É uma torre de babel. O mito bíblico cai como uma luva para explicar as profundas transformações experimentadas pelo universo das séries, monopolizado por diálogos em inglês até poucos anos atrás. Hoje em dia, nem o mais dedicado poliglota é capaz de acompanhar as tramas em cartaz sem lançar mão das legendas, o que se deve à globalização impulsionada pelas plataformas de streaming. É feroz a guerra travada por elas para atrair a audiência (e assinantes) nestes tempos de confinamento social.
A Ásia, por exemplo, já não é tão distante assim. A sul-coreana “Kingdom” (Netflix) conta a história de um príncipe às voltas com epidemia de ressurreição de mortos. Na mesma plataforma, a divertida “Vincenzo” é protagonizada por um advogado coreano criado na Itália, que volta a Seul para resgatar toneladas de ouro utilizando o know-how aprendido com a máfia.
A japonesa “Love and fortune” (Netflix) revela o drama de Wako, balzaquiana que se apaixona por um adolescente. Na mesma plataforma, a série de terror indiana “Betaal” conta a história de soldados às voltas com ataques vindos de outro mundo, depois de expulsar moradores de um vilarejo para abrir um túnel.
Do Oriente Médio, a israelense “Shtisel”, que estreou a terceira temporada na Netflix, mostra o cotidiano de uma família ultraortodoxa em Jerusalém.
Da multifacetada Europa vêm produções elogiadas. Estão em cartaz a alemã “Das boot” (Starzplay), drama da Segunda Guerra passado em submarinos nazistas, e “Dark” (Netflix), série sobre viagem no tempo que já deu nó na cabeça de muita gente.
No seriado norueguês “Beforeigners” (HBO), as pessoas voltam da pré-história, da era viking e do século 19 para a Oslo contemporânea. Já a sueca “Beartown” (HBO) investiga o efeito da masculinidade tóxica numa pequena cidade obcecada por hóquei.
A italiana “Zero zero zero” (Amazon Prime Video) é um drama criminal sobre o comércio de cocaína, baseado num livro de Roberto Saviano.
Se depender da Espanha, o castelhano será a nova língua do audiovisual, tamanha a oferta de produções realizadas no país – e com temas locais. A concorrência das plataformas por lá se acirrou depois do fenômeno “La Casa de Papel”, iniciativa bem-sucedida da Netflix, que também exibe “Sky rojo”, “As telefonistas” e “Merlí”, entre outras.
A Amazon Prime Video entrou na “guerra castelhana” com “O internato: Las cumbres” e “La templanza”, enquanto a HBO aposta em “A peste”.
O savoir-faire francês conquistou seu quinhão no mercado. “Lupin” (Netflix) é um thriller estrelado por Omar Sy, que faz o papel do filho de imigrante senegalês em busca de vingança pela prisão do pai.
Sucesso francês, “Dix pour cent” estreou este ano sua quarta e última temporada, também na Netflix.
Haja charme. Ao revelar os bastidores do cinema e da TV, essa série bem-humorada acompanha a estressante e divertida (para nós) rotina de uma agência responsável pela carreira de artistas. Astros e estrelas interpretam a si mesmos. Mimados, dão pitis e atazanam seus agentes.
estrelas A constelação é pra lá de bri- lhante: Cécile de France, Isabelle Adjani, Juliette Binoche, Isabelle Huppert, Monica Bellucci, Jean Reno, Jean Dujardin, Charlotte Gainsbourg....
Até Sigourney Weaver está lá. A atriz americana disse a Antoine Garceau, realizador da série, que ama “Dix pour cent” porque as situações valem “tanto para o cinema francês quanto para Hollywood”.
Mas aqui as estrelas, mesmo, são os agentes-babás das celebridades, interpretados por Camille Cottin (Andrea), Grégory Montel (Gabriel), Arlette (Liliane Rovère) e Nicolas Maury (Hervé).
Maury revelou que o sucesso globalizado da atração o surpreendeu. “Recebo muitas mensagens nas redes sociais de brasileiros dizendo que amam a série e queriam que eu fosse ao Brasil. Será que eles gostam por causa das paisagens de Paris?”, perguntou.
Ver Paris nunca é ruim, mas a explicação talvez seja mais simples. Brasileiros e espectadores de todo o mundo simplesmente se apaixonaram pelos estressados funcionários da agência Ask. (Com Estadão Conteúdo)