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Estado de Minas AUDIOVISUAL

André Abujamra aposta nas criptomoedas como novo horizonte para a arte

Cantor e compositor se uniu ao artista visual Uno Oliveira para criar projetos distribuídos para mercado inovador, ancorado na tecnologia cibernética


20/03/2021 04:00 - atualizado 20/03/2021 07:53

''Coélhek'', obra de André Abujamra e Uno de Oliveira, foi vendida por US$ 3,2 mil a colecionadora canadense(foto: Uno de Oliveira/André Abujamra)
''Coélhek'', obra de André Abujamra e Uno de Oliveira, foi vendida por US$ 3,2 mil a colecionadora canadense (foto: Uno de Oliveira/André Abujamra)
Nos últimos anos, criptomoedas como o bitcoin ganharam espaço nos debates sobre o futuro da economia. Embora novos formatos oferecidos pela tecnologia cibernética dividam opiniões, eles já são realidade, inclusive como alternativa para os artistas. O músico paulista André Abujamra, o Abu, se orgulha de ser pioneiro no Brasil na utilização do NFT (Non Fungible Token) no mercado audiovisual, em parceria com o “criptoartista” Uno de Oliveira.

O termo pode parecer assustador. O próprio Abujamra, que se dedica há três anos ao estudo do criptomercado, enfatiza que o momento ainda é de aprendizagem. A compreensão do NFT passa pelo conceito de propriedade única, ou “não fungível”, como diz a sigla em tradução livre. Neste caso, de um produto cultural.
 
Um disco, por exemplo, tem milhares de cópias idênticas e, consequentemente, fungíveis. No formato digital, a mesma faixa pode ser reproduzida milhões de vezes via mp3 ou streaming. Já no NFT, o produto adquirido para consumo virtual é único, assim como um quadro do Museu do Louvre.

Ingressar nesse universo foi possível para Abujamra graças ao artista visual carioca Uno de Oliveira, que vinha produzindo trabalhos gráficos para o mercado digital e convidou o paulista para musicar a série “Tropicalfuturism”. Essa coleção mistura ilustração e animação, valorizando as culturas dos povos latino-americanos.

“É um caminho para monetizar nossas artes. Em dezembro, fiz minha primeira NFT e a vendi dias depois. Vi que era uma possibilidade interessante. Abu fez um trabalho incrível, tive de correr atrás para criar as imagens”, relata Uno.

A primeira parceria da dupla é “Coélhek”, ilustração animada e musicada que retrata um jovem morador de favela carioca com um grande coração pulsante. Colocado à venda no site Markesplace, uma espécie de galeria virtual especializada em criptocomércio, o trabalho foi adquirido por uma colecionadora canadense, que pagou por ele o equivalente a US$ 3,2 mil em ethereums, a criptomoeda utilizada pelo site. As obras “Lampião” e “Mãedágua” já recebem lances e podem ser vistas em www.makersplace.com/unodeoliveira/tropicalfuturism.

Abujamra diz formar com o carioca a primeira “dupla dupla” do Brasil. Os dois trabalham tanto com projetos de Uno completados por André, assinando “Unoabu”, como na via contrária, “Abuno”.

Empolgado, o paulista resolveu levar sua criação musical para o novo sistema. “No caso das artes visuais, o NFT está muito à frente da música. Trata-se de uma grande invenção do mundo novo, mas ainda é um processo. Tive muita sorte, aliada ao meu talento, de conhecer o Uno e poder trabalhar com ele. Posso dizer que fui o primeiro músico a ganhar algum dinheiro com isso no Brasil. Muita gente tem me procurado querendo informações”, revela André.

No projeto “Neuro Abu”, ele pretende explorar o valor de seu próprio cérebro. “Um cara me perguntou quanto eu custava, há uns 30 anos. Um produtor me falou que valho o que tenho dentro de mim, o que crio. Pesquisei quantos neurônios o ser humano tem, são 86 bilhões. Custo 86 bilhões de ‘neuro abus’. Então, estou vendendo pedaços do meu cérebro, são 86 bilhões de alguma coisa, qualquer coisa que tenha na minha cabeça”, explica Abujamra, ao detalhar sua complexa proposta direcionada ao mercado de tokens não fungíveis.

Para executar o conceito, Abujamra produziu oito melodias instrumentais no estilo clássico, com 1 minuto e 75 milésimos de segundo, totalizando 8 minutos e 6 segundos de música, criando assim a relação com os 86 bilhões de “neuro abus”. Cada tema sonoro tem imagem criada por Uno transformada em NFT. Eles são vendidos com exclusividade, para apenas um comprador.

Os dois acreditam que essa é a solução para valorizar e monetizar a arte por meio da vendagem mais personalizada. André cita o exemplo do faturamento de “Emidoinã – Alma de fogo”, seu álbum lançado em dezembro, com colaborações de BNegão, Chico César e Criolo.

“Foi um dos meus discos mais ouvidos, com mais de 100 mil execuções no Spotify. Pensei que ganharia uma grana, mas recebi centavos. Com a arte feita em parceria com Uno, ganhei mais do que em todos os trabalhos musicais da minha carreira juntos no Spotify”, explica.

“Prefiro ser cabeça de sardinha a rabo de baleia. No Spotify, sou rabo de baleia. Se 10 grandes fãs meus comprarem uma música NFT por R$ 100, vou ganhar R$ 1 mil. Não farei R$ 1 mil no Spotify”, diz Abujamra

DÓLAR

Uno de Oliveira ressalta que um dos fatores da alta rentabilidade do NFT é o valor atual do dólar, para o qual são convertidas as criptomoedas. Ontem, a moeda norte-americana estava cotada a R$ 5,47. “Vendemos em dólar. Uma arte barata para os estrangeiros acaba saindo para nós por um dinheiro muito maior. Por isso é um bom modelo de negócios”, afirma.

Porém, ingressar no sistema NFT tem custo elevado. “Pode custar mais de US$ 100 colocar uma arte no mercado, nem sempre é fácil de vender. A valorização está atrelada a outros trabalhos do artista, não só à arte em si”, alerta Uno.


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