Jornal Estado de Minas

CINEMA

'Liga da Justiça de Zack Snyder' divide a crítica


Um dos nichos mais rentáveis do cinema mundial, as produções envolvendo os heróis e heroínas superpopulares foram atingidas em cheio pela pandemia do novo coronavírus. Diante das dificuldades em continuar filmagens e do fechamento de salas de cinema por todo o mundo, vários lançamentos foram adiados indefinidamente.





Contudo, com possibilidades mais flexíveis de formato de lançamento de filmes proporcionadas pelas plataformas de streaming, os fãs do universo da DC Comics tiveram uma grande novidade neste mês de março com o lançamento de “Liga da Justiça de Zack Snyder”, na quinta-feira passada (18/3).

Depois de uma campanha promovida há anos pelos fãs, finalmente chegou ao mercado a versão que, como o título anuncia, tem o corte do diretor Zack Snyder. A demanda dos admiradores da trama, que reúne Batman, Super-Homem, Mulher-Maravilha, Flash, Aquaman e Ciborgue, vinha desde 2017, quando o longa chegou aos cinemas.

Embora creditado a Snyder, que iniciou as filmagens, o filme de duas horas foi finalizado por Joss Whedon, que o substituiu na pós-produção. O resultado não foi bom. Nem nas bilheterias, cujo faturamento mundial foi de US$ 657 milhões, sendo apenas a 14ª maior arrecadação daquele ano, nem na aceitação de crítica e público, fazendo surgir esse clamor popular por uma edição definitiva com a assinatura de Zack Snyder. 



Assista a entrevista com Zack Snyder:

 

A campanha virtual se arrastou até que, no ano passado, a Warner atendeu aos pedidos e confirmou o desenvolvimento. Nas plataformas digitais brasileiras, o título ficará disponível até 7 de  abril próximo pela Apple TV, Claro, Google Play, Looke, Microsoft, Playstation, Sky, UOL Play  Vivo e WatchBr. 

A releitura conta com o mesmo elenco da versão de 2017. Henry Cavill reaparece como Superman, Ben Affleck como Bruce Wayne (Batman), Gal Gadot no papel de Mulher-Maravilha, Jason Momoa faz o Aquaman, Ezra Miller é The Flash, e Ray Fisher, o Ciborgue. 

A trama também tem o mesmo enredo: quando o vilão intergalático  Steppenwolf (voz de Ciarán Hinds) surge na Terra, disposto a coletar os artefatos mágicos chamados caixas maternas e destruir a humanidade, o timaço de super-heróis precisa se juntar para salvar o planeta





Segundo a produtora Deborah Snyder, casada com Zack, apenas uma sequência foi filmada exclusivamente para o corte do diretor, precisamente a final. Todo o restante foi recuperado da filmagem anterior ou modificado por efeitos visuais.

Diferenças entre versões

Nesse aspecto, a construção final dada por Zack Snyder traz diferenças mais fortes da original. A começar pela duração de quatro horas, incomum para os padrões comerciais do cinema. Além da modificação no desfecho, ficam mais marcantes as características do diretor de “300” e “Homem de aço”, como a câmera lenta, que totaliza 24 minutos, ou 10% da duração do filme, segundo o site IGN, e a grandiosidade de cenas de ação e combate sob uma ótica mais sombria.

No corte de Snyder, a trama está dividida em seis capítulos, mais um grande epílogo, sendo que as partes funcionam mais ou menos como episódios de uma série. O vilão Steppenwolf tem sua construção mais trabalhada pelos efeitos visuais e Darkseid, que atua no plano maligno de Steppenwolf, tem mais tempo de tela, sendo que era apenas citado no original.



Há um ou outro momento de humor, como no original, mas, em geral, o filme aposta mais na emoção. Os personagens sofrem e se rebelam, geralmente por amor ou pela dor de uma perda: Diana (Mulher-Maravilha) por ter perdido Steve, Bruce Wayne faz tudo por causa dos pais assassinados, Barry Allen/The Flash quer salvar o pai preso injustamente, Victor Stone/Ciborgue também tem problemas com o pai cientista.

