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Estado de Minas MEMÓRIA 

Hollywood lança seu gigantesco Museu do Cinema pouco antes do Oscar

Início da operação será apenas virtual. Construção colossal e reunião do acervo consumiram US$ 482 milhões (R$ 2,67 bilhões)


21/03/2021 04:00 - atualizado 21/03/2021 07:47

Com projeto do italiano Renzo Piano, que abarca dois prédios e 28 mil metros quadrados, instalação do museu no Centro de Los Angeles consumiu US$ 482 milhões (R$ 2,67 bilhões)(foto: Josh White/JW Pictures/Academy Museum Foundation/Divulgação)
Com projeto do italiano Renzo Piano, que abarca dois prédios e 28 mil metros quadrados, instalação do museu no Centro de Los Angeles consumiu US$ 482 milhões (R$ 2,67 bilhões) (foto: Josh White/JW Pictures/Academy Museum Foundation/Divulgação)

Em 22 de abril próximo, a três dias da 93ª edição do Oscar, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood deve lançar sua maior realização em quase um século de história. É também a mais longa e onerosa. Quase uma década depois de divulgado o projeto e seis anos passados desde o início de sua construção, o Museu da Academia, em Los Angeles, será inaugurado.

No momento inicial, em decorrência da COVID-19, apenas virtualmente. A colossal edificação, com projeto do italiano Renzo Piano, deverá ser oficialmente aberta ao público em 30 de setembro, depois de sucessivos adiamentos. 

Originalmente, a abertura estava programada para 2017; depois, 2019; mais tarde, dezembro de 2020. O museu consumiu US$ 482 milhões (R$ 2,67 bilhões), em uma odisseia que sofreu atrasos na construção e excesso de custos, mudanças de liderança e conflitos internos. 

Para a Hollywood que nos últimos anos deixou de mirar o próprio umbigo e atentou para o mundo aqui fora, a hora é de comemorar e olhar para a frente. 

Foi essa a tônica da apresentação virtual do museu para a imprensa latino-americana na semana passada, seguida de entrevista com o presidente da Academia e diretor do museu, Bill Kramer, e a diretora artística e de programação, Jacqueline Stewart, que assumiu o posto em janeiro.

PASSADO

“O museu está comprometido em celebrar a história do cinema, seus filmes e artistas. Mas há uma parte dessa história de que nos orgulhamos menos, vide os movimentos #OscarsSoWhite e #MeToo. Só que não podemos apagar o passado. Então, estamos encontrando espaço para também explorar essas questões, construindo uma nova maneira de ver o cinema”, afirmou Kramer aos jornalistas, comentando que, dos atuais 9 mil membros da Academia, 20% deles são nomes “internacionais” (ou seja, fora dos EUA).

Jacqueline citou que, para elaborar a programação, houve a participação de um chamado “comitê de inclusão”. “Foi um trabalho feito com profissionais negros e LGBTs, que nos ajudaram a reconhecer que esses temas são importantes para a indústria.”

A narrativa da apresentação virtual deixou isto bem claro. No vídeo de meia hora, assistimos a nomes que expressam a diversidade da indústria, como os cineastas Spike Lee e Guillermo Del Toro e as atrizes Rita Moreno e Danai Gurira. Esta última, intérprete da guerreira Okoye em “Pantera Negra”, comentou durante sua participação. 

'O museu está comprometido em celebrar a história do cinema, seus filmes e artistas. Mas há uma parte dessa história de que nos orgulhamos menos. Só que não podemos apagar o passado. Então, estamos encontrando espaço para também explorar essas questões, construindo uma nova maneira de ver o cinema'

Bill Kramer, presidente da Academia de Hollywood e diretor do Museu do Cinema


FUTURO

"A presença do uniforme de Okoye no museu é incrivelmente forte, porque a história de Hollywood não se parece com a equipe de 'Pantera Negra'. Mas o futuro de Hollywood se parecerá com a gente", afirmou a atriz. 

A veterana Rita Moreno, primeira latina a receber um Oscar (de coadjuvante pela personagem Anita, de “Amor, sublime amor”, em 1962) fez eco: “Ela foi a primeira personagem que interpretei que não era parte do estereótipo (latino)”.

Kramer elencou alguns nomes latino-americanos cujos trabalhos serão celebrados na exposição de abertura: os mexicanos Alfonso Cuarón, Guillermo Del Toro, Rodrigo Prieto e Salma Hayek, o argentino Gustavo Santaolalla, além de Carmen Miranda, que levou o Brasil para Hollywood, e o cineasta paulista Anselmo Duarte, que dirigiu “O pagador de promessas”. Em 1963, o longa se tornou o primeiro título brasileiro a concorrer ao Oscar na categoria filme internacional.

