Jornal Estado de Minas

CINEMA

Candidato bósnio ao Oscar de Melhor Filme Internacional estreia no Brasil

Até julho de 1995, a Guerra da Bósnia (1992-1995) já havia resultado em milhares de mortes. Limpeza étnica, estupros em massa, campos de concentração, essa era a política de Slobodan Milosevic (1941-2006), então presidente da Sérvia, para fazer com que todos os sérvios – espalhados pelas repúblicas da antiga Iugoslávia – vivessem em um mesmo país. Mas o pior estava por vir.





Representante da Bósnia que concorre ao Oscar de filme internacional, “Quo vadis, Aida?”, que estreia nesta terça (20/4) nas plataformas de streaming, trata do pior genocídio na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Entre 11 e 25 de julho de 1995, 8.373 bósnios muçulmanos, a grande maioria homens (de adolescentes a idosos), foram mortos em Srebrenica, pequena cidade montanhosa da Bósnia. 

O local, havia dois anos, era considerado área segura – estava sob a proteção da Organização das Nações Unidas. Mas naquele que é considerado um dos maiores erros da história da Organização das Nações Unidas (ONU), nada conseguiu impedir que o Exército Bósnio da Sérvia, sob o comando do general Ratko Mladic (hoje cumprindo prisão perpétua por crimes de guerra), cometesse o massacre.

Jasmila Zbanic é uma cineasta bósnia cuja filmografia versa sobre o conflito na região – seu filme mais conhecido até então era “Em segredo” (2006), que acompanha uma mãe solteira e a filha adolescente na Sarajevo do pós-guerra e venceu o Urso de Ouro em Berlim. 





Desta vez, ela colocou todo o peso do filme em cima de uma personagem. A ação tem início em 11 de julho. Aida (Jasna Djuricic) é uma professora de Srebrenica que se tornou tradutora da ONU durante a ocupação. Trabalha junto à Força de Proteção das Nações Unidas, então formada pelos “capacetes azuis” holandeses. 

FUGA 

Quando o Exército sérvio, junto a grupos paramilitares, invade a cidade, a população só tem dois caminhos: fugir para a floresta ou tentar se abrigar na base da ONU. Algumas centenas conseguem entrar; milhares ficam de fora.

Aida, que naquele momento de extrema tensão tem acesso às informações das negociações, precisa se dividir. De um lado, tem que atuar como tradutora e, do outro, tentar salvar a família, formada pelo marido e dois filhos adolescentes. 





O que as horas vão mostrando é que não há muito o que fazer, nem tampouco o que tentar salvar. Quo vadis, Aida? (Para onde vais, Aida?) é a pergunta que ronda a tradutora durante todo o tempo. 

No campo da ONU, a crise é crescente, pois logo fica claro que o mundo não estava olhando para Srebrenica. Com poucos homens e armas e sem combustível, o chefe da missão militar não consegue contato com seus superiores – era julho, boa parte do alto escalão estava em férias. É forçado a ter um encontro para tentar negociar com Mladic – o que fica claro, logo no início da reunião, é que aquilo era puro teatro.

AFETO 

No campo, Aida tenta fazer o que pode. O calor, a falta de comida e banheiros, as pessoas amontoadas, o que resta é esperar. Finalmente, com marido e filhos ao seu lado, ela acredita ter um momento de respiro – a lembrança do aniversário do caçula, dali a dois dias, é motivo de um raro momento de afeto entre os quatro, logo interrompido pelo vizinho que tentava dormir no mar de gente.

As boas lembranças da vida anterior, agora tão distante, chegam para Aida quando ela tem uma pausa para descanso com seus colegas no campo. Mas a situação logo sai do controle, a força da ONU não tem nenhum poder e entrega o jogo. À tradutora só resta tentar salvar a si e aos seus. É o olhar que Jasna Djuricic imprime à personagem que conduz seu drama – espanto, dor, raiva, desespero, até se tornar um grande vazio diante da tragédia.





O Massacre de Srebrenica tornou-se o símbolo maior de uma guerra para a qual o mundo só acordou quando já era tarde demais. Seus fantasmas permanecem. Vinte e seis anos depois, mais de mil corpos não foram identificados – os cadáveres foram jogados em valas coletivas e sua identificação, via DNA, só teve início em 1999. 

Muitos sérvios, inclusive políticos, negam o genocídio. Só se produz um longa-metragem na Bósnia por ano. Foram precisos vários para que Jasmila Zbanic conseguisse realizar o filme, uma coprodução da Bósnia com outros oito países. 

QUO VADIS, AIDA?
O filme de Jasmila Zbanic estreia nesta terça (20/4) no Now, Vivo Play, Sky Play, iTunes, Apple TV, Google Play e YouTube 

Assista ao trailer:


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