"Sou superentusiasta de cultura, aficionada em cinema. Fazer cultura, fazer cinema na atual condição é necessário não só para quem faz, mas para quem recebe. O que está salvando a nossa saúde mental é ter um filme ou uma série para assistir”, afirma Paula Azenha, diretora do Santos Film Fest, em parceria com o marido, André Azenha.
Realizado desde 2016, o festival reúne filmes e atividades formativas como palestras, bate-papos e masterclasses com o intuito de promover a inclusão no cinema. Devido à pandemia, o evento faz sua segunda edição on-line de hoje (16/3) a 23 de março, com agenda voltada para trabalhos dirigidos ou produzidos por mulheres.
A cineasta mineira Adélia Sampaio, de 77 anos, será a homenageada desta edição. Nesta terça, às 19h30, ela participa de bate-papo mediado por Paula Azenha. Pioneira e visionária, foi a primeira negra a dirigir um longa no Brasil. “Amor maldito”, lançado em 1984, é também o primeiro filme lésbico do país.
Aos 13 anos, a mineira teve o primeiro contato com o cinema, ao assistir a “Ivan, o terrível”, que despertou sua paixão pela sétima arte. Adélia Sampaio conta que lutou muito para conquistar espaço no mercado dominado por homens brancos.
Relatos de abuso
“Foi difícil, sempre fui abusada. Foram várias humilhações. O fato de ser mulher, preta e filha de empregada doméstica causava estranheza. Cresci ouvindo a minha mãe dizer: ‘Filha, para cima do medo, coragem!’”, relembra. “Essa filosofia me fez encarar os mais diversos desafios. Naquela época, mulher num set de filmagem era sempre a namoradinha do diretor. Brigando sempre, consegui ser diretora de produção de set e me impus.”Adélia Sampaio é só elogios ao Santos Fest: “Estou encantada com o festival, muito feliz e orgulhosa pela homenagem. Nós, mulheres brancas, negras, índias e amarelas, precisamos estar a navegar na cultura”, afirma.
Até 23 de março, serão exibidos 73 curtas e longas brasileiros e estrangeiros selecionados por três júris, por meio de edital. Um deles analisou filmes nacionais, o outro se dedicou a produções de outros países e o terceiro ficou a cargo de filmes regionais da Baixada Santista.
Nas edições passadas, o festival destacou artistas negros e LGBTQIA+. Paula Azenha lembra que o cinema americano, por meio de suas premiações, passou a valorizar os negros e agora se volta com mais ênfase para a criação feminina.
“Ainda que exista um esforço da gente, é algo que ainda está longe do ideal. Ainda assim, vale a iniciativa e por isso a gente faz este festival”, afirma Paula, lembrando que duas mulheres disputarão o Oscar 2021 na categoria direção: Chloé Zhao (por “Nomadland”) e Emerald Fennell (por “Bela vingança”).
A programação completa do festival pode ser conferida no site do festival, que também disponibilizará e-books relacionados ao cinema brasileiro. Ali podem ser feitas as inscrições para assistir aos filmes e participar das atividades formativas.
Serão duas sessões de longas brasileiros e estrangeiros por dia. Os demais filmes poderão ser assistidos do primeiro minuto de quarta-feira (17/3) às 15h de 23 de março, terça que vem.
SANTOS FILM FEST
Até 23 de março. Nesta terça (16/3), às 19h30, bate-papo com a cineasta mineira Adélia Sampaio. Programação completa no site do festival.
*Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria