Jornal Estado de Minas

FOTOGRAFIA

Fotógrafo brasileiro registra em livro a aurora boreal

Há 10 anos, Marco Brotto começou a realizar uma jornada que o levaria a diversos locais do planeta em busca da aurora boreal, fenômeno óptico que maravilha a humanidade com suas luzes e cores, atraindo curiosos dos mais diversos países.





Para eternizar suas aventuras pelos países do Círculo Polar Ártico, o curitibano acaba de lançar o livro “Aurora Boreal – Amor em forma de luzes e cores” (Edicon), que reúne imagens captadas desse espetáculo da natureza que ele presenciou em 82 viagens. Em cada uma delas, teve o privilégio de observar um espetáculo diferente, pois uma aurora boreal nunca é igual a outra.

Como conta o aventureiro, sua paixão por sair em busca das luzes verdes e dançantes começou em 2008 ao ouvir de um amigo como era hipnotizante tal evento. Decidido a conferir de perto, Marco partiu em uma viagem de navio para o Alasca, com a certeza de que assistiria a esse fenômeno, que o fascinou antes mesmo de conhecer pessoalmente.

Foram 10 dias de espera, com final frustrante, pois a aurora boreal não se concretizou. Depois desse episódio, e por causa dele, a vontade de conseguir observar as luzes só aumentou e ele persistiu até que o objetivo fosse alcançado. De lá para cá, comemora ter realizado expedições sempre bem-sucedidas e iluminadas pelo evento natural pelo qual tanto é apaixonado.





O livro traz 156 fotos, que são carregadas de histórias, pois, em cada uma delas, Marco Brotto também viveu momentos singulares. Na entrevista a seguir, o “caçador de aurora boreal” fala sobre como é correr em busca desse evento que a natureza proporciona aos olhos e ao espírito.

Marco Brotto diz que não usou saturação na edição das fotos e que as imagens mostram o mesmo que se vê a olho nu

Como surgiu a ideia de viajar buscando imagens da aurora boreal?
Primeiramente, a minha ideia era fotografar como recordação, porque nunca estudei fotografia, sempre gostei, mas aprendi mesmo com as auroras. A fotografia foi uma maneira que encontrei de compartilhar esse momento. Quando comecei a fotografar e compartilhar os registro, essas imagens ganharam o Brasil e até outros países, por meio de versões da revista “National Geographic”, e eu comecei a gostar de verdade de fotografar. Até então, viajava sozinho ou com amigos. Passei a fazer as expedições em grupos, e foi quando a fotografia se tornou uma necessidade. As pessoas viajavam e queriam fotografar. Isso gerou um arquivo muito bacana. Agora, comemoro 10 anos de expedições e resolvi compilar estes registros por meio do livro. O interessante das fotografias do livro é que a edição é realmente apenas para dar um toque final, eu não utilizo saturação. Elas mostram efetivamente o que se vê a olho nu da aurora boreal, e é muito difícil colocar no papel e imprimir a luz do fenômeno.

No Brasil, há muitos caçadores desse fenômeno?
Existem muitos guias especializados em aurora boreal no mundo todo. Na nossa equipe, temos vários brasileiros que vivem aqui e outros espalhados por todo o Ártico. Por exemplo, a Dora Müller, que mora no Alasca, é a pessoa com nacionalidade brasileira que conheço que faz essa atividade há mais tempo, 20 anos. Tem o Fillipo Dias, que mora na Finlândia e tem somente 19 anos, é muito bacana isso.





O que significa a aurora boreal para você?
Eu respiro aurora boreal. É algo tão mágico, tão emocionante, existe uma energia tão linda, parece que purifica a gente. Acho que todas as pessoas têm algo que lhes faz sentir bem. É engraçado porque tem momentos que se sente uma fragilidade imensa vendo aquilo e, no outro, você se sente abençoado, forte e realizado.

Há o momento certo para viajar e conseguir ver o fenômeno?
A temporada de aurora boreal, quando se tem as maiores chances, é o período que vai de setembro a abril. Existe uma diferença grande nesse período se formos estudar mais meticulosamente as latitudes e longitudes, mas, a grosso modo, é isso.

Quantas vezes já viu o fenômeno? A emoção se repete?
Já fiz 82 expedições ao Ártico e em todas elas eu consegui ver a olho nu o fenômeno. Sabe que obviamente algo mais brilhante e colorido, com mais velocidade acaba emocionando mais, mas fico emocionado sempre. Já percorri todos os países do Círculo Polar Ártico várias vezes e nunca as coisas se repetem. Será que isso é amor? (risos)

Como as pessoas reagem ao ver pela primeira vez?
É muito de cada pessoa. Gritos, risos, choros... medo, contemplação. Já vi muitas coisas diferentes, reações realmente emocionantes e de encher o coração de felicidade.




O fotógrafo conta que viu 'muitas coisas diferentes, reações realmente emocionantes' dos espectadores da aurora boreal

Para conseguir ver a aurora boreal, fez algumas loucuras?
Qual esse parâmetro de loucura? (risos). Loucuras sempre, irresponsabilidade nunca. Estamos, na grande maioria das vezes, em lugares inóspitos, ermos e com as dificuldades que a região nos proporciona. Estamos sempre seguindo os protocolos de segurança, as leis e o bom senso. Temos limites, por exemplo, com relação ao cansaço do grupo e do staff. Mas, para ilustrar, uma vez estava no Alasca, atolamos na neve e o resgate disse que só viria de manhã, após mais de oito horas. Tínhamos comida, lenha e lugar seguro. Não insisti para que o resgate fosse imediato e contemplamos uma das mais lindas auroras que já vi.


Em quais lugares acontece esse fenômeno? É numa época específica do ano?
Os fenômenos acontecem em todos os países que o Círculo Polar corta, que são Rússia, Noruega, Finlândia, Suécia, Islândia, Groenlândia, Canadá e EUA. E pode ocorrer todos os dias, mas só é visível quando tem escuridão no Hemisfério Norte, tem que ter noite. E a época em que tem noite é de setembro até abril, porque, depois dessa fase, começa o período do sol da meia-noite na maioria desses lugares.

Além da aurora boreal, o que mais viu nessas viagens?
Ainda não vi nenhum extraterrestre. Óvnis bastante, mas, como o nome diz, objetos não identificados. Com relação à natureza, as experiências lindas estão sempre presentes – animais selvagens, tempestades de neve e temperaturas congelantes. Mas, além da natureza, o que me deixa muito emocionado é o encontro com a cultura local, suas lendas e seus costumes. O Ártico, assim como a aurora boreal, é apaixonante. 

“Aurora boreal – Amor em forma de luzes e cores” 
.Marco Brotto
.Edicon (220 págs.)
.R$ 349




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