubert / Marcelo Quintanilha)
11 – Inverno
(Antonio Vivaldi / Marcelo Quintanilha)
ERUDITO
Marcelo Quintanilha
YB Music
11 faixas
Disponível nas plataformas digitais a partir de 19 de março