'Nomadland' chegará ao Brasil em 15 de abril – a data poderá mudar de acordo com o desenvolvimento da pandemia. Independentemente da crise sanitária, há uma certeza: o terceiro filme da cineasta chinesa radicada nos Estados Unidos Chloé Zhao estará no Oscar. O que saberemos nesta segunda (15/3) é a quantas estatuetas o longa vai concorrer.
A partir das 10h20 (horário de Brasília), o casal Priyanka Chopra e Nick Jonas vai anunciar os indicados à 93ª edição do prêmio da Academia de Ciências Cinematográficas de Hollywood. Esta já é a mais longa temporada de premiações, que sofreu mudanças, como tudo, em decorrência COVID-19.
A pandemia fez com que o Oscar fosse adiado para 25 de abril. É o quarto adiamento em sua quase centenária história – a cerimônia sofreu alterações em 1938, por causa de uma inundação em Los Angeles; em 1968, após o assassinato de Martin Luther King; e em 1981, pelo atentado sofrido pelo então presidente Ronald Reagan.
Nesses 40 dias até a premiação, muita coisa pode acontecer, ainda mais porque até o momento não se sabe exatamente como será a cerimônia. Ao contrário do Emmy e do Globo de Ouro, o Oscar promete ter momentos presenciais, com transmissão de vários lugares dos EUA, incluindo o Dolby Theatre, em Los Angeles, seu tradicional palco.
Filme independente adaptado do livro homônimo de Jessica Bruder, “Nomadland” acompanha Fern (Frances McDormand, dois Oscars no currículo e também produtora do longa), uma nômade dos tempos atuais. Após o colapso econômico de 2008, a personagem entra numa van e começa a viajar pelo interior dos EUA, acompanhando um grupo como ela. As pessoas com quem se encontra na história são nômades reais.
A exemplo de “Parasita”, que começou sua vitoriosa trajetória vencendo o Festival da Cannes de 2019, “Nomadland” também teve première em um evento europeu, de onde saiu com o principal prêmio – no caso, o Leão de Ouro em Veneza, em setembro.
Desde então, recebeu o prêmio da audiência do Festival de Toronto, venceu o Globo de Ouro (filme e diretora), o Critics Choice (filme, diretora, fotografia e roteiro adaptado) e está indicado nas premiações dos sindicatos dos produtores (PGA), atores (SAG) e diretores (DGA), os que têm o maior peso na escolha do Oscar.
MAIS DESTAQUES
Além da presença de “Nomadland”, outra certeza é de que a Netflix encabeçará a lista de estúdios entre os indicados. As bolsas de apostas dão de 30 a 40 indicações. As principais armas são “Os 7 de Chicago”, de Aaron Sorkin, que inclusive pode bater o filme de Chloé Zhao em número de indicações; “Mank”, de David Fincher, que foi lançado com muita pompa, mas foi esnobado no Globo de Ouro; e “A voz suprema do blues”, de George C. Wolfe.
Até 10 longas podem ser indicados a melhor filme. “Minari”, de Lee Isaac Chung, produção norte-americana falada em inglês e coreano, viu nas últimas semanas seu nome crescer nas bolsas de apostas, principalmente pelas indicações no SAG (três, incluindo todo o elenco) e os dois prêmios no Critics Choice.
Outros filmes que podem entrar na categoria principal e também receber um bom número de indicações são “Bela vingança” (inédito no Brasil), estreia em longas de Emerald Fennell (a Camila Parker-Bowles de “The crown”, é sempre bom lembrar); “O som do silêncio”, de Darius Marder, outro drama de um diretor estreante em longa de ficção; “Judas e o messias negro”, de Shaka King, filme que tem sua força na performance de Daniel Kaluuya.
Difícil relação entre um homem e sua filha à medida que o envelhecimento lhe traz problemas de saúde, “Meu pai”, de Florian Zeller, outro dos inéditos no Brasil, é calcado nas interpretações de Anthony Hopkins e Olivia Colman. Caso seja uma dezena de filmes, outra boa aposta é para “Uma noite em Miami”, de Regina King, que a partir do encontro de quatro ícones do ativismo negro em 1964 – Malcolm X, Muhammad Ali, Sam Cooke e Jim Brown – cala fundo no mundo de hoje.