Mais do que corrigir os erros do passado, o Museu da Academia nasce principalmente para celebrar a trajetória de uma indústria que está tentando se encontrar no mundo digital. O material exibido é de encher os olhos. O museu será a maior instituição do mundo dedicada ao cinema

São, na verdade, dois prédios que ocupam 28 mil metros quadrados, no Centro de Los Angeles. O principal nasceu da reforma e expansão do Edifício May Company, datado de 1939. Foi rebatizado de Edifício Saban, em homenagem ao casal Cheryl e Haim Saban; ela, escritora; ele,  produtor de TV. Bilionários, eles doaram 
US$ 50 milhões para o projeto. Esse prédio central tem uma ligação com uma esfera de concreto e vidro, com um terraço e vista panorâmica para as colinas de Hollywood.

A visitação vai começar com um dos nomes mais populares do cinema. A Galeria da Família Spielberg (um dos poucos espaços gratuitos do museu), no lobby, será como uma introdução à exposição permanente, “Histórias do cinema”, que vai ocupar três andares do prédio.

A intenção é não deixar nenhum aspecto do cinema de fora. Há salas dedicadas a todas as fases da produção e da história. Spike Lee e Pedro Almodóvar terão suas trajetórias retratadas em salas especiais.

“Quando as pessoas chegam à minha produtora, falam que estão em um museu”, disse o cineasta de “Faça a coisa certa”. Outro nome que será destacado na fase inicial da instituição é o da compositora islandesa Hildur Gudnadottir, vencedora do Oscar pela trilha de “Coringa”. 

MAGIA

Outras galerias celebrarão o trabalho de anônimos que tornam a magia do cinema possível por trás das câmeras: animadores, cabeleireiros, maquiadores, figurinistas etc. Cada espaço contará com exposição de itens, boa parte deles do acervo do próprio museu. Desde 2008, a Academia vem adquirindo objetos – hoje, conta com 8 mil itens de tecnologia, figurino, design de produção, maquiagem, penteado e prêmios.

Uma sala, é claro, vai expor as estatuetas douradas. Serão 20 Oscars, entregues a títulos que vão de clássicos do cinema mudo, como “Aurora” (1927), de Friedrich Wilhelm Murnau, a sucessos recentes, como “Moonlight: Sob a luz de luar” (2016), de Barry Jenkins. Haverá numa outra parte do museu uma experiência imersiva em que o público poderá ter a experiência de receber seu próprio Oscar.

“O mágico de Oz” (1939) terá uma sala exclusiva, em que o visitante vai acompanhar como se deu toda a construção do longa de Victor Fleming. O cinema mudo terá sua própria galeria, assim como a animação, o documentário e a ficção científica.

Entre os objetos que são destaque na mostra permanente estão o sapato de Dorothy em “O mágico de Oz”, o traje especial de “2001: Uma odisseia no espaço” (1968), o figurino utilizado por Salma Hayek em “Frida” (2002), o capacete da criatura de “Alien, o oitavo passageiro” (1979) e o videofone de “Blade Runner: O caçador de androides” (1982). 

O maior objeto em exposição será Bruce. Medindo 7,62 metros, o modelo é o único que restou do tubarão em tamanho real usado no clássico filme de Spielberg de 1975.

O cineasta e animador japonês Hayao Miyazaki vai ser tema da primeira retrospectiva do museu. Uma exposição com 300 objetos abordará os filmes do realizador, que completou 80 anos em janeiro, entre eles “Meu vizinho Totoro” (1988) e o vencedor do Oscar “A viagem de Chihiro” (2001).

A instituição terá, obviamente, cinema. Serão duas salas: uma menor, com 288 lugares, e outra para mil espectadores. Esta última estará apta a exibir todo tipo de produção, inclusive de nitrato, material utilizado para fazer os filmes até a década de 1950 – deixou de ser utilizado por causa da facilidade com que pega fogo.

Questionado sobre como a indústria vê a explosão do streaming, Kramer afirmou: “Estamos comprometidos com a experiência da sala de cinema. Mas também animados pela possibilidade do streaming, que atinge rapidamente muito mais gente. Acreditamos em um cenário em que cinema e streaming coexistam.” Ted Sarandos, o chefão do conteúdo da Netflix, é o presidente do conselho de curadores do museu. 

Ainda que a pandemia traga mais perguntas do que certezas, Kramer afirmou que o museu está pronto para finalmente abrir suas portas. Caso necessário, ele disse, a abertura em 30 de setembro seguirá todos os protocolos sanitários exigidos para o combate ao novo coronavírus.

MOMENTOS HISTÓRICOS

Na programação on-line que abre o Museu da Academia, em 22 de abril, destaca-se uma conversa da curadora Diane von Furstenberg com mulheres que fizeram história no Oscar, como as atrizes Sophia Loren, Whoopi Goldberg e Marlee Matlin. O site será ativado com conteúdo de arquivo histórico sobre o Oscar e Hollywood.

MUSEU DA ACADEMIA DE CIÊNCIAS CINEMATOGRÁFICAS
A inauguração será em 30 de setembro, em Los Angeles. A partir de 22 de abril, o site da instituição (academymuseum.org) vai dar início à sua programação virtual


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