Ao longo das últimas décadas, o conceito de família sofreu modificações, tornando-se mais abrangente e democrático. Transformações também vêm ocorrendo no circo, que desde sempre teve sua estruturação ligada a grupos de familiares que compartilham a rotina artística. Com o objetivo de mostrá-las e compreendê-las, a terceira edição da Mostra Tudo começa nesta terça-feira (6/4).
“Quando se fala em família de circo, temos o signo que remete à lona, à itinerância e a um modo de vida que não é mais tão comum como já foi. Hoje em dia, muitas famílias de circo vivem em centros urbanos, com casas fixas, e circulam pela periferia da cidade”, explica Diogo Dias, um dos fundadores da Cia. Circunstância. Segundo ele, a ideia de organizar a mostra com temática voltada para esse novo universo veio de estudos desenvolvidos pelo grupo.
A Cia. Circunstância convidou grupos de Minas e de outros estados para apresentar produções que dialoguem com essa formação plural. Números e espetáculos poderão ser vistos no site da companhia até 18 de abril. A abertura da mostra, nesta terça-feira, terá o espetáculo “Cabarezim das famílias”, com números selecionados por meio de convocatória. Entre eles, “Casa cheia”, da Cia. Suno (Santos, SP), “O sortêi”, das Irmãs Pé Vermêi (Juatuba, MG), “A casa do tempo”, da Cia Tu Mateixa e Cia. das Marionetes (SP), “Orbita”, da Cia. Devir (PE), e “Os casacos”, da Lacarta Circo Teatro (Vitória, ES), além de “Alegria, Titica e Raviolli”, da Circunstância.
Por outro lado, a artista da Cia. Circunstância explica que a reinvenção forçada pela pandemia e o consequente distanciamento do público in loco fazem parte da atividade circense. “Circo é o trabalho cotidiano de repensar, a cada dia, como se faz e como o público recebe. Essa situação (da pandemia) nos obriga a repensar tudo o que foi feito e como foi feito. É um momento interessante, que nos coloca para fazer outras coisas desenvolvendo, técnica e tecnologicamente, outros recursos. A imaginação é o limite”, acredita Dagmar.
MOSTRA TUDO em família: NOVAS CONFIGURAÇÕES FAMILIARES
Organizada pela Cia. Circunstância, de Belo Horizonte, a programação gratuita e totalmente on-line é norteada pelo tema “Novas configurações familiares circenses”. A agenda terá números e espetáculos de grupos e trupes de várias regiões do Brasil, além de um filme e debates.
“O mote desse recorte vem ao encontro da nossa última montagem, o espetáculo 'Circo de família'. Estreamos em março (de 2020), no começo da pandemia. Chegamos a fazer duas apresentações em praças e outras adequadas ao formato virtual, mas antes disso, durante o processo de pesquisa, tivemos um filho, o que mudou a nossa percepção sobre ser família do circo e a respeito de outras formas que ela pode ter”, relata Diogo, que comanda a companhia ao lado da companheira Dagmar Bedê.
DIÁLOGO
A Cia. Circunstância convidou grupos de Minas e de outros estados para apresentar produções que dialoguem com essa formação plural. Números e espetáculos poderão ser vistos no site da companhia até 18 de abril. A abertura da mostra, nesta terça-feira, terá o espetáculo “Cabarezim das famílias”, com números selecionados por meio de convocatória. Entre eles, “Casa cheia”, da Cia. Suno (Santos, SP), “O sortêi”, das Irmãs Pé Vermêi (Juatuba, MG), “A casa do tempo”, da Cia Tu Mateixa e Cia. das Marionetes (SP), “Orbita”, da Cia. Devir (PE), e “Os casacos”, da Lacarta Circo Teatro (Vitória, ES), além de “Alegria, Titica e Raviolli”, da Circunstância.
Outros cinco espetáculos completos serão apresentados nos próximos dias. “Uma surpresa para Benedita”, do Grupo Trampulim, reúne números protagonizados pelos palhaços Sabonete (Tiago Mafra) e Benedita (Adriana Morales) e os filhos Vitrola (Valentina) e Machucado (Benjamin). “Sui generis”, da Cia. Fundo Mundo, formada por artistas transgênero de Florianópolis e São Paulo, usa linguagens e performances circenses para promover o debate sobre questões de gênero e direitos LBGT+.
Já “Batuque, canto e viola”, da Cia. Boca do Lixo, que se intitula “a família mais caipira do circo brasileiro”, mistura palhaçaria e imaginário sertanejo. “Nós sem nossa mãe” traz as jovens palhaças pernambucanas Viola (Violeta Nunes) e Gerimum (Helena Nunes), filhas da palhaça Bandeira (Odilia Nunes). Encerrando a mostra, a CIA 1Péde2, de Porto Alegre, entrará em cena com “Há vida em casa”.
Na quinta-feira (8/4), será exibido o filme “Minha avó era palhaço”. O documentário de 52 minutos conta a história da família Xamego, ligada à tradição circense há várias gerações, com destaque para Maria Eliza Alves dos Reis, que deu vida ao palhaço Xamego. Após a sessão, haverá bate-papo com Daise e Mariana Alves, herdeiras desse legado.
A agenda prevê também bate-papo em 14 de abril, às 20h, sobre as novas configurações das famílias circenses. Vão participar a historiadora Ermínia Silva, a pesquisadora de palhaçaria contemporânea Lili Castro e Vulcânica Pokaropa, integrante da Cia. Fundo Mundo.
“É muito interessante como a programação traduz a nossa compreensão de que família vai além dos laços sanguíneos. A comunidade do circo se torna uma grande família, em diferentes configurações”, afirma Dagmar Bedê, responsável pela mostra em parceria com Diogo Dias. Ela ressalta que cada atração do evento reflete, de alguma forma, o recorte conceitual proposto na edição deste ano.
“De certa forma, é uma tristeza”, admite Dagmar, ao comentar o formato virtual da mostra, com exibição de espetáculos gravados. “Estamos acostumados com teatro de rua e palhaçaria. Nossa vida sempre foi ocupar espaços públicos e ter relação direta com o público, com abraços e contato, mas é o que temos no momento e não podemos parar.”
LIMITE
Por outro lado, a artista da Cia. Circunstância explica que a reinvenção forçada pela pandemia e o consequente distanciamento do público in loco fazem parte da atividade circense. “Circo é o trabalho cotidiano de repensar, a cada dia, como se faz e como o público recebe. Essa situação (da pandemia) nos obriga a repensar tudo o que foi feito e como foi feito. É um momento interessante, que nos coloca para fazer outras coisas desenvolvendo, técnica e tecnologicamente, outros recursos. A imaginação é o limite”, acredita Dagmar.
Diogo Dias afirma que o evento é uma oportunidade para que mais gente possa compreender as famílias circenses contemporâneas. “Espetáculos e debates mostram que a realidade delas é diversa, vai além dos laços sanguíneos. É uma relação pautada na luta, no trabalho, na sobrevivência e na construção de novas possibilidades para fruição artística”, diz o fundador da Cia. Circunstância. “Anteriormente, as famílias circenses podem ter sido mais fechadas, mas a contemporaneidade impõe uma abertura maior. Nosso objetivo é abrir ainda mais esse diálogo”, conclui.
MOSTRA TUDO em família: NOVAS CONFIGURAÇÕES FAMILIARES
Até 18 de abril, no site www.ciacircunstancia.com.br e no YouTube (www.youtube.com/CiaCircunstanciaCircoTeatro). Gratuito. A programação completa está disponível no site da Cia. Circunstância