Muitas coisas unem os quatro integrantes da banda paulistana Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo. Entre elas está a música, registrada no disco homônimo recém-lançado pelo selo RISCO. Antes disso, a principal afinidade do quarteto era a paixão pelo palco, onde o grupo estreou no início de 2019, durante show no Rio de Janeiro.
Porém, a vida mudou bastante e obrigou a banda a transportar as apresentações ao vivo para o ambiente virtual. Nesta quinta-feira (22/4), às 20h, ela abre a programação do “Palco virtual”, do Itaú Cultural, com show on-line via plataforma Zoom.
Desde o início da pandemia, é a primeira vez que Sophia Chablau, Téo Serson (baixo), Theo Ceccato (bateria) e Vicente Tassara (guitarra e teclados) se reúnem para tocar ao vivo. Pensada como uma forma de apresentar o álbum de estreia da banda, a transmissão será dirigida pela cineasta Daniela Thomas, mãe de Vicente. O público ouvirá o repertório na íntegra, com direito a quatro inéditas.
“Durante um ensaio, cheguei para a Dani e falei que não tinha a menor ideia de como cantar para a câmera”, conta Sophia. “Ela me disse: 'A câmera é como o olho de alguém. Você não está cantando para a câmera, está fazendo isso para o olho de alguém'. Desde então, me sinto mais confiante, porque o show é para as pessoas. A gente quer passar essa energia de união, além de oferecer um produto audiovisual lindo.”
CONVITE
E energia esse quarteto tem de sobra. Divertidos e entusiasmados, os quatro músicos, que têm entre 21 e 23 anos, se conheceram quando Sophia Chablau foi chamada para fazer um show no Rio. Sem banda para a apresentação, ela convidou os três amigos que formavam o grupo Enorme Perda de Tempo.
“Esse nome surgiu depois de uma aula sobre Adorno e Proust. Quando a gente ainda estava pensando em qual nome dar para a banda, chegamos à conclusão de que nosso encontro era a maior perda de tempo, no sentido de ócio criativo. É algo produtivo e improdutivo ao mesmo tempo. Falei para os dois e todo mundo achou que fazia muito sentido”, explica Vicente.
Depois que se tornou Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, a banda recebeu a bênção da cantora e compositora carioca Ana Frango Elétrico, que viu no show dela material para um disco inédito.
“Foi tudo muito rápido. Depois da primeira apresentação, a gente já tinha outras marcadas”, lembra Téo Serson. “A alma do disco nasceu dessa colisão inicial que rolou em janeiro de 2019. Tivemos 10 dias para montar o show. Fizemos tudo meio com pressa, mas a brisa criada ali é o que a gente reproduziu, de certa forma, na gravação”, acrescenta Sophia.
Gravado em outubro de 2019, o disco estava quase pronto quando a Organização Mundial da Sáude (OMS) decretou a pandemia do novo coronavírus. Naquela época, o cartão de visitas da banda era o single “Idas e vindas do amor”, lançado na trilha sonora do filme “Acqua movie” (2019), de Lírio Ferreira.
Impossibilitados de fazer show ou mesmo de se encontrar, os quatro decidiram adiar o trabalho para momento mais oportuno. Porém, o baque foi bastante dolorido, tanto no bolso quanto na relação entre os músicos.
“A gente juntou dinheiro para o disco fazendo shows. Então, foi um grande impacto financeiro no primeiro momento, porque somos banda de casa de shows. Não importa o que acontecesse, a gente sempre tinha um show marcado. Em 2019 foi assim”, diz Sophia.
GOVERNO
O confinamento imposto pela pandemia foi um complicador. “Nos encontramos muito pouco ao longo de 2020. Nós quatro temos uma relação muito íntima e próxima. Mentalmente, está todo mundo muito abalado. Não só por conta da pandemia, mas por causa do governo. Tá tudo muito horrível”, completa a cantora.
O disco “Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo” traduz bem o que é ser jovem em plena segunda década do século 21, tendo de lidar com a falta de perspectiva em relação ao futuro. O quarteto garante que isso não foi intencional. “Há uma melancolia, uma nostalgia no ar”, comenta o baterista Theo Ceccato. “É interessante como as músicas brincam com a realidade, que também opera nas músicas.”
De acordo com Sophia, autora da maior parte das letras, “o sofrimento que às vezes aparece nas músicas também é vitalidade, no sentido de que a gente é contra essa juventude blasé e apática. Também há uma agitação ali. Todas as músicas, por mais profundas e tristes, têm o intuito de movimentar.”
Téo avisa: é movimento no sentido amplo. Por isso, as faixas “Pop cabecinha”, “Moças e aeromoças” e a ótima “Delícia/luxúria” são dançantes, enquanto “Fora do meu quarto” e “Deus lindo” fazem pensar.
Na melancólica “Se você”, a banda mostra habilidade para criar música etérea, tanto na letra quanto no instrumental. Já na divertida “Hello”, eles flertam com a bossa nova feita em guitarra e brincam com a letra em inglês e português. “Debaixo do pano” e “Se eu fiz pra você uma não canção eu não podia” completam o álbum.
Intencionalmente enxuto, o disco da banda, com 22 minutos, traz nove faixas. Portanto, a “perda de tempo” que o quarteto propõe não é tão “enorme” assim, mas bastante proveitosa e bem-feita.
Em entrevista realizada pela plataforma Zoom, os quatro fizeram mistério em relação às quatro inéditas que serão apresentadas na live de hoje. Mas Téo Serson entregou: elas fazem parte do projeto que a banda já começou a desenvolver. Não explicou se é disco, EP ou outro formato. Mas vale ficar atento. Nasce uma banda que tem muito a oferecer.
“SOPHIA CHABLAU E UMA ENORME PERDA DE TEMPO”
Disco da banda Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo
Nove faixas
Selo RISCO
Disponível nas plataformas digitais
Live de lançamento nesta quinta-feira (22/4), às 20h, no Itaú Cultural. Reserva de ingressos pelo Sympla.