Jornal Estado de Minas

COMÉDIA

Jamie Foxx dá vexame em sua volta, após 20 anos, ao universo das sitcoms


A comédia “Meu pai e outros vexames” (Netflix) marca o retorno de Jamie Foxx ao universo das séries. Aos 53 anos e astro de Hollywood, o ator recorre ao início de sua carreira para dar vida ao pai solteiro responsável pela criação da filha adolescente após a morte da ex-mulher. O resultado, no entanto, é uma produção que abusa de piadas datadas e falha ao tratar de assuntos sérios e polêmico com pouca profundidade.





Conhecido por papéis em filmes de ação como “O espetacular Homem-Aranha 2” (2014) e “Baby driver” (2017), Jamie Foxx começou a ganhar notoriedade no cinema depois de interpretar Ray Charles (1930-2004) na cinebiografia “Ray” (2004), que lhe rendeu o Oscar de melhor ator. A partir daí, passou a atuar em filmes elogiados como “Dreamgirls” (2006) e “Django livre” (2012).

SHOW

Antes disso, o ator fez parte do elenco de “In living color”, humorístico exibido entre 1990 e 1994, responsável por lançar Jim Carrey e Chris Rock, entre outros nomes de destaque. O sucesso do programa rendeu a Foxx sua própria série. Em 1996, foi ao ar “The Jamie Foxx show”, que teve cinco temporadas.

A nova atração da Netflix representa a volta do astro às sitcoms após 20 anos. Ele dá vida a Brian, empresário solteiro e bem-sucedido que se envolve em confusões para provar que é bom pai para Sasha (Kyla-Drew). Adolescente de gênio forte e viciada no aplicativo TikTok, ela passa a morar com Brian após a morte de sua mãe.





Também orbitam o universo da dupla o pai de Brian, Pops (David Alan Grier), a irmã, Chelsea (Porscha Coleman), o policial Johnny (Jonathan Kite) e sua assistente, Stacy (Heather Hemmens). Além do protagonista, Foxx interpreta os personagens Sweet Tee, Cadillac Calvin e Rusty.

Apesar de bem-intencionada, a série é cheia de manias que ficariam muito bem se deixadas lá nos anos 1990. Foxx faz de tudo para arrancar risadas do espectador, mas o roteiro mal-escrito torna essa comédia difícil de assistir.

No primeiro episódio, intitulado “#Negrosnãofazemterapia”, Brian e Sasha estão no consultório de uma terapeuta que supõe que a dupla seja um casal. A piada, bastante sem graça, se entende por muito tempo até o ponto em que ela propõe um ménage à trois.





É engraçado como Brian é apresentado como mulherengo, mas parece não saber nada sobre mulheres, principalmente as mais jovens.

O oitavo e último episódio da primeira temporada, “#Vendotudotalvez”, aborda a violência policial contra negros, assunto bastante delicado no contexto dos Estados Unidos, onde a série foi produzida, e pautado pelo movimento Black Lives Matter. A maneira superficial como isso surge no roteiro é incômoda, ainda mais considerando que o elenco é composto basicamente por atores negros.

Em outros episódios, a produção cria oportunidades para tratar de assuntos importantes, mas não chega a aproveitá-los por completo. No sexto episódio, “#Meuchurrascoémelhor”, os personagens discutem o dia da emancipação dos escravos, mas tudo não passa de uma churrascada entre amigos.

Por que um ator gabaritado como Jamie Foxx se submete a uma produção tão abaixo de seu talento?

Corinne Foxx, filha do astro, é produtora executiva da nova atração da Netflix (foto: Matt Winkelmeyer/Getty/AFP)

VIDA REAL

“Meu pai e outros vexames” é um projeto pessoal do artista. A série criada por ele e Bentley Kyle Evans é inspirada em sua vida ao lado da filha Corinne, produtora executiva da produção.





Infelizmente, um dos vexames anunciados no título é a própria série.

Com uma carreira tão prolífica como a de James Foxx, é possível que esta sitcom passe despercebida – ainda mais no catálogo da Netflix, atualizado semanalmente.

Aliás, o ator já tem outros projetos a caminho. Vai interpretar Mike Tyson em minissérie produzida por Martin Scorsese. A informação foi dada pelo boxeador à agência France Presse. A data de estreia ainda não foi definida.

“MEU PAI E OUTROS VEXAMES”
• Série com oito episódios, disponível na plataforma Netflix

audima