Ainda que a corrida comece de fato efetivamente agora, a votação ainda levará um mês. Os membros da Academia terão seis dias para escolher seus favoritos – de 15 a 20 de abril.
Pelos acontecimentos que assolaram o mundo, esta edição promete ser histórica. Pela primeira vez desde o sexto Oscar, filmes de dois anos diferentes poderão concorrer, já que o período de elegibilidade se estendeu até 28 de fevereiro deste ano. Além disso, filmes que estrearam diretamente no streaming puderam entrar na disputa.
“Bacurau” pode surpreender e “salvar” o Brasil
E o Brasil? É a pergunta que todos se fazm a cada nova edição do Oscar. Fora da categoria de melhor filme internacional (a escolha brasileira, o documentário “Babenco: Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou”, de Bárbara Paz, não entrou na shortlist dos 15 pré-indicados), o país pode ser indicado por “Bacurau” (2019), de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles.
O filme protagonizou extenso debate quando foi preterido por “A vida invisível”, pela Academia Brasileira de Cinema (ABC) para tentar uma vaga na categoria de filme internacional no Oscar de 2020. O drama de Karim Aïnouz não ficou nem entre os pré-indicados e o filme de Mendonça Filho ressurgiu na disputa de 2021.
Pode? Sim, já que, nos EUA, “Bacurau” chegou aos cinemas logo antes da pandemia – em 6 de março do ano passado, quando a edição do Oscar já havia sido realizada. Mesmo tendo estreado nos cinemas brasileiros há um ano e meio, ao longo de 2020 o filme continuou sua trajetória – está indicado na categoria filme internacional no Independent Film Awards, cuja cerimônia de premiação será três dias antes do Oscar.
Ele pode concorrer a todas as categorias da premiação dedicadas a longas de ficção, menos a de filme internacional. Mesmo que não esteja frequentando as principais listas de indicações, há alguns fatores que mostram que o filme não está fora da disputa.
O longa entrou na lista de melhores do ano de várias publicações, como Indie Wire, Rolling Stone, Esquire e Vulture. Nos principais termômetros que reúnem críticas da imprensa e do público em geral, Rotten Tomatoes e Metacritic, o filme foi muito bem. No primeiro, teve 91% de resenhas positivas de imprensa, e no segundo obteve nota 82.
DIVERSIDADE
Há também o efeito “Parasita”. A vitória (quatro prêmios) do filme de Bong Joon Ho em 2020 abriu caminho para uma demanda crescente não só da comunidade cinematográfica, mas do mundo em geral: da diversidade e sua internacionalização.
A imprensa especializada deu algum sinal para a possibilidade de que “Bacurau” possa conseguir uma indicação para roteiro original (de Mendonça Filho e Dornelles) e atriz coadjuvante para Sônia Braga.
Caso seu nome apareça entre os indicados desta segunda, o filme repetirá o feito de “Cidade de Deus” (2002), de Fernando Meirelles e Kátia Lund, que em 2004 foi nomeado ao Oscar de melhor direção, roteiro adaptado, fotografia e montagem.
OUTRAS APOSTAS
Alguns longas que também podem estar na lista da 93ª edição do prêmio da Academia de Ciências Cinematográficas de Hollywood.
Da Netflix, “Os 7 de Chicago”, de Aaron Sorkin, pode bater o filme de Chloé Zhao em indicações
Outra produção da Netflix, “Mank” (David Fincher) foi lançado com pompa, mas esnobado no Globo de Ouro
“A voz suprema do blues”, de George C. Wolfe, também deve aparecer entre os indicados ao Oscar
Premiado no Critics Choice, “Minari”, de Lee Isaac Chung, viu seu nome crescer nas bolsas de apostas
Dirigido por Darius Marder, estreante em longa de ficção, o drama “O som do silêncio” deve entrar na disputa
“Judas e o messias negro”, de Shaka King, tem sua força na atuação de Daniel Kaluuya (Fred Hampton)