Entre os heróis, o personagem de Ray Fisher é talvez quem tenha sua história mais ampliada na comparação entre as duas versões. O ator, inclusive, deu declarações, em junho do ano passado, via Twitter, acusando Joss Whedon de comportamento “abusivo e pouco profissional” no set e os produtores de não terem dado ouvidos às suas reclamações. 

Vale lembrar ainda que o contexto de perda se aplicava também a Zack Snyder. O diretor se afastou da produção de “Liga da Justiça” naquela época em virtude do suicídio de sua filha Autumn, entre outros motivos. Snyder já estava tendo desavenças com o estúdio por causa do tom mais soturno que imprimia nos filmes da DC e achou melhor jogar a toalha. Joss Whedon, que já tinha sido contratado para reescrever o roteiro de Chris Terrio (creditado sozinho agora), assumiu a direção também e refilmou várias sequências.

Divisão da crítica

Snyder já havia dirigido “Homem de aço” (2013) e “Batman vs Superman: A Origem da Justiça” (2016), pertencentes à mesma narrativa cronológica de “Liga da Justiça”. No longa de 2016, que misturava pela primeira vez diferentes heróis da franquia, a aceitação já foi bem dividida. Mesmo agora, com toda a campanha a favor de sua finalização, o resultado também não é unânime





Houve quem celebrasse, como Robbie Collin, que escreve para o The Telegraph. “Ele compartilha uma forma vaga e um punhado de cenas específicas e essenciais com seu antecessor, mas tudo sobre ele cai de forma diferente: personagens que antes eram vazios ou ridículos agora têm coragem e profundidade reais, enquanto sequências de ação que eram incoerentes, leves e extravagantes agora figuram entre as mais espetaculares do gênero”. 

Também foi o caso de Owen Gleiberman, da Variety.  “O novo filme – e não se engane, é realmente um novo filme – é mais do que uma justificativa da visão original de Snyder. É um entretenimento grandioso, ágil e envolvente. Uma história da origem de um time de heróis que, no fundo, é classicamente convencional, mas agora é contada com uma sinceridade infantil inebriante e uma maravilha de conto de fadas sinistra que leva você de volta ao que as histórias em quadrinhos, no seu melhor, sempre buscaram fazer: fazer você se sentir como se estivesse vendo deuses brincando na Terra”, argumentou.

Porém, percepções totalmente contrárias apareceram na mídia internacional. “A alma do filme, tal como é, permanece inalterada e, em 242 minutos, poucos deles oferecendo muito prazer, é quase insuportável como uma experiência de sessão única. Se fossem assistidos em partes, esses segmentos também não conseguiriam entregar o equilíbrio perfeito de energias e ritmo que se espera hoje em dia, mesmo que seja apenas um programa de TV competente”, afirmou John DeFore, do The Hollywood Reporter





Richard Brody, da revista The New Yorker, foi ainda mais severo e chamou o lançamento de “uma tarefa árdua, maçante, um tédio – é uma dor de dente mental de um filme, cujo final não concede resolução como alívio”. 

A divisão de opiniões é vista na avaliação média de 5,4 (em 10) estimada pelo site Metacritic, especializado nesse tipo de métrica. Mesmo assim, há quase um consenso nas redes sociais entre os fãs do estilo de que, mesmo com a longa duração, a nova versão é melhor que a anterior

Os fãs mais fervorosos do diretor gostariam de que houvesse inclusive uma ou mais sequências para o corte de Snyder. Porém, o próprio diretor declarou em entrevista ao Deadline que a Warner não tem interesse nisso. O cineasta teve um aporte financeiro estimado em US$ 30 milhões para concluir sua própria versão. *(Com Agência Estado)

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