Há 10 anos, Marco Brotto começou a realizar uma jornada que o levaria a diversos locais do planeta em busca da aurora boreal, fenômeno óptico que maravilha a humanidade com suas luzes e cores, atraindo curiosos dos mais diversos países.
Para eternizar suas aventuras pelos países do Círculo Polar Ártico, o curitibano acaba de lançar o livro “Aurora Boreal – Amor em forma de luzes e cores” (Edicon), que reúne imagens captadas desse espetáculo da natureza que ele presenciou em 82 viagens. Em cada uma delas, teve o privilégio de observar um espetáculo diferente, pois uma aurora boreal nunca é igual a outra.
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O livro traz 156 fotos, que são carregadas de histórias, pois, em cada uma delas, Marco Brotto também viveu momentos singulares. Na entrevista a seguir, o “caçador de aurora boreal” fala sobre como é correr em busca desse evento que a natureza proporciona aos olhos e ao espírito.
Como surgiu a ideia de viajar buscando imagens da aurora boreal?
Primeiramente, a minha ideia era fotografar como recordação, porque nunca estudei fotografia, sempre gostei, mas aprendi mesmo com as auroras. A fotografia foi uma maneira que encontrei de compartilhar esse momento. Quando comecei a fotografar e compartilhar os registro, essas imagens ganharam o Brasil e até outros países, por meio de versões da revista “National Geographic”, e eu comecei a gostar de verdade de fotografar. Até então, viajava sozinho ou com amigos. Passei a fazer as expedições em grupos, e foi quando a fotografia se tornou uma necessidade. As pessoas viajavam e queriam fotografar. Isso gerou um arquivo muito bacana. Agora, comemoro 10 anos de expedições e resolvi compilar estes registros por meio do livro. O interessante das fotografias do livro é que a edição é realmente apenas para dar um toque final, eu não utilizo saturação. Elas mostram efetivamente o que se vê a olho nu da aurora boreal, e é muito difícil colocar no papel e imprimir a luz do fenômeno.
No Brasil, há muitos caçadores desse fenômeno?
Existem muitos guias especializados em aurora boreal no mundo todo. Na nossa equipe, temos vários brasileiros que vivem aqui e outros espalhados por todo o Ártico. Por exemplo, a Dora Müller, que mora no Alasca, é a pessoa com nacionalidade brasileira que conheço que faz essa atividade há mais tempo, 20 anos. Tem o Fillipo Dias, que mora na Finlândia e tem somente 19 anos, é muito bacana isso.
O que significa a aurora boreal para você?
Eu respiro aurora boreal. É algo tão mágico, tão emocionante, existe uma energia tão linda, parece que purifica a gente. Acho que todas as pessoas têm algo que lhes faz sentir bem. É engraçado porque tem momentos que se sente uma fragilidade imensa vendo aquilo e, no outro, você se sente abençoado, forte e realizado.
Há o momento certo para viajar e conseguir ver o fenômeno?
A temporada de aurora boreal, quando se tem as maiores chances, é o período que vai de setembro a abril. Existe uma diferença grande nesse período se formos estudar mais meticulosamente as latitudes e longitudes, mas, a grosso modo, é isso.
Quantas vezes já viu o fenômeno? A emoção se repete?
Já fiz 82 expedições ao Ártico e em todas elas eu consegui ver a olho nu o fenômeno. Sabe que obviamente algo mais brilhante e colorido, com mais velocidade acaba emocionando mais, mas fico emocionado sempre. Já percorri todos os países do Círculo Polar Ártico várias vezes e nunca as coisas se repetem. Será que isso é amor? (risos)
Como as pessoas reagem ao ver pela primeira vez?
É muito de cada pessoa. Gritos, risos, choros... medo, contemplação. Já vi muitas coisas diferentes, reações realmente emocionantes e de encher o coração de felicidade.
Para conseguir ver a aurora boreal, fez algumas loucuras?
Qual esse parâmetro de loucura? (risos). Loucuras sempre, irresponsabilidade nunca. Estamos, na grande maioria das vezes, em lugares inóspitos, ermos e com as dificuldades que a região nos proporciona. Estamos sempre seguindo os protocolos de segurança, as leis e o bom senso. Temos limites, por exemplo, com relação ao cansaço do grupo e do staff. Mas, para ilustrar, uma vez estava no Alasca, atolamos na neve e o resgate disse que só viria de manhã, após mais de oito horas. Tínhamos comida, lenha e lugar seguro. Não insisti para que o resgate fosse imediato e contemplamos uma das mais lindas auroras que já vi.
Em quais lugares acontece esse fenômeno? É numa época específica do ano?
Os fenômenos acontecem em todos os países que o Círculo Polar corta, que são Rússia, Noruega, Finlândia, Suécia, Islândia, Groenlândia, Canadá e EUA. E pode ocorrer todos os dias, mas só é visível quando tem escuridão no Hemisfério Norte, tem que ter noite. E a época em que tem noite é de setembro até abril, porque, depois dessa fase, começa o período do sol da meia-noite na maioria desses lugares.
Além da aurora boreal, o que mais viu nessas viagens?
Ainda não vi nenhum extraterrestre. Óvnis bastante, mas, como o nome diz, objetos não identificados. Com relação à natureza, as experiências lindas estão sempre presentes – animais selvagens, tempestades de neve e temperaturas congelantes. Mas, além da natureza, o que me deixa muito emocionado é o encontro com a cultura local, suas lendas e seus costumes. O Ártico, assim como a aurora boreal, é apaixonante.
“Aurora boreal – Amor em forma de luzes e cores”
.Marco Brotto
.Edicon (220 págs.)
.R$ 349