A filósofa Márcia Tiburi, convidada do projeto Sempre um Papo desta terça-feira (23/3), discute em seu novo livro, “Um fascista no divã”, a iminência de o neofascismo conquistar espaço no Brasil.
“No meu livro de 2015, falava sobre o fascismo na cultura, no sentido da vida cotidiana. Era o fascismo que a gente chama de fascismo em potencial, diferente do fascismo de Estado. Nele, observamos a mentalidade autoritária do povo, caracterizada pelo amor ao líder autoritário. Então, quando aparece um Bolsonaro, as pessoas vão atrás, porque este líder autoritário é a figura que autoriza o ódio”, afirma a autora.
Márcia escreveu a obra em parceria com o marido, o juiz Rubens Casara. O casal conversará com Afonso Borges, curador do Sempre um Papo, às 19h, com transmissão ao vivo no YouTube, Facebook e Instagram do projeto.
Escrita em 2017 para o teatro, a obra traz o diálogo entre uma psicanalista e seu paciente, potencial candidato à Presidência da República. Os dois conversam sobre autoritarismo, filosofia, direitos humanos, opressão e religião.
Enquanto ela apresenta argumentos científicos, históricos e culturais, o paciente retruca, orgulhosamente, com ideias que remetem ao fanatismo político.
“Em 2017, a gente fez uma espécie de profecia, porque o livro mostra o que aconteceu no Brasil depois. Para muitos, era óbvio o que estava ocorrendo naquela época, mas, infelizmente, o fascismo se tornou óbvio apenas hoje”, comenta Márcia.
Radicada na França desde 2018, após denunciar ter sido alvo de ameaças de morte, a filósofa e ensaísta é autora de seis romances e atualmente dá aula na Universidade Paris 8.
Preocupada com o futuro do país, Márcia acredita que está em curso um processo de eliminação deliberada de cidadãos brasileiros.
“No fascismo de Estado, há o projeto de extermínio da população. Essa é uma característica dos fascismos. O fascismo à brasileira, como venho chamando, também vem com esse propósito de extermínio de massa. Quais são as massas que estão sendo mortas? As massas indígenas estão na mira deste assassinato, os jovens negros e a população pobre também”.
Márcia Tiburi adverte: “Se o Brasil não controlar o fascismo, acredito que nos próximos dois ou três anos, caso Bolsonaro seja reeleito, teremos um governo de extermínio em massa como nunca se viu.”
* Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria